Poderia ter sido no Irã, na Coréia do Norte ou na China. Mas foi na França.
Christophe Grébert, morador da cidade de Puteaux, mantém o blog MonPuteuax (http://www.monputeaux.com), no qual trata de assuntos locais. Em especial, Grébert usa o blog para criticar incansavelmente a administração do prefeito da cidade. Até que o prefeito se irritou e, no sábado (15/5), mandou prender Grébert.
O blogueiro estava sendo levado pela Police Municipale quando a Police Nationale apareceu, achou aquela prisão suspeita e acabou soltando Grébert. Ele afirma que irá processar o prefeito por abuso de poder.
Em suas próprias palavras, em (http://www.monputeaux.com/2004/05/jai_t_interpell.html):
‘Quelques minutes plus tard, une voiture de la police municipale arrive. En descendent, 4 policiers municipaux. Ils m’entourent. L’un d’eux me dit que je dois me soumettre à un ‘contrôle de police’, que je suis en état ‘d’interpellation’. Je demande quel délit j’ai commis : pas de réponse. Je leur demande leur identité : pas de réponse. Comme je demande aux passants de m’aider, d’appeler la police nationale, le même policier municipal me dit : ‘c’est du trouble à l’ordre public’. A aucun moment, les policiers municipaux me disent pourquoi je suis arrêté. La police nationale arrive enfin… les policiers municipaux s’écartent. Je suis sauvé!’
Recapitulando: político imaturo perde a noção do ridículo e toma medida totalmente despropositada e desproporcional contra um desafeto. Pior, além de pegar mal para ele e transformá-lo de vítima em agressor, a medida é inútil, pois jamais passaria pelo crivo do Legislativo e seria derrubada de qualquer jeito.
Deve ser horrível morar em um país onde esse tipo de coisa acontece.
Blogdex, termômetro da internet
Conheci o Blogdex (http://blogdex.net) há pouco tempo. Não consigo mais viver sem ele. Não entendo como eu conseguia escrever sobre internet sem conhecer o Blogdex. Brigo com velhos amigos: ‘Mas como assim você já conhecia? E por que não me disse nada?!’
O Blogdex se define como o ‘índice de difusão dos blogs’. O quê? Não entendeu? Claro que não. Esse deve ser um dos piores taglines da história.
É simples: todo dia, ele varre os blogs do mundo, descobre quantos novos links foram adicionados nas últimas horas e mostra os sites para onde esses links apontam.
Qualquer assunto importante vira assunto de blog. E os blogs, quando falam de alguma coisa, dão o link. Muitos links, no mesmo dia, para o mesmo lugar, são um excelente indicativo de algo importante acontecendo. Onde há link, há fogo.
Se tivessem pedido minha opinião, eu bolaria um tagline muito melhor: o Blogdex é o termômetro da blogosfera. Consulte-o diariamente e nunca ficará por fora.
O Blogdex foi lançado em julho de 2001, pelo The Media Lab, do MIT. Um ano depois, surgia o Toplinks (http://toplinks.idearo.com.br/), também chamado de Blogdex brasileiro.
Se você não consegue ler inglês, o Toplinks pode ser uma boa pedida, apesar de não tão relevante. No universo mais restrito dos blogs brasileiros, a listagem é facilmente distorcida. Às vezes, basta dois blogs bobos linkarem para um terceiro e ele já aparece.
O Blogdex, por seu lado, nunca falhou comigo. Se está lá, é porque o assunto é quente.
Briga de gangues planejada pela internet
Duas gangues rivais de Dallas se encontraram em uma sala de bate-papo, trocaram insultos por algumas horas e marcaram hora e local para brigar. Apesar do encontro inicial high-tech, a questão acabou sendo resolvida mesmo aos socos, pontapés e golpes de bastão.
Poucos dias depois, a polícia já prendera mais de 40 envolvidos. Boa parte dos gênios tinha se cadastrado no bate-papo com seus nomes verdadeiros.
Quem vigia os vigias?
Antigamente, na Guerra do Vietnã, eram os jornalistas que levavam à guerra aos lares americanos. Hoje, são os próprios soldados, com os blogs e flogs que mantém do front.
As autoridades não sabem para que lado olhar. Preocupado com a reeleição, o governo Bush está controlando ao máximo as imagens que saem do Iraque. Uma funcionária pública que tirou fotos dos caixões de soldados americanos acabou sendo demitida. Redes de televisão e jornais ligados aos conservadores não veicularam as imagens dos prisioneiros torturados. Bem ou mal, a imprensa vem se comportando docilmente.
Mas como controlar centenas de milhares de blogs, flogs e câmeras digitais? Essas ferramentas, básicas para qualquer recruta recém-saído da adolescência, estavam totalmente fora do horizonte mental dos velhos do Pentágono. Foram pegos com as calças na mão.
A princípio, desde que não revelem informações confidenciais, os soldados têm liberdade de escrever o que quiserem para suas famílias, inclusive manter blogs ou enviar fotos. Até quando?
J.D. Lasica, editor do Online Journalism Review, considera que essas fotos amadoras se tornaram as imagens emblemáticas dessa guerra. ‘Cidadãos comuns estão ‘fazendo mídia com suas próprias mãos’ (to take media into their own hands’)’, diz ele. E conclui:
‘This scandal could not have occurred four or five years ago, before citizens (including US troops) achieved the power to be visual reporters. (…) There’s no question that, but for the publication and airing of these photos, the reports of the prisoner abuse would have wound up buried on page A19.’
[‘Esse escândalo nunca teria acontecido quatro ou cinco anos atrás, antes dos cidadãos (incluindo soldados norte-americanos) terem obtido o poder de se tornar repórteres visuais. (…) Sem essas fotos, o escândalo da tortura dos prisioneiros teria sido enterrado na página 19.’]
Cada guerra tem a sua foto emblemática. Os generais americanos torcem para que a foto emblemática dessa guerra seja a de Lynndie English levando um iraquiano na coleira.
Pois a alternativa é muito pior e está deixando os generais sem dormir: a foto emblemática dessa guerra pode estar sendo enviada por e-mail nesse exato momento.
******
Colunista de internet da Tribuna da Imprensa, editor do Guia de Blog SobreSites (http://www.sobresites.com/blog) e mantém o blog Liberal Libertário Libertino (http://www.liberallibertariolibertino.blogspot.com/); e-mail (cruzalmeida@sobresites.com)