Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O futuro dos jornais

A invenção de Gutenberg foi fruto da ascensão da burguesia, que começava a disputar a liderança do processo histórico com a aristocracia. Em sua trajetória, a imprensa pavimentou a incorporação das massas ao papel de protagonista, sempre em compasso com as disputas pelo poder.

Se na Inglaterra e na França a liberdade de expressão foi por muito tempo contida pelas forças do antigo regime, nos Estados Unidos a independência colocou a livre manifestação como dado constitutivo do país e possibilitou a criação de periódicos sem as amarras reais.

No Brasil, a Impressão Régia – que aportou no Rio de Janeiro com a fuga da corte portuguesa de Napoleão – estabeleceu em seus primeiros atos ‘fiscalizar que nada se imprimisse contra a religião, o governo e os bons costumes’. Não foi à toa, portanto, que o primeiro jornal brasileiro – o Correio Braziliense – nasceu em Londres. Foi há 200 anos, comemorados na semana passada.

De lá para cá, o jornalismo nacional marcou sua presença na história, destacando-se nos momentos de polarização, como nas campanhas pela abolição da escravatura, pela república, pela democracia, pelas eleições diretas.

Enfrentou períodos sombrios de censura e sufocamento econômico. Como no resto do mundo, acompanhou a chegada das novas mídias que disputam o tempo e o bolso do cidadão.

Nos últimos anos, a discussão sobre o futuro dos jornais passou a freqüentar o debate sobre comunicações. A internet – e suas infinitas possibilidades de informação e interação – é colocada como rival dos meios impressos, tachados de lerdos e opacos. Preocupados com a adesão avassaladora dos jovens à rede de computadores, os jornais buscam a renovação e discutem sua função nesse momento e seu espaço como negócio.
Tradicionais empresas jornalísticas já há muitos anos investem na internet e aproximam suas plataformas de informação. Embora sejam âncoras importantes na rede e ganhem audiências em crescimento exponencial, não encontram contrapartidas em suas receitas que possam justificar uma eventual transição do papel para a tela.

Ao mesmo tempo, a venda de jornais continua a crescer no mundo (2,6% em 2007), muito impulsionada por países como China e Índia – e Brasil, que teve alta de 11,8%.

Bússola para o leitor

Por aqui, onde a televisão ainda reina quase absoluta como em nenhum outro lugar do globo, a fatia dos jornais no bolo publicitário engordou. Foi de 19,4%, em março último. A internet ficou com apenas 3,2%. Só no primeiro trimestre deste ano, a publicidade em jornais brasileiros aumentou 24%.

Esse vigor mostra o interesse e a confiança de leitores e anunciantes nos diários impressos e coloca em xeque previsões pessimistas. Os jornais condensam uma credibilidade difícil de ser replicada em outros meios e funcionam como uma bússola para o leitor imerso no caos informativo atual. Apresentam um resumo organizado das notícias mais importantes das últimas 24 horas, selecionando e hierarquizando fatos, análises e opiniões. Já foi dito que editores atuam como curadores de notícias para seus leitores.

Os jornais também são os principais responsáveis pelos chamados furos de informação, fatos inéditos e relevantes que são trazidos à luz contra interesses e em benefício da democracia. Trazem um mosaico de opiniões único e se tornam referência na discussão de idéias do país. Finalmente, são elogiados também por serem práticos, portáteis.
Nem por isso deixam de enfrentar questionamentos variados. Nos Estados Unidos, sempre referência nesse e em outros debates, os jornais registram vendas estáveis ou declinantes e sofrem golpes – muitos advindos da internet – que atingem sua imagem de credibilidade e independência. O oficialismo e o adesismo na cobertura da Guerra no Iraque, por exemplo, deixaram cicatrizes incômodas.

Além disso, a pulverização do capital das empresas jornalísticas norte-americanas, a partir dos anos 1960, introduziu novas lógicas para avaliação dos resultados dos produtos perante seus acionistas. Hoje, eles passam por mudanças sensíveis em seus controles – e em suas linhas editoriais. Movimento que coincide com um dos momentos mais ricos da história política recente nos EUA.

Há uma disputa de mercado e de poder. Os jornais estão nesse emaranhado tratando de achar o seu rumo. É disso que trata o texto que a Folha publica a seguir. O autor garimpa nos 300 anos de história da imprensa nos Estados Unidos explicações para os desafios de hoje.

Lá e aqui não existem respostas definitivas sobre os caminhos para os jornais. Como podem ampliar seu universo de leitores – especialmente em países, como o Brasil, onde o analfabetismo ainda é uma vergonhosa realidade? Como conseguir atrair as novas gerações bombardeadas pela multimídia? Como trabalhar com a internet? Como, enfim, melhorar a qualidade do produto despachado diariamente até a porta do consumidor antes do seu café da manhã?

