Artigo publicado neste Observatório sobre o fechamento de um ‘bordel virtual’ no Rio [veja remissão abaixo] repercutiu na internet: foi citado, comentado, elogiado e linkado em diversos blogs de gente ilustre.
Cora Rónai (http://cora.blogspot.com), editora do caderno de informática de O Globo, escreveu:
‘Nada como um bom repórter na área! O Alexandre Cruz Almeida levantou a história do fechamento do tal bordel virtual; antes, já tinha escrito sobre as garotas de programa da internet.’
Rafael Galvão (http://www.galvao.org), um dos melhores blogueiros do Brasil, chegou ao cúmulo de se referir à matéria como se ela simbolizasse uma verdadeira revolução na mídia:
‘Com o comentário da Cora Rónai sobre o post do Alexandre a respeito do fechamento de um ‘bordel virtual’ no Rio, as coisas ficaram mais claras. Ela tinha razão ao dizer que o Alex foi um bom repórter: e olha que ele fez simplesmente o básico ensinado nas faculdades, ouvir o outro lado – no caso uma das meninas que trabalhavam no bordel virtual. Era algo muito simples de fazer, e que não é prerrogativa de jornalista, mas que por acaso não ocorreu aos jornais. No mesmo dia, o Cauê (sujeito profundamente analógico, mas que está de volta à blogosfera com um entusiasmo do qual eu não suspeitava) diagnosticou: ‘Creio que, no silêncio da rede, [o blog] está criando algo que reverberará fundamente no futuro’.
O Alexandre mostrou algo simples: a produção de informação não precisa mais depender de estruturas institucionalizadas como jornais, rádio, TV, revistas ou mesmo websites. Fazer jornalismo – e bom jornalismo – é algo ao alcance de qualquer pessoa. Pode parecer evangelismo ingênuo, mas a cada dia aumenta minha certeza de que um mundo cada vez mais complexo e mais fragmentado cria necessidades de informação a que os meios de comunicação tradicionais não podem atender.’
Agradeço os elogios. Mas, por um lado, acho que não é para tanto e, por outro, Rafael não me elogiou pela coisa certa.
A revolução híbrida
Assim como a Cora e muitos outros, também me perguntei: afinal, que raio de crime foi cometido? Mas eu me faço perguntas assim o dia todo. Se fosse correr atrás de todas as minhas perguntas, não faria outra coisa na vida. Em geral, eu me faço a pergunta, coço o queixo e esqueço o assunto no instante seguinte. Talvez não tivesse nem escrito um post sobre isso no blog.
Fazer aquela matéria deu bastante trabalho. Só encontrar o telefone da delegacia foi um sufoco, era recém-criada, não estava listada, nem as outras delegacias tinham o telefone. Depois, caçar a delegada foi mais complicado ainda – ela estava no dia seguinte ao caso, assediada por todos os lados, não tinha tempo para nada. Mais difícil ainda foi caçar a Rita e, quando consegui falar com ela, à 1 da manhã, só pôde ser por celular, uma ligação de R$34.
Gosto muito do meu blog, mas JAMAIS teria feito isso tudo só pela satisfação de escrever um post legal.
Se me dei ao trabalho de fazer as perguntas certas e correr atrás das respostas foi só porque eu tenho uma coluna fixa em um jornal diário, sobre aquele assunto específico (internet), e que precisava ser entregue no dia seguinte.
Minha matéria, utilizada como exemplo da tal revolução blogueira que tornaria a mídia impressa quase obsoleta, só existiu porque havia uma mídia impressa por trás do meu blog, me garantindo espaço fixo em uma coluna semanal.
O fato de eu ter reproduzido a matéria no blog é que foi um mero detalhe.
A pergunta que não dependia da sorte
E, se a matéria foi digna de nota, não foi por eu ter calhado de conhecer a Rita (uma questão de pura sorte) e pegar seu depoimento, que nem acrescentou nada de muito concreto à coluna, mas por outra coisa, muito mais óbvia de pensar e muito mais fácil de fazer.
A imprensa pareceu aceitar passivamente o fechamento do tal ‘bordel virtual’ como se fosse algo auto-evidente e obviamente positivo, como se esse crime já tivesse sempre existido, tipificado no Código Penal, como se fosse uma simples notícia de prisão de criminosos comuns.
O mérito, se houve algum, foi questionar a delegada e fazer, na cara-dura, a pergunta que estava na cabeça de todos que pensaram mais de três segundos sobre o assunto: afinal, desde quando é crime mostrar os peitos pela internet no Brasil?
Essa pergunta, sim, qualquer um poderia ter feito.
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Colunista de internet da Tribuna da Imprensa, editor do Guia de Blog SobreSites (http://www.sobresites.com/blog), mantém o blog Liberal Libertário Libertino (http://www.liberallibertariolibertino.blogspot.com/); e-mail (cruzalmeida@sobresites.com)