Conveniência. Talvez esta seja uma das palavras mais recorrentes nos discursos a caracterizarem o conjunto de transformações que a tecnologia digital trouxe para a vida cotidiana nos últimos anos. De transações bancárias às diversas formas de entretenimento; de interações corriqueiras à facilidade em desempenhar determinados trabalhos sem sair de casa. Todas estas tarefas parecem ter sido facilitadas (ou mesmo possíveis) a partir do advento dos chamados new media.
Mas tal conveniência se manifesta para quem e sob quais circunstâncias? Na verdade, é preciso observar que há ocasiões em que o uso das tecnologias digitais de comunicação acaba, de certa forma, comprometendo, por exemplo, a boa qualidade do trabalho desempenhado por agentes de distintos campos profissionais. Vejamos o caso do jornalismo.
A transformação das práticas relativas à produção de conteúdos noticiosos se mostra proeminente a partir da difusão da internet. Sem dúvida, do lado da oferta de informação existe a necessidade de se readequarem equipamentos voltados para capturar, editar e publicar conteúdos. A dimensão técnica dos processos produtivos, contudo, nem de longe é aquela que se mostra mais relevante para a plena compreensão das mudanças que vêm marcando o jornalismo.
Pelo que se pode perceber, dentre outros fenômenos, a exigência feita aos profissionais aumenta sensivelmente, uma vez que, ao munir seus contratados com equipamentos móveis, por exemplo, as empresas exigem a elaboração de conteúdos em maior escala, a fim de alimentar, a cada minuto, seus portais.
Relevância para o consumidor
Se tal lógica frenética não for observada por parte da dimensão produtiva do jornalismo, a audiência facilmente encontra a informação desejada em locais distintos. Em outras palavras, para o usuário a conveniência “salta à tela”; para o produtor de conteúdos, por sua vez, a tarefa de selecionar e de produzir com boa qualidade se apresenta de maneira desafiadora.
Tais transformações indicam, no final das contas, a necessidade de se adotarem perspectivas diferenciadas quando se trata de pensar e de ensinar o jornalismo. Mais do que aconteceu nas décadas passadas, é fundamental compreender dois aspectos: primeiramente, é importante examinar os graus de novas exigências aos quais estão sujeitos profissionais e empresas direcionadas a produzir conteúdos. Em segundo lugar, é indispensável ter em conta os novos elementos que esquadrinham um estatuto inédito da audiência, que agora sustenta-se em um leque mais variado de provedores de informação e também assume funções de fiscalização e participação em rotinas que antes eram circunscritas aos agentes do campo do jornalismo.
Somente na medida em que tais aspectos sejam devidamente considerados é que os projetos na área de jornalismo digital se mostrarão diferenciados e, assim, obterão relevância junto ao universo de consumidores de informação.
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[Francisco Paulo Jamil Almeida Marques é professor do ICA/UFC, pós-doutor em Comunicação Social e doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas (UFBA)]