Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Os poderosos também tuítam

O presidente americano, Barack Obama, segue seu colega russo, Dmitri Medvedev, que, por sua vez, segue a Casa Branca. Os dois seguem e são seguidos pelo primeiro-ministro inglês, David Cameron. E os três ignoram outros líderes do G-20, entre eles, a presidente Dilma Rousseff. No Twitter dos poderosos, muito mais importante que o número de seguidores é saber: afinal, quem segue quem na alta esfera do poder mundial?

O diretor de redes sociais do Fórum Econômico Mundial, Matthias Lüfkens, fez um levantamento. Mais de 60 líderes mundiais têm conta no serviço de microblog usado por 175 milhões de pessoas no mundo. Até o governo mais hermético e isolado do planeta, o da Coreia do Norte, tem uma conta no Twitter – usada, claro, para a propaganda do governo comunista do ditador Kim Jong-il.

– Saber quem segue quem revela a importância que cada um dá a suas relações diplomáticas. Depois que escrevemos que Obama, Medvedev e Cameron não seguem outros líderes do G-20, o governo britânico agora decidiu seguir todos os outros líderes do G-20, unilateralmente – constata Lüfkens.

Em número de seguidores, o campeão é Barack Obama, com 6,1 milhões, deixando o francês Nicolas Sarkozy no chinelo, com apenas 6,6 mil. Na América Latina, o venezuelano Hugo Chávez bate recordes, com 1,1 milhão de seguidores. Mas, para Lüfkens, além dos números, o importante é a maneira como os líderes conversam entre si ou com seus seguidores. Chávez, nesse sentido, é único. Costuma enviar mensagens muito pessoais, como quando morreu Nestor Kirchner, ex-presidente e marido da presidente da Argentina, Cristina Kirchner. Ele escreveu: ‘Ai, minha querida Cristina, quanta dor!’

– Chávez responde diretamente a alguns de seus seguidores. É um dos poucos a fazer isso. Há até respostas em inglês. Não acho que ele mesmo envie as mensagens, mas seu assistente realmente transmite o que ele pensa. E deve ser muito próximo, porque frequentemente envia as mensagens de um Blackberry – destaca.

O então presidente Lula nunca abriu uma conta. E Dilma Rousseff começou a usar o Twitter na campanha eleitoral. Com 378 mil seguidores, seu foco é o Brasil – e Dilma não é seguida por Obama nem por nenhum dos grandes líderes do G-20.

– Ela também não segue líderes de outros países, nem da América Latina nem de outras partes do mundo. Sua conta está focada na política interna – observa Lüfkens.

O presidente russo, Dmitri Medvedev, por exemplo, enviou mensagens no Twitter parabenizando Dilma Rousseff pela vitória. Mas não a está seguindo, como faz com Obama ou Cameron. Medvedev, que adora fotografia, posta no microblog fotos de seus encontros com outros líderes. Já o presidente francês, Nicolas Sarkozy, praticamente ignora o Twitter.

– O presidente francês não segue ninguém. Acho que isso diz muito sobre seu governo e os canais diplomáticos usados pelos franceses.

Para Lüfkens, o Twitter está crescendo como instrumento da diplomacia política:

– Aos poucos, muitos líderes vão perceber que é uma boa ideia seguir líderes com quem mantêm relações diplomáticas. Não acho que Medvedev vai enviar uma mensagem diretamente para Obama através do Twitter, mas seus assistentes, por exemplo, podem manter um contato mais pessoal.

Para o público, o Twitter significa que qualquer pessoa pode enviar uma mensagem a um líder. Mas num momento em que o WikiLeaks provoca um escândalo mundial ao expor milhares de telegramas diplomáticos americanos, Lüfkens conclui, rindo:

– Enviar mensagens diretas através do Twitter é provavelmente mais seguro que telegrama diplomático! Por que não?

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Celebridades superam políticos no palanque virtual

Se em 2009 os protestos contra a reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, em Teerã, ou as manifestações condenando a vitória do Partido Comunista na Moldávia consagraram o Twitter como ferramenta de articulação sociopolítica, em 2010, os políticos – inclusive brasileiros – tentaram cativar simpatizantes usando o microblog como um poderoso palanque virtual. As estatísticas, no entanto, mostram que, entre os principais tópicos de discussão do ano passado, somente 3% eram relacionados à arena política. Uma verdadeira derrota eleitoral diante de um público interessado, sobretudo, em celebridades: 28% dos temas mais comentados são ligados a entretenimento, segundo o site Mashable – a maioria dos tweets ainda é ligada a temas particulares de seus usuários.

A presidente Dilma Roussef, por exemplo, foi a segunda personalidade mais citada do ano no Twitter mundial – atrás somente do fenômeno pop adolescente Justin Bieber. Sua conta tem a expressiva marca de 378 mil seguidores. O número, no entanto, fica pequeno se comparado aos mais populares tuiteiros do Brasil, como o jornalista William Bonner e seus mais de 1,1 milhão de seguidores, e os apresentadores Marcelo Tas (1,1 milhão) e Luciano Huck, um recorde no Twitter verde e amarelo: 2,5 milhões de amigos.

Apesar de os 140 caracteres de figuras como Hugo Chávez (1,1 milhão de seguidores), ou da rainha Rania, da Jordânia (1,4 milhão), aproximarem o público do poder, tuiteiros mundo afora não escondem o flerte com o inatingível mundo das celebridades. Contas de astros da música, como o astro adolescente Justin Bieber e seu séquito de 6,4 milhões, ou das telas, como Ashton Kutcher e um exército de 6,1 milhões de fãs, sugerem que, em vez de leis e projetos, o povo quer mesmo é diversão e arte. (Renata Malkes)

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Correspondente de O Globo em Paris