Por trás da aquisição de US$ 12,5 bilhões da Motorola Mobility Holdings Inc. pelo Google Inc. está o engenheiro do Vale do Silício Andy Rubin, que em seis anos reordenou o mercado de celulares e deu à gigante de internet uma posição central nesse segmento. Rubin, de 48 anos, mudou a estrutura organizacional do Google e se tornou uma das pessoas mais poderosas na empresa. Sob sua liderança, o sistema operacional Android se transformou no software mais utilizado em smartphones – ultrapassando as criações da Apple e da Nokia Corp. – e que opera também os tablets de muitas companhias.
O sucesso de Rubin possibilitou que o motor de buscas e o negócio de anúncios digitais do Google se espalhassem rapidamente pelo mundo da telefonia móvel. Rubin também influenciou a contratação de talentos para o Google, incluindo Andy Hertzfeld, ex-programador da Apple que ajudou a desenvolver o Google+, o site de relacionamento social da empresa. Quando Larry Page, cofundador do Google, assumiu o cargo de diretor-presidente em abril, Rubin foi promovido para ser um dos 18 vice-presidentes. Sua estrela continuou a brilhar, culminando com o envolvimento pessoal dele no acordo fechado na segunda-feira com a Motorola Mobility Holdings Inc., disse uma pessoa a par do assunto.
Pessoas próximas ao negócio dizem que uma das motivações do Google era a de desenvolver aparelhos, não apenas o software para o funcionamento dos celulares, ganhando assim o mesmo tipo de influência que a rival Apple desfruta com o iPhone e o iPad. Esse é um dos pontos fortes de Rubin, que por anos desenvolveu aparelhos para empresas em estágio inicial. Uma delas foi comprada pela Microsoft Corp. em 1997, mas o projeto acabou não indo para frente.
O Google não autorizou que Rubin fosse entrevistado.
O grande projeto secreto
Segundo colegas, Rubin é um reformador inveterado, que tenta antecipar as mudanças na indústria mas que também adora detalhes, tais como escrever código fonte. Eles também dizem que Rubin é um chefe exigente e às vezes difícil de trabalhar, o que levou a uma grande rotação na equipe do Android. Pessoas de outras empresas do mercado de telefonia celular argumentam, nos bastidores, que Rubin exerce muita influência sobre o design dos aparelhos de fabricantes que utilizam o software Android. Mas esses colegas também dizem que Rubin é leal e generoso com sua equipe, composta por centenas de funcionários. A cada seis meses, ele dá uma festa para os empregados em sua casa que, assim como a sede do Google, fica em Mountain View, na Califórnia. Depois que o primeiro telefone Android foi lançado no fim de 2008, resultando num aumento multimilionário no contrato de Rubin, o executivo distribuiu uma porção do dinheiro em forma de bônus para toda sua equipe – o primeiro desse tipo no Google, segundo uma pessoa a par do assunto. Os empregados receberam de US$ 10.000 a cerca de US$ 50.000, disse essa pessoa.
Steve Perlman, amigo próximo e colega do executivo do Google desde a década de 80, quando ambos trabalhavam na Apple, disse que a fabricação de robôs é o passatempo favorito de Rubin. Nascido no estado de Nova York, Rubin encheu sua casa no Vale do Silício com robôs. (O nome da empresa que ele vendeu ao Google em 2005 – Android Inc. – reflete sua paixão por robôs.) Depois de trabalhar muito tempo na criação de telefones, ele iniciou as operações do Android em 2003, mas teve dificuldade em conseguir financiamento. Em um ponto, precisou pegar dinheiro emprestado de Perlman para pagar o aluguel do escritório.
O Android atraiu a atenção do Google, em parte, porque Rubin havia se encontrado antes com os fundadores do Google, Page e Sergey Brin, que eram fãs de um telefone chamado Sidekick, que Rubin havia ajudado a desenvolver enquanto comandava uma outra empresa jovem, chamada Danger. Entre 2005 e 2007, o Android era um grande projeto secreto do Google. Sua missão: criar um sistema operacional moderno para smartphones que permitiria o uso de poderosos aplicativos de internet e quebraria o domínio das operadoras de telefonia celular, que então ditavam quais ferramentas seriam usadas em seus aparelhos.
“Plataforma aberta para celulares”
Ao contrário da Microsoft, que cobrava taxas dos fabricantes de celulares que usassem seu sistema operacional móvel, o Google planejava distribuir o Android de graça, com a ideia de que poderia conseguir retorno sobre o investimento com os anúncios online nos aparelhos. O plano de desenvolvimento de código aberto do Android também possibilitou que programadores fora do Google ajudassem a aperfeiçoar o software. Em 2007, Rubin, com cerca de 100 engenheiros trabalhando sob seu comando, começou a negociar com parceiros a criação do primeiro telefone Android, ao mesmo tempo em que o Google desenvolvia aplicativos móveis, como um motor de buscas e mapas, para o ainda secreto iPhone, que não seria lançado antes em junho daquele ano.
Em meados de 2007, Rubin teve que rever seus planos quando a LG Electronics Co. desistiu de um acordo para fabricar o primeiro aparelho Android, disse uma pessoa a par da situação. Rubin procurou então a pouco conhecida HTC Corp., que havia desenvolvido um telefone para a Microsoft. Ele também fechou uma parceria com a operadora T-Mobile USA, que ofereceu planos de telefonia para o celular, e também com a Qualcomm Inc., que forneceu os microprocessadores para o aparelho.
Com o lançamento do iPhone, a Apple se tornou uma grande concorrente no mercado, mas também estimulou a demanda pelo Android. As fortes vendas do iPhone levaram a uma corrida das fabricantes de celulares para o software do Google, por causa da dificuldade dessas empresas em criar seus próprios sistemas operacionais. Em novembro, a Samsung Electronics Co., a Motorola e a LG assinaram acordo para integrar a “plataforma aberta para telefones celulares” do Google, um consórcio de mais de 30 fabricantes de aparelhos, operadoras e empresas de aplicativos, que se comprometeram a ajudar a desenvolver celulares para o Android.
A “bagunça” das várias versões
Quando perguntado sobre sua reação à aliança, o presidente da Microsoft, Steve Ballmer, gargalhou durante uma conferência de imprensa em Tóquio. “Temos muitos, muitos milhões de clientes”, disse. “Eles são bem-vindos ao nosso mundo.” (A Microsoft agora tem uma parcela bem pequena dos sistemas operacionais para smartphones.)
A equipe de Rubin se deleitou quando o diretor-presidente da Apple, Steve Jobs, afirmou durante uma teleconferência no fim de 2010, que o Android era problemático porque clientes e fabricantes de aplicativos como a TweetDeck tinham de lidar com a “bagunça” das várias versões do software. Em um post em seu blog, no entanto, o diretor-presidente da TweetDeck, Iain Dodsworth, defendeu o Android, dizendo que o sistema não era difícil de trabalhar (colaborou Nick Wingfield).
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[Amir Efrati é jornalista do Wall Street Journal]