O jornalismo online está promovendo mudanças nos hábitos da população brasileira. Ele é uma das fontes primárias e mais baratas de acesso às informações do cidadão. Os números comprovam a mudança no comportamento dos receptores no trato com a nova mídia. Um dos mais acessados portais informativos no Brasil atinge diariamente cerca de 2 milhões de pessoas. Número elevado, se comparado à tiragem dos principais jornais do país. Jornais que têm circulação cada vez menor.
Tal declínio deste veículo de comunicação é, em parte, atribuído ao jornalismo online, que mudou a rotina e agilizou o processo de produção das notícias. Os veículos tradicionais, atualmente, costumam acompanhar o noticiário online, pautando suas matérias, em grande parte, pelo que é publicado na web diariamente. O jornalismo online se transformou numa espécie de ‘termômetro’ do jornalismo brasileiro.
O jornalismo online é o conteúdo informativo (notícia, reportagem, artigo etc.) publicado nos veículos de comunicação que estão na internet. A empresa de comunicação que veicula o conteúdo pode ser ou não especializada no ambiente digital. No Brasil, por exemplo, surgiram portais específicos, enquanto algumas sólidas empresas de comunicação reproduzem grande parte do seu conteúdo impresso na mídia online.
O público e privado
Ser dinâmico e estar sempre atualizado é obrigação do jornalismo online. No entanto, a velocidade e o tempo real não deveriam prejudicar a notícia. Erros de apuração ou revisão não podem acontecer, apesar do ritmo extremamente rápido do noticiário. Mesmo que esta velocidade seja a lógica do mundo pós-moderno. O trabalho do jornalista, seja online, de rádio, TV ou mídia impressa, é pautado pela apuração precisa. Para que isso ocorra é preciso ir à rua, conversar com as fontes, observar, investigar, analisar. Precisa de tempo, mesmo que seja pequeno. Mas, e se o meio de comunicação no qual o jornalista atua não permitir que ele cumpra todas essas etapas com perfeição?
A melhor atitude a tomar é não embarcar na preocupação de publicar primeiro, mas disponibilizar o conteúdo com qualidade e veracidade. Mais vale segurar um pouco a informação e checar com as fontes do que, na ânsia de dar o ‘furo’, pôr a matéria com erros no ar. O jornalismo digital também é feito de circunstâncias. No entanto, a verdade continua o principal pressuposto jornalístico e ético.
Boa parte dos problemas éticos levantados na relação com as fontes refere-se à distinção entre o que é público e o que é privado. Tudo o que afeta o bem-estar da coletividade é público. Então, tudo o que diz respeito à privacidade, à intimidade de uma personalidade deveria ser respeitado, e não publicado? É tão simples, assim? Não, certamente não é. Um dos grandes dilemas éticos do jornalismo contemporâneo é, sem dúvida, conhecer o exato limite entre a privacidade e o interesse público, em conformidade com a responsabilidade social. Tarefa que se torna mais difícil com o passar dos anos, à medida que a tecnologia avança. Exemplo disso são as máquinas fotográficas, cada vez menores, e as câmeras filmadoras, mais potentes e onipresentes.
Reputações em jogo
Existe uma teoria, a qual endosso, que afirma: quanto maior a notoriedade ou destaque da pessoa, seja em nível regional, nacional ou internacional, mais sua intimidade e sua vida privada têm conotação pública. Aí que está a dificuldade do jornalista, saber exatamente até onde pode ir. No jornalismo online o problema é maior ainda, porque o tempo para refletir a respeito é bem menor, e a demanda por informação, bem maior. Qualquer tentativa de distorção dos fatos deve ser prontamente repudiada.
Mas na prática não é bem assim que funciona. Comunicação e jornalismo sempre tiveram estreita ligação com o poder. Não por acaso, grande parte dos políticos tem empresas de comunicação. Internamente, algumas redações costumam sofrer interferências na linha editorial pela área comercial. Ideologia, interesses políticos e econômicos e área comercial continuam existindo no ambiente web. Não custa avisar aos responsáveis pelas redações online: há que separar o joio do trigo.
Outra consideração valiosa: mesmo não existindo ainda legislação específica para a maioria dos assuntos da internet, é de bom senso que o jornalista online tenha preocupação em não distorcer os fatos. Já foi comprovado que o alcance (espaço, local) e a velocidade (tempo) na internet são muito maiores do em qualquer outro meio de comunicação. Ou seja, caso um erro de ética jornalística seja cometido na internet, pode manchar a reputação do veículo ou do jornalista em questão de minutos.
Código específico
O sensacionalismo costuma explorar as emoções de forma exagerada. Trata dos aspectos da vida privada em sua dimensão de dor e tragédia, julgando cidadãos muitas vezes de modo preconceituoso. A espetacularização e o sensacionalismo são desvios éticos, originários do mau uso do discurso narrativo e dos recursos tecnológicos utilizados pelos media. Tais práticas, na teoria, se justificam como forma de captar a audiência. Em contrapartida, o jornalismo online de qualidade deve valorizar a diversidade cultural e as informações de cunho educativo. É possível perceber, entretanto, que veículos tradicionais de prática sensacionalista estão mantendo tal comportamento na web, com fotos manipuladas, frases e imagens de impacto e exagero de recursos técnicos.
A fotografia merece atenção redobrada na web. Não há justificativa para montagem e manipulação. O Photoshop serve para ‘tratar’ a imagem, não deve ser usado para distorcê-la. Os efeitos visuais também não admitem exageros, jornalismo é comprometimento. Webdesigner e webwriter devem trabalhar juntos para privilegiar a informação, sem vaidades estéticas no layout do site. Uma dica é sempre manter a objetividade: a boa navegação ajuda o internauta a encontrar com facilidade o conteúdo que procura.
O governo federal já deu mostras de que defende a inclusão digital. Em função disso, e de todas as particularidades do meio online, como tempo real e riqueza dos recursos técnicos do jornalismo online, em que atuam juntos escrita, áudio e imagem, é plausível que comecemos a pensar e a elaborar um código de ética específico para o jornalismo online. Se rádio e TV têm, por necessidade funcional o jornalismo online também precisará do seu.
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Jornalista online