Nuvem é a palavra da moda no mundo da tecnologia e seus grandes negócios. Lindo, não? Imagem poética, a da nuvem flutuando no céu azul da internet, como um velho “papel de parede” do sistema Windows da Microsoft. A nuvem representando a mobilidade da informação. É engraçado como a computação adora metáforas: teia, rede, raiz, vírus, verme, nuvens…
Nuvem quer dizer o uso, por pessoas ou empresas, de uma infraestrutura tecnológica de terceiros, como computadores, plataformas e softwares, disponíveis o tempo todo, de qualquer lugar. A expressão vem do inglês cloud computing. Nuvem é a evolução da chamada arquitetura da computação, que tentarei resumir em um parágrafo.
Fase 1, o main frame: um computador central de grande porte ao qual podiam estar ligados muitos usuários/terminais. Fase 2, cliente-servidor: computadores (chamados de clientes) ligados em rede a outros computadores, mais potentes (chamados de servidores). Fase 3, nuvem: infraestrutura, computadores e softwares disponíveis remotamente 24 horas por dia.
A nuvem é o símbolo perfeito da era da mobilidade. A nuvem só existe porque a internet existe. A nuvem é 100% dependente da internet, para o bem e para o mal.
Não há SAC e Procon não pega
Uma empresa pode pagar a terceiros um preço fixo ou pagar de acordo com o volume de serviços ou recursos que vier a usar. Não precisa mais adivinhar de antemão quanto precisará usar de tecnologia e infraestrutura no futuro próximo. Terceiriza esse problema. A nuvem quebra barreiras físicas. Permite a sincronia de dados de um mesmo usuário (como agenda de contatos, compromissos, documentos, músicas…) em aparelhos diferentes (desktop, notebook, tablet, celular…). Facilita os serviços compartilhados e a colaboração profissional. E serve como backup.
O marketing das empresas que vendem a nuvem usa e abusa do apelo “verde”. Dizem que, com a nuvem, cada empresa só compra o que gasta, evitando para si e para o planeta desperdícios substanciais em equipamento, em energia etc. A nuvem surgiu antes para as pessoas do que para as empresas. Serviços grátis como o GMail, hospedagem de fotos como o Flicker ou de vídeos como o YouTube nada mais são do que nuvens: computadores remotos onde coloco minhas coisas e acesso quando quiser.
O problema é que quando os serviços são gratuitos não costuma haver grande compromisso por parte da empresa com relação ao público. Uma empresa onde você guardou com carinho suas coisas pode resolver fechar da noite para o dia, e você terá de reclamar ao bispo, porque SAC não há e o Procon não pega.
Baboseiras e palavrões
Não que serviços pagos não possam falhar. Podem, e muito. A nuvem não é mais segura que a arquitetura anterior. Mas como diz o especialista em tecnologia e segurança Nelson Novaes Neto, “o maior risco é não conhecer o próprio risco”. Outro problema é o abuso. Outro dia um velho amigo me pediu para ser fiadora num contrato de locação. O formulário a preencher veio como documento Google. Cliquei, me apareceu uma planilha Excel piorada, mas preenchi o básico e mandei de volta ao amigo. A má surpresa veio depois. Recebi um e-mail padrão do Google informando que agora, que eu havia tido a felicidade de usar aquele serviço, meu documento estava armazenado por eles e que eu poderia rever ou trabalhar com terceiros aquele documento pela internet.
Certo. Mas eu pedi isso para o Google? Eu autorizei o Google a armazenar informações pessoais e financeiras minhas na internet? Irritada, cliquei no link que me enviaram e tive o desprazer de ver que, sim, estava tudo armazenado. E, depois de muito procurar, sem encontrar, um botão para simplesmente apagar o documento, substituí por baboseiras e palavrões os campos antes preenchidos com meus dados pessoais. Tive de salvar um a um cada campo da planilha. Não gostei.
Não voltarei a usar. Mas foi a maturação desse tipo de arquitetura de computação que trouxe ao mercado empresarial, anos depois, o cloud computing.
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[Marion Strecker é jornalista, cofundadora e consultora do UOL; twitter.com/marionstrecker]