Motivos não faltam para a rádio independente Voz do Povo, do Zimbábue, encerrar suas transmissões no país: seus escritórios foram destruídos por uma bomba, seus repórteres foram agredidos e presos, seu sinal foi cortado e seus diretores, acusados de operar a estação sem licença, podem ser condenados à prisão. Mesmo assim, a equipe de seis jornalistas em tempo integral e 15 freelancers continua lutando contra a repressão à mídia por parte do governo do presidente Robert Mugabe.
Os habitantes do Zimbábue conseguem ter acesso à programação da rádio porque ela é gravada digitalmente e enviada por e-mail para uma estação na Holanda, que a retransmite ao Zimbábue via um transmissor em Madagascar. Conseguir manter uma estação de rádio independente funcionando é uma tarefa difícil no Zimbábue, onde o governo já usou leis repressivas para fechar quatro jornais, expulsar correspondentes estrangeiros e proibir todas as emissoras de rádio e televisão privadas de funcionarem no país.
História de determinação
Por estas razões, a emissora recebeu o prêmio especial One World Media, da One World Broadcasting Trust. A premiação homenageia os meios de comunicação que realizam a cobertura da vida política, social e cultural de países em desenvolvimento. ‘Este é um grande reconhecimento de nossa determinação em dar voz às pessoas que não têm voz no Zimbábue’, afirmou John Masuku, diretor-executivo da emissora, ao receber o prêmio em Londres no começo de junho.
Criada em 2000, em meio a uma crise humanitária, econômica e política, a Voz do Povo transmite uma hora de programação diária com notícias, opinião e debates nas três principais línguas do Zimbábue: inglês, shona e ndbele. A estação é financiada por instituições filantrópicas e atinge uma audiência estimada de 500 mil ouvintes. As pessoas ouvem a Voz do Povo secretamente no Zimbábue, pois correm o risco de ter a ajuda de comida confiscada se forem pegas ouvindo a emissora.
Violência e ameaças
Em um dia de agosto de 2002, o jornalista Shorayi Kuriwa quase foi morto quando deixava a estação, por volta de meia-noite. ‘Cerca de dez minutos depois que eu saí do escritório, uma bomba explodiu o teto e o destruiu. Ninguém ficou ferido, mas o fogo derreteu todo nosso equipamento’, conta. ‘Foi assustador, mas decidimos que isto é a nossa missão e não apenas um trabalho’. Dois anos depois, Kuriwa foi agredido por pessoas que apóiam o governo e teve o nariz e uma perna quebrados. Além disto, o jornalista já foi preso diversas vezes.
A rádio freqüentemente transmite entrevistas com funcionários do governo. ‘Este é o nosso trabalho mais perigoso’, afirma o repórter Davison Mudzingwa. ‘Durante as eleições parlamentares de 2005, nós tentamos entrevistar candidatos do partido governista Zanu-PF. Alguns deles foram muito hostis e ameaçaram nos prender’, conta. Abordar temas políticos é importante porque a rádio estatal Zimbabwe Broadcasting Corporation tornou-se um veículo de propaganda governamental. Informações de Andrew Meldrum [The Guardian, 12/6/06].