No texto que segue, publicado originalmente na revista norte-americana The New Yorker, o autor lembra que bons jornais devem ser como um país conversando consigo mesmo. Numa sociedade extremamente desigual e cada vez mais preocupada com o bem-estar em escala privada, os jornais colocam foco sobre o interesse público. Têm a tarefa de fazer uma reflexão cotidiana sobre a realidade. É o seu papel e o seu futuro. (Eleonora de Lucena, editora-executiva da Folha de S.Paulo)

Leia também

O relógio e o calendário – Luiz Weis (2/4/2008)

A sobrevivência dos jornais impressos – Carlos Eduardo Lins da Silva (8/4/2008)

A jovem mídia e os mamutes de papel – Luiz Weis (23/4/2008)


O jornal norte-americano está na praça há mais ou menos 300 anos. A folha veemente de Benjamin Harris Publick Occurrences, Both Foreign and Domestick [Ocorrências Públicas Estrangeiras e Domésticas], só conseguiu tirar um número, em 1690, antes de ser fechada pelas autoridades de Massachusetts.

Harris sugerira uma linha dura e politicamente incorreta quanto à remoção dos indígenas e chocara as suscetibilidades locais ao informar que o rei da França tomava liberdades com a mulher do príncipe.

Mas foi apenas em 1721, quando o impressor James Franklin lançou o New England Courant, que as colônias britânicas na América do Norte viram surgir algo semelhante aos jornais de hoje.

Irmão mais velho de Benjamin, Franklin se recusava a aderir às praticas costumeiras de direitos autorais e atacava os poderes estabelecidos na Nova Inglaterra, logrando assim tanto independência editorial como sucesso comercial.

Preenchia seu jornal com cruzadas (contra tudo, dos piratas ao poder dos pastores puritanos Cotton e Increase Mather), ensaios literários, vinhetas e ruminações filosóficas.

Três séculos depois do Courant, já não é preciso ter uma imaginação distópica para cogitar quem terá a honra ambígua de publicar o último jornal de verdade nos EUA.
Pouca gente acredita que os jornais, na forma impressa de hoje, tenham chance de sobreviver. Eles estão perdendo anunciantes, leitores, valor de mercado e, em alguns casos, o próprio senso de missão, num ritmo que teria sido difícil imaginar meros quatro anos atrás.

Num discurso recente em Londres, Bill Keller, editor-executivo do New York Times, declarou: ‘Onde quer que editores e publishers se encontrem, a atmosfera é funérea. Os editores perguntam `como você está?´ naquele tom que se usa com um amigo que acaba de sair de uma desintoxicação ou um divórcio’.

Seu discurso foi publicado no site de seu anfitrião, o Guardian, sob a manchete ‘Vivo ainda’. Ainda. Mas as tendências de circulação e publicidade, a ascensão da web, que faz o jornal diário parecer lento e lerdo, e o advento da Craigslist, que está extinguindo os classificados, criaram uma sensação palpável de fim iminente.

Nos últimos três anos, os jornais americanos independentes perderam 42% de seu valor de mercado, segundo o empresário de mídia Alan Mutter.

Poucas companhias foram tão punidas em Wall Street quanto aquelas que ousaram investir no ramo jornalístico. A McClatchy Company, a única a dar um lance pela cadeia Knight Ridder quando ela foi a leilão em 2005, perdeu 80% de seu valor acionário desde que concluiu a aquisição de US$ 6,5 bilhões. As ações da Lee Enterprises caíram 75% desde que ela adquiriu a cadeia Pulitzer, naquele mesmo ano.

As companhias jornalísticas mais prezadas começaram, de repente, a parecer um fardo empresarial. Em vez de competir numa era de transformação, as famílias que controlavam o Los Angeles Times e o Wall Street Journal venderam a maior parte de suas ações.

A New York Times Company viu suas ações caírem 54% desde 2004, em especial no último ano; em fevereiro, o Deutsche Bank recomendou que seus clientes vendessem ações do New Tork Times. A Washington Post Company só evitou o mesmo destino ao se apresentar como ‘empresa de educação e comunicação’; seu braço didático, a Kaplan, agora responde por pelo menos metade do faturamento total.

Máquina de dinheiro

Até pouco tempo atrás, os jornais estavam acostumados a operar como monopólios de alta margem de lucro. Por muitas décadas, publicar o jornal dominante – ou único – de uma cidade dos EUA de porte médio equivalia a deter uma licença para imprimir dinheiro.

Mas na era da internet ainda não apareceu ninguém com uma solução para salvar o jornal, nos EUA e no mundo. Os jornais criaram sites que se beneficiam da alta da publicidade on-line, mas os valores vindos dessa fonte não cobrem, nem de longe, a perda de faturamento com a queda da circulação e da publicidade impressa.

