A palavra plágio, do grego plagios e do latim plagiu, significa ‘trapaceiro’ e ‘oblíquo’. Segundo o Aurélio, oblíquo é adjetivo e equivale a: 1. Não perpendicular; inclinado; de través; 2. Torto; vesgo; 3. Fig. Indireto; 4. Malicioso; dissimulado, ardiloso; sinuoso. O plágio caracteriza, portanto, uma conduta nada louvável.
Plagiar é, basicamente, o ato de se apropriar indevidamente do trabalho intelectual de outra pessoa. Infelizmente, essa é uma prática cada vez mais comum. Na internet há sites que, descaradamente, vendem trabalhos acadêmicos. Há o plágio mais comum do Control C + Control V, copia e cola. Envolve todos os níveis de ensino (tempos atrás li notícia na ‘Folhinha’ sobre plágio num concurso de textos que deveriam ser escritos por crianças).
No campus, há quem viva do comércio de fazer ‘pesquisas acadêmicas’. Certo dia, involuntariamente, observei que um colega, nas dependências da universidade, fazia um trabalho acadêmico. Estranhei. Sabia que aquele assunto nada tinha a ver com a graduação dele. Era um trabalho encomendado.
Copiar para ‘aprender’
Mais estranho ainda foi o que aconteceu dias atrás. Tomava cerveja com um amigo, pois também não sou de ferro, e jogava conversa fora. Vi uma pessoa que fazia graduação. Convidei-a para sentar conosco; ela agradeceu e disse que estava esperando alguém. Pouco tempo depois, este chegou; conversaram e explodiram em alegria. Eles tratavam da nota referente a um trabalho de conclusão de curso. Parabenizamos a colega, pois era a mais contente e tudo indicava que tinha concluído o curso com ótima avaliação da banca. Num rompante de sinceridade, ela nos disse que estava feliz por ter feito o trabalho e pela nota, mas que, formalmente, quem tinha sido avaliado fora o colega que chegou depois. Este, constrangido, esboçou um sorriso sem graça e ficou calado. Ele havia comprado o trabalho. Fiquei a pensar sobre o ridículo da situação e sobre os motivos que levam seres humanos a fazer este tipo de transação.
Sempre houve o plágio. Recordo que uma professora pedia aos jovens estudantes para fazerem um trabalho sobre certo tema e indicava o livro na biblioteca da escola. Eles pegavam o livro e copiavam a matéria indicada. Outra professora praticamente exigia que copiássemos o texto indicado para a leitura. Na primeira vez que fizemos a prova, tentamos interpretar e nos demos mal. Pareceu-nos que sua tese era: ao copiar, o aluno memoriza e aprende. Pouco lembro sobre o que ‘aprendi’.
Respeitar autores e leitores
A internet facilita e potencializa o plágio. O Google, a Wikpédia e outros recursos, permitem aos estudantes fazer bons trabalhos sem muito esforço intelectual. O angustiante é ler os trabalhos sem saber se eles escreverem ou se é montagem. E até nos culpamos por duvidar da capacidade intelectual do aluno. Também ocorrem casos engraçados. Uma vez, por exemplo, alguém copiou literalmente um texto da revista Urutágua. De outra feita, a orientanda simplesmente copiou longo trecho da tese da orientadora sem identificar a autoria. E o copista nem se constrangeu. A autora plagiada ficou p. da vida. E com razão redobrada, pois orientação envolve relação de confiança.
Também fico chateado quando vejo na internet que os textos que escrevi são reproduzidos sem a devida informação da autoria e fonte. Estes dias encontrei um blog que reproduziu o ‘Zeca Baleiro, a formiga e a cigarra‘ sem qualquer identificação. Parecia, então, que o autor do texto era o dono do blog. Comentei. Parece que funcionou: o texto e comentário sumiram! Apesar de tudo, agradeci ao blogueiro. Afinal, o plágio também é uma forma de reconhecer o trabalho do outro. Mas também é preciso respeitar autores e leitores. É ético.
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Professor da Universidade Estadual de Maringá, doutor em Educação pela Universidade de São Paulo