Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O novo perfil do consumidor de notícias

Em 1984, o termo ‘informívoros’ apresentava seus primeiros passos concretos para uma nova caracterização da humanidade. Foi formulado depois dos estudos do psicólogo canadense Zenon Pylyshyn, especialista em ciência cognitiva que observava, nesse período, que o comportamento humano pela busca de informações se assemelhava ao da busca por alimentos. Daí cunha-se o significado que atualmente a terminação apresentada leva: informívoros são aqueles seres que estão em uma consumação constante e frenética por informações, conteúdo informativo como livros, pesquisas acadêmicas, documentários, publicações impressas e todo e qualquer material que é gerado pelo e sobre o conhecimento do homem.

Tal denominação não advém de uma simples mutação do comportamento humano. Diversos acontecimentos históricos ligados à existência do homem foram determinantes para que chegássemos a um período chamado de ‘Era da Informação’, onde após a Revolução Industrial e de todos os aparatos tecnológicos informacionais que se desenvolveram a partir desse contexto, foi possível a consolidação do informacionalismo, uma nova base de poder material e tecnológica que reformulou todos os conceitos das relações econômicas e sociais.

As possibilidades da multimídia

É exatamente o surgimento do informacionalismo e do advento da web 2.0 que impactam diretamente o modo de como o jornalismo tradicional deve ser produzido, como deve ser pensado e ‘entregue’. Não mais produzimos para massas homogêneas, públicos sem definições específicas ou características particulares. O informacionalismo trouxe uma gama de conteúdo e acesso tão amplo ao mundo das informações e, principalmente, ao das notícias em tempo real, que todo o público-alvo da imprensa comum passa da simples estatística para ser um consumidor informacional, informívoro, ávido por informação diversa, com qualidade e em uma escala de tempo e caracterização local-global nunca antes imaginada nos meios de comunicação.

Se antigamente os grandes meios detinham o poder de ditar os fatos e acontecimento que deviam ou não ter importância, a web passou como um rolo compressor em cima dos modos e maneiras convencionais de como entregar até o consumidor final a notícia.

Aliás, os tradicionais gráficos de emissor, mensagem e receptor foram substituídos por um emaranhado labirinto onde a informação viaja em uma relação de espaço e tempo para uma proporção planetária de consumidores jamais vista.

Tão importante quanto saber lidar com todas as novas ferramentas digitais e mídias sociais, é saber lidar com esse novo público consumidor de conteúdo. As maneiras de como o jornalismo on-line deve incorporar todas as possibilidades multimídias que a web 2.0 oferece é um enorme desafio para uma necessária revolução na maneira de se produzir jornalismo no mundo.

Público-alvo 2.0 já mudou

Entretanto, é fundamental também lidar com as centenas de faces que os públicos assumem. Ativismo, partidarismo, fundamentalismo ou opções sexuais são temas que rapidamente se espalham pela internet. Como o jornalismo deve trabalhar com isso é uma das questões primordiais para a era pós iPad, mas trabalhar como ‘entregar’ a informação é um trabalho muito mais árduo e fundamental.

Não há mais a produção ‘fordista’ de notícias, assim como não há mais a relação emissor (empresa) e receptor (consumidores). Hoje temos emissores-receptores e receptores-emissores, pois toda vez que alguém na web 2.0 recebe uma informação, imediatamente a repassa de maneira diferenciada, ou seja, todos são emissores e receptores, e a partir de um momento que uma notícia é criada, centenas de milhares de ramificações surgem baseadas nela. A mensagem, agora, passa a ser vista sempre no plural e em proporções praticamente infinitas.

O que resta é saber quando e como os grandes meios irão entender toda essa nova estruturação. Em um curto espaço de tempo a mídia irá ter que reformular a maneira de como produz informação, como divulga, para quem divulga, como será feita os balanços publicitários, o investimento e o controle sobre seus públicos.

Sabemos que o jornalismo tem ciência de que o digital radicalmente mudou sua existência, mas ainda não sabemos se a imprensa, quando começar todo seu processo de reformulação, irá perceber que já será tarde, pois o público-alvo 2.0 de notícias já mudou, de novo. E sempre irá continuar mudando.

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Jornalista, blogueiro, pós-graduado em Assessoria de Imprensa, Gestão da Comunicação e Marketing e pós-graduando em Política e Sociedade no Brasil Contemporâneo, São Paulo, SP