A maioria dos executivos reagiu ao colapso de seu modelo de negócios com uma espiral de cortes orçamentários, sucursais fechadas, fusões, demissões e reduções de formato e entrelinha. De 1990 para cá, um quarto dos empregos no ramo jornalístico desapareceu. A colunista Molly Ivins [1944-2007] reclamava, antes de morrer, da solução dada pelas companhias aos problema: ‘Tornar o produto menor, inútil e desinteressante’.

Talvez isso ajude a explicar por que o número decrescente de americanos que compram e lêem jornais diários gasta cada vez menos tempo com eles: a média é inferior a 15 horas por mês. E meros 19% dos americanos com idade entre 18 e 34 anos declaram consultar jornais diários. A idade média do leitor de jornais é de 55 anos – e a curva aponta para cima.

Artefato de museu?

Em The Vanishing Newspaper (2004), Philip Meyer arrisca a previsão de que o último exemplar do último jornal aparecerá na porta de seu leitor em algum dia de 2043. Talvez não seja muito delicado lembrar que essas declarações coincidem com a inauguração, neste ano, do Newseum [museu de notícias] de Washington, D.C., projeto de US$ 540 milhões.

Mas o fato é que, cada vez mais, isso que Bill Keller chama de ‘adorável e antiquado feixe de tinta e celulose’ começa a parecer um artefato digno de ser exposto num museu.

Quem vai tomando o lugar, como se sabe, é a internet, que está a ponto de ultrapassar os jornais como fonte de informação política para os leitores americanos – coisa que já aconteceu entre os jovens e os politicamente engajados. Já em maio de 2004, os jornais ocupavam o último lugar entre as fontes de notícia preferidas pelos leitores mais jovens.
Segundo o relatório Abandoning the News [Abandonando os Jornais], publicado pela Carnegie Corporation, 39% dos entrevistados com idade inferior a 35 anos acreditavam que, no futuro, usariam a internet como fonte de informação. Apenas 8% disseram que recorreriam a um jornal.

Há um elemento de injustiça irônica no fato de que o leitor que navega pela internet em busca de notícias políticas muitas vezes acaba dando num site que meramente reúne trabalho jornalístico proveniente de um jornal – embora esse fato não será capaz de salvar os empregos ou aumentar as cotações do ramo jornalístico.

Um dos aspectos mais significativos na transição dos jornais de papel para o mundo da informação digital diz respeito à própria natureza da ‘notícia’.

O jornal norte-americano (bem como os noticiários noturnos) dirige-se a um público vasto, de opiniões e valores conflitantes, fazendo apelo a um ideal de objetividade.
Muitos jornais, no afã de demonstrar equilíbrio e imparcialidade, não permitem que seus jornalistas exprimam suas opiniões em público, participem de passeatas, trabalhem em campanhas políticas, usem broches políticos ou colem adesivos em seus carros.
Numa conversa particular, jornalistas e editores podem até admitir que a objetividade é um ideal, mas, como membros de uma fraternidade suscetível, poucos dentre eles se permitiriam demonstrar em público o menor laivo de parcialidade.

Os jornalistas preferem desdenhar a possibilidade de que suas crenças pessoais possam interferir em sua capacidade de cobrir uma história com perfeito equilíbrio.

Nesse meio tempo, a confiança pública nos jornais vem caindo vertiginosamente.
Um estudo recente da Universidade do Sagrado Coração revelou que menos de 20% dos americanos declararam acreditar ‘em todo ou quase todo’ o noticiário jornalístico – número que despencou 27% em apenas cinco anos.

‘Menos de uma em cada cinco pessoas acredita no que lê na imprensa’, concluiu o relatório ‘O Estado da Mídia’ de 2007, publicado pelo Projeto pela Excelência em Jornalismo. ‘A CNN não goza de mais confiança que a Fox, a ABC ou a NBC. O jornal local não é visto de modo muito diferente que o New York Times.’

Os americanos que acreditam em discos voadores ou em alguma teoria da conspiração em torno do 11 de Setembro são muito mais numerosos do que aqueles que acreditam na noção de uma imprensa imparcial, que dirá ‘objetiva’.

Quase 9 em cada 10 americanos declararam ao estudo da Universidade do Sagrado Coração que a mídia tenta, de caso pensado, influenciar políticas públicas. Não menos alarmante é a rápida transformação que se deu no entendimento e na demanda do público por ‘notícias’.

Reinvenção

Em abril de 2005, numa palestra diante da Sociedade Americana de Editores de Jornal, dois anos antes da aquisição, por US$ 5 bilhões, da Dow Jones & Co. e do Wall Street Journal, Rupert Murdoch advertiu os principais editores e publishers do ramo jornalístico: tinham chegado ao fim os dias em que ‘as notícias e a informação eram firmemente controladas por uns poucos editores, que decidiam o que podíamos e devíamos saber’. Ninguém mais aceitaria essa ‘figura divina’, que apresentava as notícias como quem revela o Evangelho. Os consumidores de hoje querem ‘notícias no calor da hora, atualizadas constantemente. Querem um ponto de vista, não apenas sobre o que aconteceu, mas também sobre as razões pelas quais aconteceu. Finalmente, querem poder usar essa informação em comunidades mais vastas – querem discutir, debater, questionar e até mesmo encontrar pessoas que pensam o mundo de modo semelhante ou diverso’.

