Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Twitter quer ser grande

O atual presidente do Twitter, Dick Costolo, promete transformar o microblog no próximo gigante da mídia na web. O site, apesar de muito popular, ainda é um nanico quando comparado às maiores companhias da web. Com todo o crescimento deste ano, vale pouco mais do que 4 bilhões de dólares. O que não é muito, quando comparado com a Apple, por exemplo, que vale cerca de 330 bilhões de dólares, segundo a Nasdaq.

O Twitter, mesmo assim, é muito popular. É o preferido dos editores, jornalistas, artistas e humoristas. De todos que querem transmitir alguma coisa. Costolo quer se aproveitar disso e de novas estratégias de negócios e marketing para fazer crescer a companhia. No dia 9 de setembro, o Business Insider publicou matéria onde isso fica muito claro. O Twitter cresceu e:

** “Tem 100 milhões de usuários ativos. A metade frequenta o site diariamente”;

** “40% dos usuários ativos não `tuítam´, portanto há espaço de sobra para crescimento”;

** “Está focado em propaganda como seu modelo de negócios”;

** “Já tem 400 milhões de acessos por mês (contra 150 milhões do início do ano).”

Inventário de anúncios

“O Twitter é basicamente televisão, neste ponto”, explicou o Business Insider:

“Contrastando com as redes sociais, a maioria das pessoas está aqui para seguir marcas, artistas e eventos que eles gostam, não para interagir com seus amigos… e vão continuar a fazer isto, mas com interrupções comerciais.”

A analogia com a televisão é importante porque em ambas as mídias o público segue o que gosta. Acompanha suas preferências. Por essa característica, o Twitter está muito mais próximo da TV do que de uma rede social convencional. O Business Insider acredita na expectativa do site em tornar-se a “próxima grande companhia de mídia na web”.

O primeiro passo para essa realização foi o fortalecimento dos anunciantes, já que a maior parte da futura renda projetada virá deles. O microblog prometeu fazer isso sem entupir as páginas dos usuários com propaganda: o site tem um número tão grande de frequentadores ativos que basta um número pequeno de tweets para alguns deles para “criar um considerável inventário de anúncios”, garantiu Costolo ao Adweek online (8/9).

Os tweets pagos de marcas e produtos, que antes só poderiam ser enviados a seguidores destes, agora poderão ser transmitidos a qualquer usuário. O que também deverá reforçar a receita que vem dos anunciantes e ao mesmo tempo garantir a independência do Twitter, em termos de capital. Só resta uma dúvida: será que os usuários vão gostar de receber tweets de anunciantes que eles não seguem?

Presença mais significativa na TV

Outra iniciativa importante foi o lançamento de ferramentas próprias de controle de tráfego na web (o “Twitter web analytics”), anunciado na terça-feira (13/9) pelo site Mashable, especializado em mídia social. Este tipo de instrumento “ajudará editores e donos de websites a entender três coisas fundamentais: o quanto de seu conteúdo está sendo compartilhado no Twitter, qual o tamanho do tráfego que o microblog envia a eles e o desempenho dos ‘botões’ do Twitter”. Em outras palavras, a ferramenta fornece dados aos donos de sites de marcas e produtos “sobre a efetividade de sua integração” com o microblog, explicou Mashable.

O instrumental de medidas de tráfego não serve só a anunciantes comerciais de produtos: é muito útil para ampliar as possibilidades do Twitter como “transmissor de conteúdo de jornais, redes de televisão e outros atores da mídia”, apontou o informativo virtual Gigom, no mesmo dia 13/9. “Medir o impacto de um tweet vem se tornando mais importante para que companhias possam mostrar que passar um tempo no Twitter tem um real valor de negócios, em termos de condução de tráfego e engajamento”, complementou o site.

Depois de garantir a receita dos anunciantes e aumentar seu arsenal de ferramentas de controle de tráfego, a etapa seguinte foi ampliar o papel de produtor/exibidor de conteúdos de mídia do Twitter – como shows e seriados produzidos para televisão. O Twitter Media precisava de um grande nome da TV para alavancar sua posição na telinha. Desta vez, Costolo teve que contar com o poder do acaso para alcançar uma presença mais significativa do microblog na televisão. Algo de grande impacto.

“Mago da insanidade”

O ano não tem sido bom para os comediantes nos Estados Unidos. A Comedy Central, uma central de TV paga especializada em comédias de situação, andava pensando em novos canais e meios para transmitir sua programação. Estava à procura de maior interatividade para seus shows, principalmente seus famosos roasts (tostados, neste caso), um programa em que celebridades e artistas têm suas vidas reviradas em público, com muito humor, por um pequeno grupo de convidados, liderados por um apresentador – quase sempre um humorista.

Depois de assistirem Donald Trump ser “tostado” no Twitter, os executivos da Comedy Central notaram que o movimento na web foi enorme: muita gente a “tuitar”, o público a interagir com as celebridades online pelo microblog e um considerável volume de tráfego. Decidiram, então, partir para a mídia social para reforçar seu público e aumentar a participação da audiência. Acabaram por criar um “ambicioso experimento em mídia social”, publicou a Mashableno dia 15 de setembro: convidaram o ator e comediante Charlie Sheen (famoso por sua vida alucinada e seu humor mordaz) para ser “fritado” no show, e depois criaram um painel interativo para o programa no site da Comedy Central. O mesmo permite ao público interagir com o programa através dos links do Twitter #SheenRoaste #CrazyTrain.

A gravação da sessão de humor do “Grande Mago da Insanidade” na Comedy Central foi um sucesso, confirmou a Reuters, no dia 16 de setembro. Danilo Gentili, humorista brasileiro, concorda. Ele foi contratado pela Globo e pela Band para assistir à sessão (que aconteceu no dia 10) e entrevistar os participantes, informou a Revista da TV do Globo online. E anunciou que vai levar ao ar sua conversa com Charlie no programa Agora é Tarde, na Band, na terça-feira (20/9).

Um lugar entre as grandes

O programa começa dia 19 na TV americana e termina no Twitter. No Brasil, só em 2012… O painel interativo vai garantir a participação não só dos usuários do Twitter, mas de qualquer um que use os links próprios do show. A convergência de mídias promete muito sucesso e diversão. Apesar da ideia ter sido da rede de TV, ela depende da força do Twitter como transmissor e comunicador para ser bem-sucedida. Ponto para Costolo e seu sonho de um Twitter maior. Muito maior.

Jack Dorsey, criador e ex-presidente executivo do Twitter, nunca conseguiu monetizar o potencial do microblog. Seu sucessor, por outro lado, parece não ter dúvidas sobre a função do site como instrumento para transmissão de conteúdos online. E sobre como pagar por eles. Dick Costolo parece estar no caminho certo para garantir um lugar para o Twitter entre os grandes da mídia digital contemporânea.

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[Sergio da Motta e Albuquerque é mestre em Planejamento urbano, consultor e tradutor]