Há uma virtual unanimidade sobre importância das redes sociais na internet. Depois do sucesso do Orkut entre os internautas brasileiros, a bola da vez é o crescimento impressionante do número de perfis no Facebook e no Twitter. As maravilhas desse movimento têm sido cantadas em prosa e verso tanto entre crianças e adolescentes em busca de entretenimento como nos mais sisudos ambientes profissionais, que identificam nessas ferramentas oportunidades de incrementar sua atividade e seus negócios.
Há quem tenha dúvidas se tudo não passa de mais um modismo high tech, que deve durar até o aparecimento de uma nova plataforma também revolucionária, ou se essas ferramentas vieram mesmo para ficar. Um pouco de ceticismo, nesse caso, será sempre bem vindo. Para não ir muito longe, basta lembrar o que ocorreu com o Second Life, que fez um baita sucesso ao ser lançado, foi incensado como um instrumento inovador de negócios e de relacionamentos, e hoje é parada obrigatória de relativamente poucos aficionados.
Autoridade moral
Na semana passada (segunda, 22/11), em artigo publicado na revista Scientific American (‘Long Live the Web: A Call for Continued Open Standards and Neutrality‘, 22/11/2010), o pesquisador Tim Berners-Lee, um dos pais da web, soltou os cachorros contra as redes sociais no geral e contra a empresa Apple, em particular. Ele argumenta que as redes sociais são uma ameaça ao desenvolvimento da internet porque funcionam em ambientes fechados, operando sob um padrão que, na prática, inviabiliza a indexação das informações e o seu compartilhamento com outros sites. Diz Berners-Lee: ‘Cada página é um silo, isolada das outras. Essas páginas estão na internet, mas os dados, não’. Alertou ainda para o risco embutido no crescimento desmesurado de redes sociais e motores de busca – leia-se Facebook e Google –, os inconvenientes do monopólio e o perigo que isso representa para o livre exercício da inovação. ‘Desde o início da web, a inovação em base contínua é o melhor contrapeso às intenções de qualquer empresa ou governo no sentido de limitar a universalidade da rede.’
Nessa toada, sobrou para a Apple. Ele critica a empresa por estimular a publicação de conteúdos em aplicativos customizados, e não na própria web, num processo que, segundo ele, resulta na criação de ‘ilhas de informação’ isoladas do resto da rede. ‘Quanto mais esse tipo de arquitetura se generalizada, mais a web se torna fragmentada e menos teremos um espaço único e universal de informação’, escreveu.
É apenas um chororô do criador da world wide web? Pode ser. Mas convém não desprezar a sua autoridade moral e atentar para a defesa que Berners-Lee faz dos princípios de neutralidade, dos padrões abertos e da descentralização da rede. No fundo, trata-se de garantir a democracia que sempre esteve na base do desenvolvimento da internet. E de investir contra a exclusão, qualquer exclusão, real ou virtual.