Um mês depois da palestra de Murdoch, um mestre em computação, Jonah Peretti, e um ex-executivo da AOL, Kenneth Lerer, se juntaram à ubíqua comentadora-candidata-ativista Arianna Huffington para lançar um novo site, que batizaram de Huffington Post.

Concebido inicialmente como alternativa liberal [nos EUA, sinônimo de esquerda] ao Drudge Report, o Huffington Post começou reunindo noticiário e fofoca sobre política, ao mesmo tempo em que organizava um blog com colunistas arregimentados no rol preocupantemente vasto de amigos e conexões de Huffington.

Quase por acaso, os proprietários do Huffington Post descobriram uma fórmula que capitalizava sobre os problemas do jornalismo impresso na era da internet, e agora estão convencidos de que estão prontos para reinventar o jornalismo norte-americano.

‘Logo vimos que a chave para a empresa consistia não em imitar o Drudge’, rememora Lerer, ‘mas em tirar vantagem de nossa comunidade. A chave consistia em pensar sobre o que estávamos fazendo do ponto de vista dessa comunidade’.

No Huffington Post, explica Peretti, a notícia não é uma coisa que se entrega de cima para baixo, mas algo que é ‘compartilhado entre o produtor e o consumidor’. Fazendo eco a Murdoch, ele diz que a internet oferece ao editor uma ‘informação imediata’ sobre quais matérias interessam aos leitores, suscitam comentários, são enviadas a amigos e geram mais pesquisas nos sites de busca. Um site de notícias, segundo Peretti, tem ‘uma vida que seria impossível à base de papel e tinta’.

O Huffington tem uma equipe de jornalismo (diminuta, mas há esperanças de expandi-la no futuro), a maioria das matérias provêm de outras fontes, impressas, televisivas ou particulares – a câmera ou o celular de alguém. Os editores criam links para o que lhes parece ser a melhor matéria sobre um determinado tópico e lhes dão uma manchete chamativa e de viés liberal, seguida de um espaço aberto para comentários dos leitores. Ao redor dos artigos noticiosos, encontram-se as postagens muito veementes de uma hoste de blogueiros célebres (Nora Ephron, Larry David) ou nem tanto – mais de 1.800. Os blogueiros não são remunerados.

O efeito final pode parecer caótico e confuso, mas, segundo Lerer, ‘esse modo de pensar e apresentar a notícia é tão transformador quanto foi a CNN, 30 anos atrás’. Arianna Huffington e seus sócios acreditam que esse modelo aponta para o futuro da indústria jornalística. ‘Todo mundo fala da morte dos jornais, como se fosse um caso encerrado. Eu acho isso ridículo’, diz ela. ‘A mídia tradicional só precisa perceber que a palavra digital não é o inimigo. Na verdade, é a palavra digital que vai salvar os jornais, contanto que eles a adotem de verdade.’

Tese discutível

Parece uma ambição quase risível, partindo de uma empresa com apenas 46 empregados em tempo integral, muitos dos quais mal têm idade para alugar um carro. Mas, com US$ 11 milhões à sua disposição, o site chega a arrecadar entre US$ 6 milhões e US$ 10 milhões por ano. O que mais impressiona os anunciantes – e deprime os executivos de jornais – são os números da expansão do site.

Nos últimos 30 dias, graças, em parte, às primárias democratas, as visitas saltaram para mais de 11 milhões, segundo a empresa. E, segundo as estimativas da Nielsen NetRatings e da comScore, o Huffington Post só perde em popularidade para oito sites de jornais, subindo da 16ª posição que ocupava em dezembro passado.

Mas a idéia de que o Huffington Post possa competir com (ou substituir) os melhores jornais tradicionais é discutível sob outros aspectos ainda. As fontes de reportagem original do site são minúsculas. Não há cobertura constante de esportes ou livros, e a seção de entretenimento é um amontoado de fofoca virtual sem nenhum trabalho de verificação.

E, por mais que o Huffington Post tenha conquistado espaço como lugar em que políticos progressistas e vultos liberais de Hollywood publicam seus sentimentos anti-Bush, muitas das postagens publicadas não merecem o esforço de um simples clique com o mouse.

As esquisitices não param por aí. Enquanto um jornal tende a afiançar o que publica por conta de um processo editorial em que jornalistas e editores devem checar suas fontes antes de publicar uma matéria, a blogosfera depende de seus leitores – de sua comunidade – exercerem algum controle de qualidade.

No Huffington Post, explica Peretti, os editores ‘assinam embaixo da primeira página’ e dão o melhor de si para assegurar que apenas blogueiros e fontes confiáveis sejam postadas ali. Mas a maior parte das postagens é veiculada antes que qualquer editor tenha tempo de vê-las. Os editores só intervêm se algum leitor julgar que uma postagem qualquer é falsa, difamatória ou ofensiva.

