Talvez não haja precedente no caso do senador José Sarney, ‘homenageado’ com um perfil arrasador na edição passada da revista britânica Economist. A escolha de Sarney para a presidência do Senado, segundo a revista, representa uma vitória do semifeudalismo. A resposta de Sarney, publicada na edição desta semana da revista, é tíbia. Ele não demonstra ter ficado indignado com as críticas. E a imprensa nacional também faz de conta que não leu os trechos mais graves do impiedoso retrato que faz do presidente do Congresso brasileiro a publicação britânica. (L.M.C.)
A edição do Economist que está nas bancas brasileiras traz a resposta do senador José Sarney às contundentes críticas que recebeu na edição anterior.
O ex-presidente brasileiro foi chamado de dinossauro da política, dono de feudo eleitoral, responsável pela calamitosa situação do Maranhão e da sua capital, São Luiz, e respondeu de forma tíbia, convencional, tentando igualar-se às grandes figuras da política inglesa como Churchill, Lloyd George e Disraeli.
Nenhuma palavra ou tentativa de explicação sobre uma das mais graves acusações do Economist: a de aproveitar-se do seu poder como parlamentar para obter concessões de radiodifusão e assim tornar-se um dos mais poderosos coronéis eletrônicos do país.
Sarney preferiu passar ao largo das evidências. Mesmo porque a repercussão das críticas do Economist na imprensa brasileira deixou de lado a questão das concessões ilegítimas. É claro: nossa mídia não discute os problemas da mídia, apenas suas modas. E Sarney sabe disso.
O senador Jarbas Vasconcelos também sabe, por isso não mencionou a promíscua distribuição de concessões aos congressistas na arrasadora entrevista à Veja. Se tocasse no assunto-tabu, suas denúncias seriam esquecidas um dia depois.
Leia também
Sobre lagartixas e dinossauros – A.D.
A oligarquia eletrônica – A.D.
O coronelismo eletrônico sem controle – Henrique Costa