Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Público

‘Após algum tempo de afastamento da ribalta mediática, devido a uma cirurgia estética, Silvio Berlusconi – primeiro-ministro italiano, presidente do AC Milan, detentor de três canais privados de televisão – encontra-se novamente envolvido em situações polémicas. Tudo aconteceu no passado domingo, quando Berlusconi telefonou para o programa desportivo Domenica Sportiva, da televisão estatal RAI 2, e monopolizou 20 minutos de antena a falar das tácticas de jogo que o clube a que preside deveria adoptar, das suas glórias desportivas, e, aproveitando a oportunidade, a discorrer acerca do mal que a esquerda faz à Itália.

Depois do intervalo publicitário que se seguiu aos comentários do controverso primeiro-ministro, Lucia Annunziata, presidente da RAI, telefonou para o programa e, também em directo, mostrou a sua indignação face ao sucedido. Considerou que a intervenção não era mais do que um ‘spot publicitário’, e pediu a Berlusconi para ‘evitar ocupar espaços televisivos que não são se destinam às questões políticas’, cita o diário italiano ‘La Repubblica’. Aos responsáveis do programa, Annunziata disse: ‘Lembrem-se que é a RAI quem paga os vosso salários, e não Berlusconi.’

Durante o telefonema dos ‘vinte minutos’, a presidente da estação pública contactou Fabrizio Maffei, o responsável máximo pelo programa Domenica Sportiva (o programa desportivo de maior audiência), afirmando-lhe que ‘o show não podia continuar.’ Maffei veio, no entanto, explicar que o acto de Berlusconi não foi espontâneo, pois o Domenica Sportiva tinha contactado o AC Milan com o intuito de entrevistar o seu presidente – não tendo havido porém resposta a esse pedido. ‘Nós só fazemos jornalismo’, declarou.

Paolo Cento, do partido político ‘Os Verdes’, referiu que ‘as regras sobre a informação foram mais uma vez violadas. Berlusconi passeia-se em todas as transmissões televisivas, como no regime ditatorial.’

O registo crítico é partilhado por Gianni Rivera, antiga estrela da formação milanesa e ex-deputado de centro-esquerda: ‘Começou a campanha [para as eleições europeias e municipais] e isso é tudo o que interessa a Berlusconi. A televisão é um meio que ele utiliza para atingir os seus fins.’

Não é a primeira vez que a presidente da RAI critica Berlusconi publicamente. No princípio do mês acusou-o de tentar influenciar a programação da televisão estatal, procurando assim controlar seis das sete televisões italianas emitidas em sinal aberto. ‘Sei por certo que Berlusconi pega no telefone e liga aos membros do conselho de administração da RAI para sugerir nomes e influenciar a escolha de programas’, referiu então.

Após o ‘lifting’ que realizou na Suíça, o primeiro-ministro italiano tinha já dado um ar da sua (antiga) graça. Insurgiu-se contra os ‘juizes comunistas’, chamou ‘ladrões’ aos políticos – concluindo por isso que ‘está moralmente justificada a evasão aos impostos – e ordenou a utilização de dois pontas de lança ao treinador do AC Milan, Carlo Ancelotti. O seu AC Milan acabava de derrotar por 3-2 o velho rival Inter FC’



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‘O PROTESTO: Anunciantes Boicotam ‘Reality-show’ em Itália’, copyright Público (www.publico.com.br), 27/02/04

As empresas Nestlé, Ferrero e Elah-Dufour-Novi decidiram suspender os seus espaços de publicidade associados ao programa Bisturi – que passa no horário nobre da cadeia de televisão Italia 1, detida por Silvio Berlusconi -, indo assim ao encontro do apelo da associação de pais Moige. Este ‘reality show’ transmitiu na terça-feira em directo uma cirurgia plástica a uma mulher. Maria Rita Munizzi, presidente da Moige, declarou que ‘com a implantação em directo de uma prótese mamária, entre golpes de bisturi e jactos de sangue, batemos no fundo do mau gosto’, cita a AFP. Chamando a atenção para ‘os limites da ‘decência’ e ‘respeito’ para com os menores, Munizzi promete que a campanha contra o Bisturi durará até que o programa termine. A Nestlé, tal como os outros dois anunciantes, declarou que não queria vincular a sua marca ‘a eventos mediáticos de gosto duvidoso.’ Após duas horas de cirurgia, já com novos seios implantados, uma rapariga italiana declarou, segundo o ‘La Repubblica’, ter ‘concretizado um sonho.’’