Os processos editoriais do Huffington Post baseiam-se no que Peretti chama ‘estratégia `mullet´’ (‘negócios na frente, festa nos fundos’, como quer seu site BuzzFeed) [‘mullet’ significa ‘tainha’, ‘salmonete’, mas também um estilo de corte de cabelo, curto e comportado na frente, em cima e nos lados, mas comprido atrás; de onde vem a explicação que está no texto, do próprio autor: ‘Negócio na frente, festa nos fundos’].
‘A onda é a do conteúdo gerado pelo próprio usuário, mas a maior parte desse conteúdo não vale nada’, diz Peretti.

A ‘estratégia `mullet´’ convida o usuário a ‘discutir e deblaterar nas páginas secundárias, enquanto editores profissionais cuidam da primeira página. Essa estratégia veio para ficar, porque o melhor meio de aumentar a visitação é deixar que os usuários tenham controle, enquanto o melhor meio de aumentar a publicidade é manter uma primeira página limpa e bonita, onde o anunciante pode admirar a marca de sua empresa’.

Essa estratégia não é livre de problemas. Durante a crise do furacão Katrina, o ativista Randall Robinson postou relatos de New Orleans segundo os quais havia ‘pessoas comendo cadáveres para sobreviver’.

Quando Arianna Huffington ficou sabendo da postagem, entrou em contato com Robinson e descobriu que ele não tinha como comprovar suas fantasias. Huffington então pediu que Robinson postasse um pedido de desculpas. A rapidez com que a correção foi feita foi admirável, mas não o suficiente para impedir que a informação incorreta fosse repetida em outros lugares.

As tensões entre os líderes da mídia tradicional e os desafios da internet foram prenunciados por um dos debates intelectuais mais instrutivos e acalorados nos EUA do século 20.

Entre 1920 e 1925, o jovem Walter Lippmann publicou três livros que investigavam a relação entre democracia e imprensa, entre eles Public Opinion [Opinião Pública’, 1922], que está na origem da profissão de relações públicas e do campo acadêmico de estudo da mídia. Lippmann identificou uma lacuna fundamental entre o que naturalmente esperamos da democracia e o que sabemos sobre as pessoas.

A teoria da democracia supõe cidadãos bem informados sobre as pautas públicas e sobre os indivíduos que se candidatam a conduzi-las. E, por mais que esse fosse o caso entre os cidadãos brancos e proprietários na Boston de Benjamin Franklin, a sociedade capitalista contemporânea era grande e complexa demais, na visão de Lippmann, para que eventos decisivos pudessem ser entendidos pelo cidadão comum.

O jornalismo funciona bem, segundo Lippmann, quando se trata de ‘relatar o resultado de um jogo ou o sucesso de um vôo transatlântico ou a morte de um monarca’. Mas, quando a situação se complica, ‘por exemplo, quando se trata do êxito de uma dada política ou da situação social de um país estrangeiro, isto é, quando a resposta não é apenas um sim ou um não, mas sutil e dependente de dados confiáveis’, o jornalismo ‘se torna fonte de todo tipo de confusão, de mal-entendido ou de simples distorção’.

Elitista confesso

Lippmann comparava o americano médio – o ‘outsider’, como ele o chamava – a um ‘espectador surdo na última fileira’ de um evento esportivo: ‘Não sabe o que está acontecendo, por que está acontecendo, o que deveria acontecer’ e vive ‘num mundo que não tem como ver, entender ou dirigir’.

Numa descrição que só pode soar familiar a quem assiste canais de TV a cabo ou escuta programas de debate no rádio, Lippmann julgava que o público ‘demora a se excitar e não tarda em se distrair […] e só tem interesse por acontecimentos dramatizados na forma de um conflito’.

Elitista confesso, Lippmann não via nada de chocante nessas conclusões. Não se espera do cidadão médio que seja fluente em física de partículas ou em pós-estruturalismo; então por que deveria entender a política do Congresso ou do Oriente Médio? Para Lippmann, a melhor solução consistia, essencialmente, em jogar a democracia no lixo. Justificou suas opiniões afirmando que só os resultados interessavam.

Mesmo supondo que as pessoas viessem a ser bem informadas a ponto de poderem se governar sabiamente, ‘é mais que duvidoso que a maioria se desse a esse trabalho’.
Em sua primeira abordagem da questão, em Liberty and the News [Liberdade e Notícia, 1920], Lippmann sugeriu que se elevasse o lugar do jornalismo entre as profissões mais respeitadas.

Dois anos depois, em Opinião Pública, concluiu que o jornalismo jamais poderia resolver o problema com ‘meros 30 minutos de ação num dia de 24 horas’. Numa das fórmulas mais estranhas de sua longa carreira, Lippmann propôs que se constituíssem ‘agências de inteligência’ com livre acesso a toda informação necessária a controlar as ações do governo, sem fazer muito caso de preferências democráticas ou debates públicos.

