O Senac e o Google promoveram, há dois dias [quarta, 10/6], um simpático evento chamado Mobile Day, apresentado ao mesmo tempo em dez cidades brasileiras. A ideia era mostrar a jovens interessados em marketing, comunicação, design, tecnologia da informação e mundo digital em geral como o celular está presente na vida de todos nós. Não que eles não saibam, evidentemente – mas ainda há no mercado uma grande resistência ao óbvio.
“O ano de 2015 vai entrar para a História como o ano em que os dispositivos móveis ultrapassaram os desktops como ferramentas de busca e de consumo.” Esta frase abriu o evento, e é confirmada por uma rápida pesquisa na internet: no final do ano passado, os consumidores ingleses fizeram mais compras através de dispositivos móveis do que de computadores; em janeiro, dados colhidos nos Estados Unidos revelaram que os usuários recorrem mais a aplicativos de celulares e de tablets para acessar a internet do que a programas instalados em desktops e notebooks; e, há um mês, o Google confirmou que a maioria das buscas é feita hoje em smartphones. A tendência é universal, e não tem volta; as vendas de PCs nunca caíram tanto quanto no ano passado, ao passo que a adoção de smartphones continua crescendo no mundo todo.
Apesar disso, diz o povo do Google, as marcas brasileiras não têm acompanhado essa transformação. Seu investimento na área móvel está em reles 5%. Por trás dessa distorção há um conjunto de mitos facilmente desbancados pela realidade:
– O país está na frente da TV.
Até está; mas 67% dos que veem TV também assistem a vídeos na web, e a metade desses vê mais vídeos na web do que na TV. Além disso, seis em cada dez espectadores usam o smartphone ou o tablet enquanto assistem à TV, e 70% deles prestam mais atenção ao dispositivo móvel.
– Smartphones são para ricos e jovens.
Errado. Há 48,3 milhões de usuários de smartphone na Classe C, que movimenta R$ 495 bilhões em renda própria anualmente. E 62% dos usuários de dispositivos móveis têm mais de 25 anos.
– Smartphones são usados apenas para redes sociais e entretenimento.
Por incrível que pareça, apenas 28% do tempo que as pessoas gastam no celular são usados em redes sociais e entretenimento. Os restantes 72% são ocupados com bancos, mapas, fotos, apps de empresas, buscas, e-mail, comparação de preços, compras.
– Ninguém faz compras nos sites móveis.
Não é bem assim; 86% dos usuários de smartphones fazem pesquisas de compras em seus aparelhos. A sua importância na cadeia de consumo não pode ser medida apenas pelo último clique.
Segundo os especialistas do Google, o uso da internet móvel é muito diferente daquele ao qual estávamos acostumados, e que se resumia a uma única e longa sessão de navegação. Hoje o comportamento do consumidor pode ser mais bem descrito como uma sucessão de “micromomentos”, aquelas interações fragmentadas que acontecem ao longo do nosso dia – uma espiadinha na fila do banco, outra na sala de espera do consultório, ou no ônibus, no táxi, na sala de cinema enquanto o filme não começa… enfim, naqueles espaços antes em branco que aprendemos a preencher com os nossos gadgets. Nossos celulares nos acompanham por toda a parte, e olhamos para eles mais de 150 vezes por dia.
Até eu, que vivo com o aparelho na mão, me espantei com esse número!
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Cora Rónai é colunista do Globo