Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Os novos riscos para a Amazon

O novo Kindle Fire, da Amazon.com, será a faísca que mudará o mercado de tablets. Mas também pode queimar a já pequena margem de lucro da empresa. Com o lançamento de um tablet projetado para muito mais que a leitura, a Amazon mira diretamente no iPad, da Apple Inc., que domina o mercado. Mas enquanto a Apple vende barato conteúdo digital, como música, para atrair compradores para os altos preços de seus eletrônicos, a Amazon espera vender tanto o aparelho como o conteúdo a preços baixíssimos.

O Fire, por exemplo, será vendido nos Estados Unidos a US$ 199, menos da metade do preço do iPad mais barato. Ele deve ter um apelo para a variedade ampla de pessoas preocupadas com os gastos atualmente no país, onde o alto desemprego e outros fatores tem inibido o consumo. Pesquisas de consumo da Forrester Research e outras firmas deixam claro que o preço é o critério mais importante para os interessados em comprar um tablet. A Forrester descobriu que as pessoas querem pagar em média US$ 257 pelo aparelho.

Mas há um motivo para outros fabricantes ainda não terem oferecido um preço tão baixo. Uma análise dos componentes de vários tablets, realizada pela IHS iSuppli, descobriu que só os materiais custam US$ 262 ou mais. E isso antes de outros custos, como marketing; a Amazon, como a Apple, usará propaganda na TV para promover o aparelho. Ter prejuízo com os tablets seria suicídio para uma dessas empresas concentradas em vender hardware. Mas não necessariamente para a Amazon. Como enfatizou o diretor-presidente Jeff Bezos, sua estratégia é construir “produtos premium a um preço que não é premium”. A Amazon pode justificar o prejuízo com o aparelho se o tablet impulsionar a lucratividade de seu negócio de varejo, especialmente as lojas de música, vídeo e livros digitais. Bezos até demonstrou a capacidade do Fire de reproduzir vídeo e música e os recursos de leitura de livros.

Ampliando as opções

Claro que há algumas potenciais falhas nessa estratégia. Primeiramente, várias pesquisas indicam que os motivos mais comuns para alguém comprar um tablet é ter e-mail e navegar na internet, mais do que assistir a vídeos, jogar ou ler. Além do mais, se a maioria dos compradores de tablets usar o aparelho para vídeo, há várias fontes online, como YouTube ou Netflix, que não obrigam o usuário a pagar pelo conteúdo oferecido pela Amazon.

Quanto aos livros, a Amazon já tem o livro eletrônico Kindle, com novas versões lançadas quarta-feira (28/9) para promover suas vendas de livros digitais. É claro que acrescentar uma tela colorida pode ajudar a Amazon a vender mais livros infantis com figuras, segmento em que o Nookcolor, da rede de livrarias Barnes & Noble Inc., e o iPad já estão na frente. Mas é importante que quem quer comprar um tablet para ler possa optar pela versão ainda mais barata do Kindle. Mesmo que algumas pessoas até comprem mais música ou vídeo da Amazon, essas vendas não serão muito lucrativas porque a maior parte do dinheiro volta para os produtores de conteúdo. A Apple já afirmou que suas lojas online do iTunes não faturam muito mais que o ponto de equilíbrio contábil.

Certamente que o Fire pode reforçar o valor do serviço Prime, da Amazon, que dá postagem gratuita para a maioria dos produtos comprados na Amazon por US$ 79 anuais. Os assinantes do Prime também passaram recentemente a assistir a vídeos gratuitamente, um serviço que estará disponível no tablet. Embora a seleção atual conte com muitos programas de TV velhos, a Amazon está ampliando continuamente as opções.

Disputa não será equilibrada

Aumentar o número de assinantes do Prime pode impulsionar a participação da Amazon no varejo. A ITG Investment Research já calculou que os assinantes do Prime compram duas a três vezes mais que as pessoas que não participam do serviço. Mas o Prime é um meio caro de ganhar participação no mercado. A porcentagem do custo da Amazon em relação ao faturamento líquido chegou a 4,9% no segundo trimestre, ante 2,8% em 2005, quando o Prime foi lançado. E também há o custo de adquirir o direito para vídeos que estão sendo transmitidos de graça.

A Apple certamente enfrenta agora um verdadeiro concorrente para o iPad. Mas diante dos recursos financeiros vultuosos da Apple – US$ 76 bilhões em dinheiro e aplicações em 30 de junho, doze vezes o da Amazon – bem como do histórico de excelência em software e design, a disputa não será nada equilibrada.

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[Martin Peers é jornalista do Wall Street Journal]