Lippmann jamais chegou a explicar qual seria o papel do público nesse processo.
O filósofo John Dewey considerou Opinião Pública ‘um dos ataques mais poderosos à democracia’ e passou bons cinco anos tentando enfrentá-lo. O resultado, publicado em 1927, foi um livro muito tendencioso, denso e importante, The Public and Its Problems [O Público e Seus Problemas].

Dewey não contestou as afirmações de Lippmann sobre as falhas do jornalismo ou sobre a manipulação do público. Mas Dewey achava que o remédio de Lippmann era pior que a doença. Para Dewey, a opinião pública não era apenas uma soma de opiniões individuais, como numa votação, mas um foro de discussões. Para ele, o fundamento da democracia estava menos na informação do que na conversação, e membros de uma sociedade democrática precisavam cultivar o que James W. Carey, estudioso do debate, chamou de ‘hábitos vitais’ da democracia – a capacidade de deliberar e debater perspectivas rumo a um consenso.

Dewey criticou também a confiança de Lippmann em elites baseadas no acesso à informação: ‘Uma classe de especialistas distante dos interesses comuns logo se torna uma classe com interesses próprios e informação privilegiada. […] O dono do sapato é quem sabe onde o sapato aperta, por mais que o sapateiro seja a pessoa mais indicada para resolver o problema’.

Lippmann e Dewey dedicaram boa parte de suas vidas a tratar dos problemas que diagnosticaram: Lippmann como o tecnocrata arquetípico e Dewey como o profeta da educação democrática. Se é que se pode falar de um vencedor, o fato é que o futuro foi se aproximando do ideal de Lippmann.

Interesse público

A história da imprensa americana rumou exatamente para o tipo de profissionalização que Lippmann advogava. Nos anos em que Lippmann escrevia, muitos jornais continuavam presos ao modelo partidário dos séculos 18 e 19 (basta pensar em Thomas Jefferson e Alexander Hamilton duelando por meio de seus respectivos jornais enquanto serviam no governo de George Washington).

O modelo do século 20, em que os jornais lutam por ter independência política e tentam atuar como árbitros em prol do interesse público estava apenas nascendo.

À medida que a profissão ganhava sofisticação e respeito, em parte devido ao exemplo de Lippmann, os melhores jornalistas, apresentadores e editores foram assumindo lugares comparáveis socialmente aos de senadores, ministros e executivos. Ao mesmo tempo, e conforme o que Dewey previra, esses mesmos personagens vieram a se identificar mais com seus assuntos do que com seus públicos.

Deixando de lado as eleições, a política veio a se parecer mais e mais com um negócio para especialistas e um espetáculo para os ignaros – exatamente como Lippmann queria e Dewey temia. Exceção feita às ‘cartas ao editor’, o papel do leitor se tornou puramente passivo.

O primeiro desafio ao modelo de Lippmann veio da direita. Muitos conservadores suspeitavam do esquerdismo da grande mídia, supostamente incapaz de cobrir com imparcialidade assuntos como o movimento pelos direitos civis ou a campanha presidencial de Barry Goldwater. A reação veio na forma de think tanks e veículos de mídia destinados a desafiar e contornar a grande mídia.

A vitória de Ronald Reagan não dependeu apenas do apelo pessoal do candidato, mas de um longo trabalho ideológico conduzido em revistas como a National Review, de William F. Buckley Jr., e a Commentary, de Norman Podhoretz, bem como nas páginas editoriais do Wall Street Journal, editadas ao longo de três décadas por Robert Bartley. A ascensão do que seria conhecido como o contra-establishment conservador pode ser entendido nos termos de uma comunidade deweyana tentando tomar as rédeas da autoridade democrática das mãos de uma elite a la Lippmann.

A versão à esquerda dessa comunidade demorou mais tempo a se formar, em parte porque a esquerda levou mais tempo para tomar distância da mídia.

Até o fim da década de 1970, boa parte da grande mídia de fato dava mostras do ‘viés de esquerda’, que ainda incomoda os conservadores.

Comunidades

Mas o esforço de recrutar pessoal do contra-establishment conservador, combinado ao investimento financeiro da direita numa rede de think tanks, grupos de pressão, revistas, estações de rádio e redes de TV exerceu sobre a grande mídia uma espécie de atração gravitacional rumo à direita, que acabou criando um contexto simpático a candidatos conservadores com que Goldwater jamais teria sonhado.

O nascimento da blogosfera mais à esquerda, com sua capacidade de contornar as grandes instituições da mídia, representa um retorno do desafio deweyano a nossa compreensão lippmanniana do que seja ou não seja ‘notícia’ e pode parecer um renascimento da noção de discurso democrático cultivada pelo filósofo.

