Um primoroso texto do jornalista Paulo Moreira Leite trouxe de volta, na revista Época (nº 497, de 26/11/2007, ‘Errei, mas não sou ladrão’, matéria de capa), o tema relativo ao episódio do furto das gravatas, ocorrido há oito meses, em Miami, que teve como protagonista o rabino Henry Sobel.
Sobel, agora revisitado, em seu cotidiano, numa abordagem lúcida e imparcial por parte do veículo semanal, foi acompanhado pelo repórter durante três semanas, o que resultou numa reportagem que nos oferece o chamado ‘retorno ao passado’, um gênero que proporciona ao público leitor a chance de repensar, tempos depois, sobre o impacto de noticiários anteriores.
Elementos indicativos sobre a vida do famoso líder da comunidade judaica paulista, nascido nos Estados Unidos e radicado há 37 anos no Brasil, demonstram que o ser humano Henry, ‘luta para resgatar seu papel na História’, segundo o próprio subtítulo da matéria de capa, com a foto do personagem esmiuçado, em produção propositalmente provocativa.
A imagem do rabino engravatado, não se dá fora da época, mas sim, dentro de uma contextualização que o expõe segurando a polêmica peça do seu vestuário, em tonalidade de cor vinho, combinando com o quipá e os aros dos óculos, com lentes brancas e transparentes, que realçam um olhar azul, de expressão forte, ao encarar a câmera, como se nos olhasse a todos, afirmando a frase que ilustra a fotografia: ‘Errei, mas não sou ladrão.’
Sem prejuízo
Ao longo da matéria, classificada como ‘perfil’ no índice do semanário, há preocupação em restabelecer a linkagem histórica do personagem com a sua atuação no período áureo da participação na defesa dos direitos humanos, ocorrida durante o período ditatorial brasileiro, principalmente no episódio Herzog.
O ainda jovem rabino destacou-se impedindo que a morte, sob tortura, do jornalista judeu Vladimir Herzog fosse tratada como suicídio, uma atitude ‘que lhe proporcionou a liderança de um movimento marcante na luta pela democracia’. Sobel, juntamente com outros líderes religiosos brasileiros, celebrou o culto ecumênico na Catedral da Sé e a cerimônia de um ano da morte, desempenhando papel fundamental e carismático há 32 anos.
Agora, em nova época, a noite passada numa prisão em Palm Beach, em 23 de março de 2007, é relembrada pelo rabino, como ‘um inferno’, e sua defesa, também republicada no corpo da reportagem, reafirma a tese baseada em repetida explicação: ‘Furtou as gravatas depois de ingerir uma dose exagerada de um calmante poderoso que, combinado com uma situação emocional frágil, criou uma situação de descontrole.’
O texto discorre ainda, sobre momentos da vida atual do rabino, suas incursões profissionais, sua vida familiar com mulher e filha, seu comparecimento a eventos da comunidade judaica, seu acordo com a Congregação Israelita Paulista depois de ter sido dispensado do seu quadro de profissionais sem prejuízo financeiro e ter ganho um Toyota Corolla para seu transporte pessoal.
Celebrante de casamentos
Prestigiado internacionalmente, o Sobel ‘engravatado’ mostrado na revista Época deixa claro que passa por tratamento psiquiátrico e, como um ser humano comum e mortal, se coloca na condição de uma testemunha do seu tempo e de si próprio. Talvez por esse motivo, já marcou o lançamento do seu livro de memórias para o dia 23 de março de 2008, data em que se completa um ano do dia em que ele próprio diz não ter se reconhecido no ‘episódio das gravatas’.
A reportagem, de nove páginas, torna-se peça importante sob o ponto de vista jornalístico, uma vez que dá ao leitor a chance, muitas vezes rara, de tirar suas próprias conclusões, pois nem condena e nem inocenta Henry Sobel.
O conteúdo apresentado pela revista Época atualiza notícias sobre seu comportamento pós ‘prisão por furto de gravatas’ e recupera dados biográficos, além de divulgar curiosidades, como, por exemplo, a menção de sua agenda como celebrante de casamentos – quatro na segunda quinzena de novembro e seis em dezembro, além de inúmeros compromissos marcados até maio de 2008.
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Jornalista, Rio de Janeiro, RJ