O lançamento no Brasil, recentemente, do primeiro modelo de broadband TV (televisores com acesso direto a conteúdos da internet) não passou de forma despercebida pelos radiodifusores. E, claramente, não os deixou confortáveis com a possibilidade a chegada de mais um elemento para disputar a atenção do consumidor e o espaço na tela.
A primeira broadband TV do Brasil, fabricada pela Samsung, é capaz de acessar conteúdos do Terra, do YouTube e de outros parceiros de conteúdo, desde que conectada à banda larga. Ela foi o centro de um debate encabeçado por Fernando Bittencourt, diretor de tecnologia da TV Globo, no Congresso da SET na quinta-feira (27/8).
Logo no início, aparentemente de forma acidental, a TV, que estava conectada em banda larga, exibiu um vídeo do YouTube recheado por palavras de baixo calão em inglês. O operador do controle remoto da TV ultra moderna levou algum tempo para conseguir apertar o botão ‘pause’, o que acabou arrancando gargalhadas da plateia.
Bittencourt lembrou, antes de iniciar os debates, que a internet é um ambiente desregulamentado. ‘Isso tem impactos, já que a TV tradicional tem regras como classificação indicativa’, disse.
Bittencourt afirmou ainda que a TV ‘cada vez mais se confunde, em termos tecnológicos, com o computador’ e destacou que, graças ao acesso à banda larga, passa a contar com oferta ilimitada de conteúdo. Contudo, destacou que a TV, tradicionalmente, é um equipamento que proporciona uma experiência coletiva de assimilar conteúdo e questionou se não haveria agora um antagonismo, já que a internet seria uma mídia ‘individual’. ‘Será que, ao buscar um conteúdo no YouTube na TV da sala, o sujeito não vai desagradar ao restante da família?’, perguntou.
TV individual
Virgílio do Amaral, diretor de tecnologia da TVA, discordou de Bittencourt, afirmando que o conceito da TV única na residência vem perdendo relevância. ‘80% dos assinantes de TV têm dois pontos ou mais na casa. Não vemos mais como uma mídia de família, mas como algo segmentado dentro da residência’, disse o executivo.
A TVA, em parceria com a Telefônica, oferece em alguns bairros de São Paulo um serviço de vídeo sobre fibra, no qual trafega, além dos canais lineares da TV por assinatura e de canais pay-per-view, vídeo sob demanda através de uma locadora virtual com 600 títulos. Bittencourt lembrou que a TV também está mudando, tendo um salto de qualidade com o HD. ‘A alta definição está trazendo a família para a sala novamente. Durante muitos anos, isso vai perdurar. No quarto não tem alta definição’, disse.
Tiago Ramazzini, diretor do centro de competência de internet do Terra, afirmou que o compartilhamento da TV na sala pode também ser natural. ‘Uma família pode eventualmente buscar uma notícia sobre o clima, ou sobre o resultado do jogo do Grêmio’, disse. O executivo do Terra destacou que o portal hoje oferece apenas conteúdos na forma de widgets, aplicativos que se sobrepõem às imagens da televisão. A ideia é que no futuro o portal também ofereça vídeo, sempre de forma gratuita, com modelo de negócios baseado em publicidade.
Receitas
Sobre a publicidade, Rodrigo Köpke Salinas, advogado do escritório Cesnik, Quintino e Salinas, afirmou que colocar estes aplicativos, sobretudo com publicidade, sobre o conteúdo da TV aberta, fere os direitos autorais do radiodifusor, dono do conteúdo. ‘A sobreposição de conteúdos só é possível se houver autorização do titular do conteúdo’, disse.
Questionado por este noticiário se o conceito não seria o mesmo do antigo recurso de picture-in-picture, embarcado em alguns televisores e que permite assistir mais de um canal simultaneamente, Salinas disse que não. Segundo ele, no picture-in-picture há uma separação do conteúdo, seja quando a tela está dividida em dois, seja quando um segundo conteúdo é sobreposto, desde que com uma margem o separando do conteúdo do canal.
Bittencourt destacou que em mercados mais avançados, que já contam com este tipo de dispositivo há mais tempo, a audiência da TV não caiu. ‘Apenas 20% dos broadband TVs estão efetivamente ligados à internet’, disse. ‘Mas é uma questão de criar o hábito’, admitiu.
Amaral, da TVA, finalizou com uma provocação. Para ele, o grande desafio dos radiodifusores é para manter a audiência. ‘Como fica o horário nobre com a segmentação e a oferta ilimitada de conteúdo? Se o canais abertos perderem o futebol, por exemplo, a competição fica difícil’, disse.
******
Do Tela Viva News