A internet constitui uma plataforma que permite a criação de comunidades – a distribuição é barata, rápida e eficiente. O velho modelo democrático supunha uma nação de cidades ianques povoadas por fazendeiros de boa índole e boa informação. Graças à internet, todos podemos participar de um debate deweyano sobre presidentes, políticas e propostas. Basta ter uma conexão decente.

Sem investigação

O Huffington Post conquistou lugar ao sol no verão e no outono de 2005, quando Arianna Huffington atacou as reportagens de política militar e estrangeira de Judith Miller para o New York Times, valendo-se de todo tipo de fontes.

O Huffington Post certamente não foi o primeiro site a se valer de informações dos leitores para atacar a grande mídia. Por exemplo, blogueiros conservadores em sites como Little Green Footballs deleitaram-se em derrubar Dan Rather depois que este veiculou documentos dúbios, que supostamente provavam o tratamento especial oferecido a George W. Bush quando servia a Guarda Nacional no Texas.

Jornalistas mais tradicionais tendem a não se impressionar com o estilo de reportagem praticados pelos blogs. O jornalismo de verdade, em especial o investigativo, é caro, não cansam de lembrar; compilação e opinião são baratos.

E é verdade: não há nenhum site que gaste o que os melhores jornais gastam em suas reportagens. Com todos os cortes, o New York Times conserva 1.200 pessoas na Redação – 50 vezes mais que o Huffington Post.

O Washington Post e o Los Angeles Times têm 800 e 900 empregados editoriais, respectivamente. A sucursal do New York Times em Bagdá custa US$ 3 milhões anuais. O Huffington Post se beneficia desse investimento, mas não carrega nenhum dos custos. É difícil imaginar blogueiros com a experiência, por exemplo, de Barton Gellman e Dana Priest, do Post, ou de Dexter Filkins e Alissa Rubin, do Times.

Em outubro de 2005, numa conferência em Phoenix, Bill Keller reclamou dos blogueiros que apenas ‘mastigam e reciclam notícias’, em contraste com o ‘jornalismo de verificação’ do Times.

‘Os blogueiros não mastigam notícias, eles cospem notícias’, protestou Arianna Huffington numa postagem em seu blog.

Como muitos blogueiros de esquerda, ela se irrita com a idéia de que a imprensa tradicional é superior à blogosfera quando se trata de publicar a verdade mais dolorida.
Nos momentos finais rumo à Guerra do Iraque, por exemplo, ‘toda a grande imprensa, incluindo o Times, perdeu todo o seu verniz de confiabilidade absoluta, ao mesmo tempo em que se tornava claro que as novas mídias mereciam confiança dos leitores e espectadores – na medida em que se corrigem com muito mais rapidez que os velhos veículos’.

Mas Huffington não tem o que dizer sobre a relação parasitária que quase todos os sites mantêm com o jornalismo impresso.

Há um ano, o Huffington Post fez um gesto na direção de um trabalho de reportagem mais original e profissional ao contratar Thomas Edsall, veterano de 40 anos no Washington Post e em outros jornais. Quando recebeu a proposta do Huffington Post, Edsall sentiu que o Washington Post se deixava mais e mais ‘mover pelo medo – da queda da circulação, da perda de anunciantes, dos lucros em queda, da ameaça da internet, da irrelevância’.

‘O medo levou o jornal a corromper o trabalho de reportagem.’ Mas exemplos como o de Edsall ainda são raros.

Assim, por mais que se simpatize com os ataques de Huffington ao Times e com as críticas de Edsall ao Post, é impossível não se preocupar com o que será feito das notícias e da democracia quando não houver mais jornais que invistam seus recursos e seu orgulho profissional na tarefa de trazer a nós, mesmo que imperfeitamente, a informação que precisamos ter.

Num episódio recente dos ‘Simpsons’, uma versão cartunizada do jornalista Dan Rather abria um debate com ‘Ron Lehar, jornalista do Washington Post‘, ao que Nelson, antípoda de Bart, gritava: ‘Haha! A sua mídia está morrendo!’. ‘Nelson!’, advertia Skinner. ‘Mas está mesmo!’, replicava o rapaz. Nelson está certo. Os jornais estão morrendo, e o futuro que se anuncia assim é complicado. Há três anos, Rupert Murdoch advertia: ‘Fomos incrivelmente complacentes, esperando que a tal da revolução digital fosse passar ao largo’.

Hoje, todos os jornais sérios estão fazendo o que podem para se adaptar. Alguns, como o Times e o Post, provavelmente sobreviverão a esse momento de transformação tecnológica, cortando pessoal e aumentando sua presença on-line. Outros vão tentar nichos locais. Os editores dizem que agora ‘sacaram a coisa’.

Mas os jornalistas tradicionais, à maneira de Lippmann, tendem a desdenhar tanto as críticas dos blogueiros como também o fermento democrático de que essas críticas provêm.

