‘Houve tempo em que o Jornal Nacional tinha o maior ibope da Globo. Foi nessa época que as inserções comerciais nos intervalos do telejornal passaram a ser os trinta segundos mais caros da televisão brasileira. O preço na tabela de publicidade continua lá em cima, mas o ibope do JN está abaixo do quinto lugar no ranking de audiência da emissora. O ‘jornal do Boris’, no SBT e depois na Record, também ostentou anos seguidos audiências em torno dos dez pontos; hoje oscila entre três e quatro. A contratação da competente Ana Paula Padrão não deu ao SBT sequer a mesma audiência que o horário já tinha com o decadente Ratinho; idem a Band, depois da estréia do novo âncora, o correto Carlos Nascimento. Conclusão óbvia: os telejornais estão em baixa.
Há pelo menos dois motivos para o crescente desinteresse do publico. O primeiro é a concorrência da internet (que também empurra para baixo as tiragens dos jornais impressos, no mundo inteiro). O número de acessos aos sites de notícias, a começar pelos dos próprios jornais, é cada dia maior. O segundo motivo é a mesmice dos telejornais, que parecem ter sido produzidos pelo mesmo pauteiro. Viu um, viu todos.
Exceto nas grandes coberturas, como nas tragédias de tsunamis e furacões, quando as estruturas mais bem montadas mostram a sua força, os telejornais exibem no dia a dia as mesmas matérias, com as mesmas abordagens e até com a mesma paginação (primeiro bloco, segundo bloco, etc). Quando o telejornal começa o público já sabe onde vai entrar a fala do Lula, o AVC do Sharon, a eleição na Bolívia e aquela materinha simpática e leve, guardada para o ‘boa noite’.
O que falta nos telejornais é aquilo que a Cultura deveria fazer mas não faz: explicar melhor o que acontece. Acredito ser esta a única fórmula capaz de diferenciar o Jornal da Cultura dos demais. Escrevo isso há mais de um ano, a direção da emissora até adotou essa estratégia como sua, tornando-a uma diretriz, mas não adianta. O comando do jornalismo da Cultura aparentemente não sabe como fazer isso.
A Cultura não precisa de um telejornal ‘diferente’, concebido na tal de pauta alternativa – aquela dos assuntos que não estão em pauta. Um telejornal no horário nobre não escapa de registrar os principais fatos do dia e são eles que se pautam. O bom jornalismo não briga com a notícia, ela se impõe. Por isso mesmo os telejornais andam todos muito parecidos uns com os outros. O que sobra como nicho para o Jornal da Cultura é exatamente a possibilidade de oferecer ao seu público algo mais sobre pelo menos um assunto, todos os dias. E que dê ao telespectador aquela sensação de ‘agora sim, entendi’.
Não é fácil produzir diariamente um bloco de dez a quinze minutos sobre um tema do dia e pô-lo no ar às 21 horas. Fácil é fazer o que tem sido feito. Mas também não é um bicho de sete cabeças. Requer apenas inteligência, acuidade, agilidade, equipamento e disposição para o trabalho.’