Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

The Washington Post também quer reduzir off the record

The Washington Post, a exemplo do que fez The New York Times, reformulou sua política de uso de fontes anônimas. Em carta para os leitores, publicada no dia 7/3, o editor-executivo Leonard Downie Jr. explica que foi estabelecido um amplo debate na redação, sobre como diminuir os erros de informação na era do jornalismo multimídia, em que as decisões têm de ser tomadas com rapidez cada vez maior.

Downie enumera regras muito semelhantes às do Times [veja remissão abaixo], observando, no entanto, que o uso de fontes não-identificadas, por vezes, é necessária. O escândalo de Watergate, que derrubou o presidente Richard Nixon nos anos 70, por exemplo, só chegou às páginas do Post com todo seu impacto graças ao uso de informantes anônimos. Contudo, o hábito de se aproveitar da facilidade de citar informações sem explicar ao leitor sua origem deve acabar. Sempre que o nome do personagem não puder ser explicitado, o repórter terá de dar o máximo de detalhes sobre o motivo pelo qual é mantido confidencial.

Assim como no Times, os repórteres do Post têm de contar a seus editores quem são as fontes que estão citando. Uma diferença do jornal de Washington para o de Nova York é que o primeiro adotou como norma não alterar citações. O entrevistado que fala errado ou não é claro o suficiente para que o leitor entenda não deve ser citado entre aspas. Em geral, é comum que os jornalistas coloquem palavras ou frases com ordem alterada na boca dos entrevistados, com o intuito de melhorar a legibilidade do texto.

Segundo comentário de Jack Shafer na Slate [8/3/04], a maior dificuldade com a nova política do Post deve ser encontrada pelos repórteres que cobrem o governo federal, para os quais o uso de declarações off the record são praxe. Para piorar, o governo Bush é uma das mais fechadas que já ocuparam a Casa Branca. O presidente faz poucas coletivas e, quando as faz, se esforça para não dizer nada aproveitável. Os funcionários de alto escalão, por sua vez, seguem à risca uma estratégia de comunicação conjunta, de modo que nunca falam algo fora do script. Assim, o diário, ao deixar citações anônimas de lado, estaria perdendo muitas notícias e, por conseqüência, abrindo espaço para os concorrentes. Por outro lado, de acordo com Shafer, Downie não é do tipo que institui regras e depois as deixa de lado. Assim, só uma leitura atenciosa do Post nos próximos dias poderá mostrar o rumo tomado pelo jornal.