Há pouco, o Chicago Tribune decidiu fechar os canais de comentário on-line nas matérias de cunho político. Seu editor, Timothy J. McNulty, queixou-se, não sem razão, de que os canais de comentário começavam a parecer ‘uma comunidade de extremistas destemperados’.

Arianna Huffington, por sua vez, acredita que os modelos vão acabar por convergir, à medida que os dólares da publicidade continuem a migrar para a esfera on-line: ‘O HuffPost vai gerar mais e mais reportagem original, enquanto o Times e o Post vão continuar a seguir o modelo de hoje, mas cada vez mais on-line’.

Por sua vez, os grandes jornais que sobreviverem não poderão desdenhar o apoio do terceiro setor. O Instituto ProPublica, financiado pelos bilionários liberais Herb e Marion Sandler e dirigido pelo ex-editor do Wall Street Journal Paul Steiger, quer propiciar à grande mídia o tipo de jornalismo investigativo que hoje parece em via de abandono por muitos jornais.

O Centro para a Mídia Independente, liderado por David Bennahum, ex-colaborador da Wired, há pouco contratou Jefferson Morley, do Washington Post, e Allison Silver, do Los Angeles Times e do New York Times, para dirigir o site ‘The Washington Independent’. Mas imaginar que a filantropia poderá preencher todas as lacunas geradas pelos cortes de pessoal é puro ‘pensamento positivo’.

Estamos no umbral de um mundo de notícias caótico e fraturado, caracterizado por mais diálogo e menos jornalismo de primeira qualidade. A transformação dos jornais – de empresas dedicadas à reportagem objetiva em feixes de comunidades engajadas com suas próprias ‘notícias’ – significará a perda de uma narrativa nacional em torno de ‘fatos’ consensuais.

As notícias irão inevitavelmente adquirir coloração ‘azul’ ou ‘vermelha’. Antes de Adolph Ochs assumir o New York Times e publicar seu famoso mote ‘sem medo nem favor’, a cena americana era dominada por jornais partidários. E a cultura jornalística de muitas nações européias há tempos aceitou a noção de narrativas em competição, com jornais específicos assumindo as visões de cada facção. Talvez não seja por acaso que muitos desses países têm um nível de participação política superior ao dos EUA.
Mas a transformação há de gerar sérias perdas. Os jornais ajudaram a definir o sentido dos EUA para seus cidadãos.

Para escolher uma data ao acaso, na manhã de 11 de fevereiro eu fui buscar a versão impressa do Times na porta de casa e, além das notícias que eu poderia encontrar em qualquer lugar – Obama vencendo Hillary de novo, e George W. Bush tentando condenar à morte seis prisioneiros de Guantánamo –, a primeira página trazia uma combinação única de artigos e matérias que, sem uma instituição que as gerasse e publicasse, jamais fariam parte de nossa consciência coletiva: uma reportagem de Nairóbi, por Jeffrey Gettleman, sobre o impacto da violência étnica no Quênia na classe média local; uma nota de Doha, por Tamar Lewin, sobre o avanço das universidades americanas no Qatar; e, num furo que o Huffington Post depois viria a reproduzir, uma matéria de Michael R. Gordon sobre um estudo da Corporação Rand que criticava a atuação de Bush no Iraque.

Comunidade imaginada

A justaposição desses tópicos díspares forma um terreno comum a todos os leitores do jornal e uma imagem do mundo que todos habitam.

Em seu livro Comunidades Imaginadas [recém-lançado no Brasil pela Companhia das Letras], de 1983, o cientista político Benedict Anderson recorda a comparação hegeliana do ritual de leitura do jornal à prece matutina: ‘Cada qual sabe que a mesma cerimônia é repetida simultaneamente por milhares ou milhões de outros, em cuja existência confiamos, mas sobre cuja identidade não fazemos a menor idéia’.

Ao menos em parte, é a ‘comunidade imaginada’ do jornal diário que forja as nações em que vivemos. Por fim, vale pensar naquelas pessoas, aqui ou longe daqui, que dependem do esforço jornalístico para escapar de várias formas de tortura, opressão e injustiça.

‘As pessoas fazem coisas terríveis umas com as outras’, diz o veterano fotógrafo George Guthrie na peça ‘Night and Day’, de Tom Stoppard. ‘Mas a coisa piora quando todo mundo está no escuro.’ Desde que o New England Courant de Franklin começou a circular, o jornal diário fez mais do que qualquer outro veículo para produzir a informação de que a nação tanto precisa para não ‘ficar no escuro’.

A internet conseguirá lançar a mesma ‘luz’ sem os exércitos de jornalistas e fotógrafos que os jornais tradicionalmente empregaram? É uma questão que talvez os democratas mais ardentes não queiram responder.

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Jornalista, colunista da The Nation e professor na Universidade da Cidade de Nova York, A íntegra deste texto foi publicada originalmente na New Yorker, em 31/3/2008. Tradução de Samuel Titan Jr.