Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Por que o Google comprou a Motorola

O Wall Street Journal e a revista TechCrunch (da AOL) fizeram duas coberturas distintas da compra da Motorola Mobility pelo Google. O jornal acredita que a compra foi feita para “proteger a plataforma Android de ataques competitivos”, já que o Google não é muito forte em propriedade de patentes. A plataforma é um sistema operacional para smartphones desenvolvido pelo Google a partir do Linux. Diz a reportagem:

“Para o Google, a grande lacuna preenchida é esta: a empresa tem uma carteira de apenas milhares de patentes e é alvo de um volume considerável de processos por [infração de] patentes”, diz Alkesh Shah, analista da Evercore Partners. “A carteira de patentes da Motorola é uma defesa muito forte contra todos esses litígios”.

Com a aquisição da Motorola, e sua imensa carteira de patentes, o “ecossistema do Android estaria protegido” na competição. A explicação do jornal é boa, mas básica demais. Deixa de fora vários fatores muito importantes.

Discurso oficial

A TechCrunh fez uma abordagem bem mais consistente. Em primeiro lugar, o autor assinala que a folha de pagamentos vai “inchar” com mais 20 mil empregados. O Google tinha 26 mil funcionários antes de comprar a Motorola. Depois, ele enumerou as 24 mil patentes desta companhia, agora patrimônio do Google. Entre elas, diz o artigo, a própria patente do telefone celular.

Partindo para o questionamento do significado desta operação, o autor desvenda inequívocos interesses hegemônicos, por parte do Google, na telefonia móvel. Cerca de 30% do mercado de hardware do seu sistema Android agora pertence à firma de Larry Page e Sergey Brin. O Google fingiu desinteresse na área, e deixou que as maiores empresas desenvolvessem o Android ao máximo. Depois entrou em cena, comprou a Motorola, e passou ao segundo lugar entre os fabricantes de hardware para seu próprio sistema operacional.

Ao controlar hardware e software, o Google estabeleceu uma posição privilegiada na telefonia digital. Um golpe de mestre, segundo Greg Kumparak, da TechCrunch.

Google promete manter a Motorola Mobility como companhia separada e concorrente. Mas isso é discurso oficial. Porque seria irracional se eles não tirassem proveito dos lucros que virão junto com as 24 mil patentes que eles agora possuem.

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[Sergio da Motta e Albuquerque é mestre em Planejamento urbano, consultor e tradutor]