A interdependência veio para ficar e já está alterando, há algum tempo, a relação entre os países. Tendências como os fluxos migratórios, problemas ambientais e crises financeiras têm passado por cima das fronteiras, demonstrando até pouco respeito à independência de cada país. Uma crise num mercado se alastra rapidamente para outro e, portanto, aumenta a necessidade de coordenação entre os países. Acordos financeiros globais são negociados em Basileia, acordos ambientais, em Kyoto e em Copenhague, e negociações sobre fluxos migratórios são tratadas entre blocos econômicos, quando não através de (frustradas e frustrantes) construções de muros.
A independência de um país para definir o destino dentro dos seus domínios está sendo cada vez mais abalada pela interdependência que se sobrepõe. Os governos não estão aparelhados para lidar com essa crescente onda de problemas supranacionais e só agora começam verdadeiramente a buscar novos caminhos, pressionados pelos novos tempos. A notícia é que a interdependência será cada vez maior, goste-se ou não. Com 5,3 bilhões de celulares no mundo e com cerca de 2 bilhões de pessoas conectadas pela internet (dados da União Internacional de Telecomunicações), a comunicação está mais rápida do que nossos padrões de conhecimento conseguem compreender. Isso impacta a todos, mas se dá de forma mais acentuada, claro, entre os jovens.
Transparência e interdependência
Um fato recente que tem chamado muito a atenção é o que está acontecendo em vários países do mundo árabe. Não vou explorar o aspecto político, mas destacar o papel dos jovens na mobilização da sociedade pelas redes sociais. Foi com esse mecanismo pouco estruturado, mas muito eficiente, que concentrações enormes foram articuladas. Da forma como estão organizados, os governos também não estão conseguindo compreender e muito menos controlar essa rede de informações. É tudo muito rápido e muito fluido. Os tempos do que se chamava de ‘comando e controle’ estão ficando para trás. Caso recente e ilustrativo é o de alguns congressistas de países ocidentais que ficaram perplexos com os acontecimentos no mundo árabe. O foco dessa perplexidade, porém, não é no que aconteceu em si, mas em como lidar com essa nova situação em que a informação sobre as mobilizações chega diretamente a eles e a todos, via redes sociais, antes mesmo que seus sofisticados serviços de informação secretos tenham tido tempo de saber, entender e interpretar.
O fenômeno das redes sociais impacta também as empresas e, por conta disso, elas precisam aprender a tratar com novas mídias dentro de casa (blogs) e nas relações com o mercado (Facebook, internet, blogs e Twitter). A fonte de notícias não é mais somente a mídia tradicional. Além de TVs, jornais, revistas e rádio, a divulgação das informações também já está definitivamente online, pulverizada e democratizada. Novos tempos. Muitos hábitos dos jovens também estão mudando por conta disso e sua fonte de informações é muito diversa. Por exemplo, no caso de produtos e serviços, os jovens se informam não só pela propaganda dos anunciantes, mas querem saber pelas redes sociais o que seus amigos acham da experiência que tiveram com determinado produto ou serviço.
Difícil dizer quais serão as implicações de todas essas mudanças. Arrisco-me, porém, a dizer que serão mudanças muito positivas, pois teremos mais transparência, mais participação, mais engajamento. Vejo os jovens do mundo inteiro ávidos por serem protagonistas desse mundo interdependente, contando agora com um instrumento de comunicação e participação – as redes sociais – que é formado por eles, consolidando, agora, sim, a aldeia global. Com a boa-nova de que esses jovens estão conectados de maneira mais intensa e com consciência social e ambiental maior do que a geração anterior.
O mundo já está e ficará ainda mais transparente e interdependente. E isso é uma excelente notícia.
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Administrador de empresas, presidente do conselho de administração do Banco Santander