Com as comemorações dos 200 anos da vinda – fugindo de Napoleão – da família real portuguesa para o nosso território – na época, deles! – parece que, de fato, neste ano da graça de 2008, celebramos o verdadeiro (re)descobrimento do Brasil. Tantas são as efemérides bicentenárias – das Faculdades de Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro, do Comércio Exterior, da Abertura dos Portos, do Banco do Brasil, do Ministério da Fazenda, do Jardim Botânico, do Corpo dos Fuzileiros Navais, da Justiça Militar da União… Por aí vai. Mas também deve ser saudado o bicentenário de uma instituição fulcral para a sociedade nacional – importante para a consolidação do que se pode chamar de cidadania e transparência: a imprensa brasileira.
O marco inicial de nossos meios de comunicação social data deste mesmo 1808, quando passou a circular, em 1º de junho, o Correio Braziliense, editado em Londres por Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça, aliás Hipólito da Costa, gaúcho da então gaúcha Colônia de Sacramento, hoje território uruguaio. Até 1999, o Dia da Imprensa era comemorado em 10 de setembro, em referência à Gazeta do Rio de Janeiro. Dom João VI aportou em 22 de janeiro de 1808 na Bahia, assinou a Carta Régia abrindo os portos brasileiros às nações amigas e, entre outras providências, depois de instalado no Rio de Janeiro, criou também – mais tarde – este (a Gazeta), que era o jornal oficial da Corte.
Cada vez mais pujante
Pois o primeiro jornal brasileiro não-oficial – o Correio – era impresso em Londres, onde Hipólito estava refugiado, escapando da prisão, com o auxílio da maçonaria – que diziam estar difundindo em Portugal.
Dizem também os historiadores que se constituiu na mais completa tribuna de análise e crítica dos cenários político e econômico português e brasileiro até 1822, ano em que foi encerrada a sua publicação. A marca voltaria em 1960, em Brasília (DF), intitulando um dos jornais do grupo Diários e Emissoras Associados, ainda do então poderoso paraibano Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, o Chatô.
Mas desde 1808, muito pode ser contado da evolução da imprensa tupiniquim, que engatinhou nos moldes das prensas de Johannes Gutenberg, porém registrou um crescimento vertiginoso no período, em especial nas últimas décadas deste bicentenário, ora saudado em loas. Passou o Império, veio a República, ditaduras, guerras de secessão e revoluções, períodos de democracia e ditadura. E nossos jornais seguiram trilhando o caminho de registro impresso da história.
Para quem já ouviu o vaticínio do fim dos tempos ao jornalismo impresso, em decorrência do surgimento e aperfeiçoamento de outras mídias eletrônicas – rádio, TV e internet, com sua instantaneidade –, o que se comprova é que, no Brasil, a imprensa escrita e, como tal, toda a mídia, segue cada vez mais pujante.
Redescobrindo o Brasil
Apesar de apenas 45 em cada mil brasileiros comprarem jornais diariamente, em contraposição aos japoneses, onde há 633 leitores para cada mil habitantes, segundo dados da Associação Mundial de Jornais (WAN, na sigla em inglês), o jornalismo impresso não pode se queixar.
A circulação dos 92 jornais filiados ao Instituto de Verificação de Circulação (IVC) aumentou mais de 10% em 2007, chegando à média diária de 4,14 milhões de exemplares distribuídos. Acompanha, pois, o fenômeno mundial, também atestado pela Wan, que indica crescimento de 9,95% na circulação mundial dos jornais entre 2000 e 2005.
A par disto, as garantias e liberdade individuais em evolução, o desenvolvimento das tecnologias de informação e a aculturação do povo têm exigido e contribuído para a melhora do nível, a agilidade e a qualidade da informação que chega aos consumidores e cidadãos. A despeito de ainda padecer com uma legislação retrógrada para o setor e alguns episódios isolados de atentados à liberdade de expressão, permanentemente vigiados, combatidos e denunciados, o bicentenário da imprensa nacional deve, com certeza, ser bem comemorado. Mesmo que, com isto, mostremos que estamos, de novo, redescobrindo o Brasil. O impresso bicentenário Brasil. Pela imprensa…Escrita, falada e televisada, como diziam antanho…
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Jornalista, diretor da Associação Riograndense de Imprensa