Um dos pontos de maior alteração no contexto da internet é a percepção da credibilidade de um ator ou informação. Se antes essa estaria fundamentalmente ligada a uma fé depositada no autor em si mesmo, agora um outro fenômeno começa a colocar-se em primeiro plano: a construção de uma teia de credibilidade, isto é, a capacidade de um leitor poder conferir o teor de uma notícia ao longo de uma cadeia de pontos em uma estrutura lógica.
Dessa maneira, não se pode mais entender a credibilidade como um atributo em si de determinado ator, mas como uma relação dentro de uma estrutura mais ampla de confiança. Isso coloca os jornais tradicionais frente a um duplo desafio: primeiro, o estabelecimento de ricas relações com o maior número possível de fontes de informações para reforçar sua própria credibilidade; segundo, o abandono de antiga forma de pensar a si mesmo como único intermediário, como poder em si, capaz de moldar a forma de ver o mundo de uma sociedade.
Se o primeiro desafio exige uma adaptação difícil, o segundo coloca a atual imprensa frente ao seu verdadeiro dilema existencial. De fato, o maior desafio para a sobrevivência dos jornais é a crença dos proprietários dos meios de comunicação em sua capacidade de controle social. Abrir mão desse controle em nome de uma relação de maior transparência, maior democratização na cobertura, maior pluralidade de opiniões, constitui o desafio em si.
Falta de autoconfiança
Os blogs tem crescido justamente explorando essa vulnerabilidade, tornando evidente a manipulação e a seleção mal intencionada de informação. Dessa maneira, a blogosfera tem criado uma efeito gravitacional muito forte em relação à teia de credibilidade. Essa ainda está em amadurecimento, ainda necessitando dos meios tradicionais de informação para poder sustentar-se. Contudo, à medida que novos interlocutores ganham credibilidade na blogosfera, o processo de conferência de um fato passa a poder ser realizado mais e mais dentro da própria blogosfera. Quando a teia se fechar, a mídia tradicional será inútil.
Outro ponto que está sofrendo profunda alteração é crença da mídia tradicional em ser a opinião pública em si. Hoje, esse sofisma está em vias de desaparecer. Sua constituição se deu em razão da mídia tradicional ter detido por um período o monopólio da comunicação entre os próprios cidadãos – isto é, só me era possível saber o que grande parte de meus pares pensava se eu tivesse acesso a essa informação através da mídia, e essa fazia se passar por seu porta-voz.
Em nossos dias, uma busca instantânea no Google ou Twitter trends fornece imediatamente essa informação, temos acesso imediato a pesquisas de opinião em tempo real. Não é preciso comprar jornais para saber o que o mundo pensa. A grande lacuna talvez esteja em uma certa falta de autoconfiança da blogosfera e da twittosfera em si mesma, em tomar a peito o fato de ser hoje a verdadeira opinião pública, podendo exercer o poder como tal.
A vontade do povo
Há poucos dias, muitos meios de comunicação sentenciaram as manifestações do assim chamado ‘fora Sarney’ como mal-sucedidas em razão de não terem tido um impacto presencial em manifestações públicas proporcional à sua repercussão na internet. Contudo, a razão de ser de um protesto não é reunir pessoas, mas demonstrar de forma decisiva a opinião de grande parte da população de forma a conduzir a uma constatação, uma prova de sua vontade, levando tanto à efetivação dessa vontade quanto à conquista de mais adeptos a sua causa.
Assim, uma manifestação virtual, como as realizadas via twitter, não pode ter seu sucesso medido segundo os parâmetros de uma manifestação convencional, como se uma manifestação virtual não fosse de fato um protesto real, precisando se traduzir no denominador comum de reunião física de pessoas para que tivesse valor. O que deve ser admitido nesse caso não é que o protesto não obteve sucesso, mas sim, que o Congresso Nacional não tem agido conforme a vontade do povo. Esse é o ponto, a verdadeira realidade a ser entendida, não que o protesto não obteve sucesso como a mídia tradicional quer fazer crer.
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Estudante de Engenharia na Poli-USP, São Paulo, SP