BIG BROTHER ÁRABE

Folha de S. Paulo


‘Protestos tiram ‘Big Brother’ árabe do ar’, copyright Folha de S. Paulo, 2/03/04


‘O canal de TV árabe por satélite MBC suspendeu ontem a versão árabe do programa ‘Big Brother’ devido aos protestos que estavam sendo feitos contra a produção no Bahrein. Desde sua estréia, no último dia 22, parlamentares e telespectadores do país do golfo Pérsico pediam o cancelamento por considerarem o programa indecoroso e ofensivo ao islã.


Na sexta-feira passada, cerca de mil pessoas fizeram um protesto contra o programa aos gritos de: ‘Parem o ‘Sin [pecado] Brother’. Não à indecência’.


No Parlamento, deputados ameaçaram convocar o ministro da Informação para prestar esclarecimentos. ‘Somos um país islâmico, com nossas próprias tradições. Esse programa contamina a moral de nossas crianças’, disse o parlamentar Jasim al Saeedi.


‘Essa decisão quer evitar que a MBC e seus programas sejam acusados de ofender valores, costumes e moral árabes’, declarou em nota oficial a emissora de propriedade do xeque Walid al Ibrahim, cunhado do rei Fahd, da Arábia Saudita. No entanto há informações contraditórias sobre se o canal MBC resolveu cancelar em definitivo o programa. Uma porta-voz da emissora declarou à rede britânica BBC que dificilmente o ‘Big Brother’ voltará. Já à agência de notícias Reuters, um funcionário da TV afirmou que ele poderia regressar à programação depois que a produção fosse transferida para outro país.


‘Fiel à realidade’


Em seu comunicado, a MBC, que tem sede em Dubai (Emirados Árabes Unidos), faz a defesa do formato do programa. ‘Esse tipo de show não constitui desafio ou problema social maior do que a maioria dos filmes e séries. Na verdade, é mais fiel à realidade do que filmes e novelas.’


O ‘Big Brother’ estreou em 1999 na Holanda, com enorme sucesso. Já teve mais de 70 versões produzidas em 24 países -sendo transmitido para um público potencial de cerca de 2 bilhões de telespectadores, segundo a Endemol, detentora dos direitos sobre a atração. No programa, os participantes são confinados em um local fechado e têm a sua vida monitorada 24 horas por dia por câmeras de TV.


Intitulada ‘Al Rais’ (o chefe), a versão árabe do ‘Big Brother’ proibia homens e mulheres de entrar nos quartos uns dos outros -ao contrário de todas as outras produções anteriores. Outras mudanças introduzidas visando agradar aos mais conservadores foram a criação de um recinto para orações e um salão exclusivo para as mulheres.


Os 12 concorrentes eram de 12 diferentes países do Oriente Médio. No primeiro dia de exibição do programa, apenas uma das seis mulheres vestia o ‘abaya’ (tradicional manto negro).


Sem ter a mesma oposição que o ‘Big Brother’, foi encerrada ontem a transmissão do primeiro ‘reality show’ exibido pela TV árabe. O ‘Al Hawa Sawa’ (juntos no ar), uma espécie de ‘Namoro na TV’, colocou oito mulheres em contato com possíveis noivos em Beirute (Líbano). Também exibido pela MBC, o programa terminou sem conseguir promover nenhum casamento. Com agências internacionais’



WOLF vs. BLOOM
Folha de S. Paulo

‘Revista aponta acusação contra Bloom’, copyright Folha de S. Paulo, 26/02/04

‘A escritora americana Naomi Wolf publicou um artigo sobre abusos sexuais que teria sofrido do professor e crítico literário Harold Bloom na última edição da revista ‘New York’, que chegou às bancas na última terça-feira com ‘Sexo e Silêncio em Yale’ como manchete de capa.

Segundo Wolf, ‘no fim do outono de 1983, o professor Harold Bloom fez algo banal, humano e destrutivo: ele colocou sua mão na parte interna da coxa de uma aluna -uma aluna que ele havia sido encarregado de ensinar e formar’. A autora tinha na época 20 anos e cursava Literatura na Universidade de Yale, uma das mais prestigiadas dos EUA, onde Bloom ainda leciona.

Wolf, autora de ‘O Mito da Beleza’ -sobre o efeito dos padrões de beleza sobre as mulheres-, diz que não denunciou Harold Bloom antes porque ‘não foi corajosa o suficiente’, e acusa a universidade de manter até hoje a ‘atmosfera de colusão que ajudou a me manter calada há 20 anos’. No final do artigo, Wolf afirma que ‘se uma estudante de Yale viesse a mim hoje com um mau segredo para contar (…), eu a aconselharia a procurar um bom advogado’.

Em uma carta aos estudantes de Yale divulgada também na terça-feira, a direção da universidade diz que a intituição ‘proporciona um ambiente no qual todos os membros da nossa comunidade sentem que seu crescimento intelectual e suas pesquisas não estão comprometidos com comportamentos indesejados ou impróprios’. Para a instituição ‘o abuso sexual é uma afronta à dignidade humana e é contrário aos valores da universidade’.

‘O artigo da srta. Wolf sugere que Yale não leva a sério as queixas registradas e que não são tomadas providências. Ao contrário, suspeitas e acusações formais têm sido encaminhadas e julgadas com extrema seriedade, e penas que vão de reprimenda ao afastamento de Yale têm sido aplicadas’, continua a carta.

Também feminista e ex-aluna de Bloom, a escritora Camille Paglia saiu em defesa do professor, dizendo que Wolf está promovendo uma ‘caça às bruxas’.

Paglia disse ao ‘New York Observer’ que achava ‘indecente’ o fato de Naomi Wolf recuperar o assunto depois de tanto tempo, e que levar ‘um homem septuagenário com problemas de saúde’ a uma discussão do tipo ‘ele disse/ ela disse’ demonstra falta de um senso mínimo de jogo justo’.’



CHINA / OSCAR
Jose Reinoso

‘China multiplica cobertura do Oscar’, copyright O Globo / El Pais, 25/02/04

‘Onúmero de filmes estrangeiros exibidos na China pode ser minúsculo, e alguns deles censurados, mas isto não impediu que as autoridades de Pequim tenham decidido liberar um pouco mais a celebração da cerimônia da entrega do Oscar, que será realizada no próximo domingo em Los Angeles. Segundo a agência de notícias chinesa Xinhua, novos canais de TV se somarão este ano à difusão do evento, que apenas no ano passado pôde ser visto pela primeira vez pelos chineses.

‘Mais espectadores chineses assistirão este ano à cerimônia do Oscar em canais nacionais, porque mais cadeias de televisão adquiriram os direitos de transmissão desse grande espetáculo global’, diz um despacho da agência. A informação não esclarece, no entanto, se as imagens serão transmitidas ao vivo ou se terão um pequeno atraso que permita evitar surpresas. Em 1993, o ator e apresentador Richard Gere mostrou sua simpatia pelo Tibete, defendendo a independência do território que a China reivindica como seu. É normal os sinais da britânica BBC ou da americana CNN serem cortados no país quando citam algum tema sensível ao governo, como o Tibete ou o movimento de inspiração budista Falun Gong, proibido por Pequim.

A Televisão Central Chinesa (CCTV) e a primeira cadeia local de filmes, Xangai East Movie Channel (SEMC), lançada no fim de 2003, são duas que compraram os direitos. A China possui mais de 2.000 cadeias de televisão, com mais de 4.000 canais, dos quais 50 podem transmitir para todo o território nacional via satélite.

País vai ter salas modernas em centros comerciais

Segundo Xiao Hong, vice-diretor da SEMC, a tarifa para a transmissão da cerimônia do Oscar não chega a dois milhões de yuanes (190 mil euros), ‘muito menos que o preço de uma competição desportiva, que normalmente custa milhões de dólares’.

A China se encontra em pleno processo de internacionalização e gosta de grandes eventos e do glamour que rodeia o espetáculo de cinema. E ainda que em todo país haja apenas, atualmente, 1.200 cinemas, com cerca de 2.000 salas, nos próximos anos surgirão dezenas de grandes salas e complexos multinacionais, como o da americana Warner Bros. O grupo Time Warner está imerso num ambicioso plano de abertura de cinemas em sociedade com o grupo de centros comerciais Wanda. Em dezembro, o governo chinês autorizou investidores estrangeiros a assumir até 75% das empresas de exibição em seis cidades: Pequim, Xangai, Guangzhou, Chengdu, Wuhan e Nanjing. Até então, só podiam ser sócios minoritários.’