Sendo um microblog integrado a uma rede social, o Twitter é, desde sua criação em 2006, uma das ferramentas virtuais de maior popularidade no mundo. Ele permite que seus usuários enviem e leiam atualizações pessoais de outros contatos de forma simples e rápida – os textos de cada mensagem não podem passar de 140 caracteres. Sobre esta revolução tecnológica que arrebanha cada vez mais utilizadores, a IHU On-Line conversou, por telefone, com o professor Alex Primo. Pesquisador na área de escrita colaborativa de hipertextos e conversações online, ele abordou as principais contribuições do Twitter para a comunicação atual.
‘O Twitter não apenas permite um relacionamento social, como também profissional e jornalístico. Muitas empresas jornalísticas e instituições midiáticas fazem uso do Twitter para divulgar os títulos de suas matérias e trazer mais leitores, isso por si só já é uma inovação para a comunicação social’, revela Alex. Ele também tratou do uso do microblog por celebridades, das polêmicas geradas em torno da privacidade, e dos preconceitos em torno do uso da ferramenta. ‘A maior parte dos mal entendidos sobre o Twitter é justamente neste sentido, as pessoas acham que as outras utilizam somente o Twitter. Elas esqueceram-se da utilização do e-mail e as outras ferramentas?’, questiona Alex.
Alex Primo é professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da UFRGS. Possui mestrado em Jornalismo (Ball State University) e doutorado em Informática na Educação (UFRGS). Atualmente coordena o Laboratório de Interação Mediada por Computador (LIMC). Confira a entrevista.
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O Twitter revolucionou a comunicação?
Alex Primo – Certamente, o Twitter é uma grande inovação, porque permite que as pessoas escrevam espontaneamente, durante várias vezes ao dia, e não apenas falem sobre o que elas estão fazendo. Isto era a intenção geral do Twitter, e esta é a pergunta da página inicial do site, mas ele também pretende que as pessoas compartilhem notícias, procurem emprego, troquem informações sobre as áreas em que atuam. É, realmente, um compartilhamento de informações e uma construção de conhecimento coletiva. Costuma-se pensar que, como há poucos caracteres disponíveis (140), que tudo é superficial e que não há um maior interesse nas coisas que as pessoas escrevem. Porém esta é uma visão muito rápida do potencial do Twitter. É preciso observar durante todo o dia o que acontece no microblog. Se a pessoa chega lá, dá uma olhadinha e vai embora, ela não percebe sua real importância.
Então, o que ele representa para a comunicação?
A.P. – A inovação do Twitter é colocar em contato rápido e ágil uma série de pessoas que têm interesses semelhantes. Outras ferramentas já poderiam fazer isso, como um fórum e uma comunidade do Orkut, mas a instantaneidade e até o limite de caracteres faz com que essa comunicação seja ainda mais veloz. Vai colocar pessoas em contato, com interesses compartilhados em torno de uma conversação muito ligeira. O Twitter não apenas permite um relacionamento social, como também profissional e jornalístico. Muitas empresas jornalísticas e instituições midiáticas fazem uso do Twitter para divulgar os títulos de suas matérias e trazer mais leitores, isso por si só já é uma inovação para a comunicação social.
José Saramago escreveu que o Twitter revela que temos uma ‘tendência ao monossílabo’, e que ‘… de degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido’. O que o senhor acha sobre isso?
A.P. – O José Saramago andou tendo uma série de entrevistas polêmicas sobre Twitter e sobre os blogs, ele mesmo fechou seu blog. Pela relevância que o Saramago tem, ficamos realmente atentos às críticas que ele colocou. Eu, por exemplo, uso Twitter, mas não me considero uma pessoa monossilábica. Também tenho blog, escrevo para revistas e jornais e sou professor. O Twitter é mais uma ferramenta que eu uso. A maior parte dos mal entendidos sobre o microblog é justamente neste sentido, as pessoas acham que as outras utilizam somente o Twitter. Elas esqueceram-se da utilização do e-mail e as outras ferramentas? Essa crítica do Saramago, infelizmente, é imprecisa. É polêmica, boa para gerar uma reflexão, mas não é uma crítica precisa.
Em três anos, o Twitter já tem cerca de 50 milhões de usuários. A dimensão que ele tomou no último ano é em função do uso que Obama deu a ele em sua campanha?
A.P. – Eu não vincularia o crescimento do Twitter necessariamente à campanha do Obama, até diria o oposto. O Obama só usou porque o Twitter vinha crescendo. E não cresceu porque as pessoas viram que o Obama estava usando, pelo contrário. Mas, claro, não posso dizer que isso não tenha repercutido e trazido mais interesse, só não é uma relação direta. O Twitter já vinha crescendo, e, à medida que a celebridades passaram a utilizá-lo, houve mais interesse e curiosidade para as pessoas que estavam fora ainda. Agora, não é porque as pessoas da comunicação de massa e presidentes estão lá, que o Twitter cresceu, ele já vinha em uma curva ascendente.
Uma pesquisa revelou que 90% dos conteúdos veiculados no Twitter são produzidos por apenas 10% dos seus usuários. Como você analisa essa produção de conteúdo em 140 caracteres?
A.P. – Há muitas pessoas que, de fato, pouco escrevem, outras escrevem muito. As que escrevem pouco ou nada preferem ficar acompanhando as outras que escrevem, elas seguem pessoas que elas respeitam. Mas não quer dizer, necessariamente, que elas não tenham nada a dizer em lugar nenhum, é um uso que elas estão fazendo do Twitter. Eu diria que é o uso correto dentro das expectativas que essas pessoas têm. Um dado que saiu, e deixou as pessoas muito preocupadas, é que os novos assinantes do Twitter o usavam durante um mês e depois não entravam mais. Entravam, decepcionavam-se, ou não entendiam como funcionava, e voltavam. A conta do número de assinantes que existem hoje no mundo não confere com as pessoas que realmente visitam o site. As pessoas chegam no site, seguem uma ou outra pessoa, a timeline não anda, tem pouca coisa escrita e elas acham sem graça. O Twitter fica interessante quando a pessoa segue muitas pessoas, começa a se comunicar. Então, talvez, as pessoas não estão entendendo como é que funciona.
Que tipo de informação desperta maior interesse no Twitter?
A.P. – Isto depende de quem está usando. Não posso dizer qual a melhor, a correta ou que desperta mais atenção, pois isso depende de cultura também. Aqui no Brasil, percebemos que circula muito aquilo que é humorístico e polêmico, isso desperta muita atenção, circula muito rápido. Mas isso varia de país para país, é difícil de analisar. O melhor uso é aquele que a pessoa dá. Ninguém vai dizer que deve ser usado daquele jeito ou de outro, cada um usa como achar mais conveniente.
Como fica o privado, em sua opinião, com o Twitter?
A.P. – Eu mesmo tenho Twitter e não coloco ali informações minhas privadas. Sei muito bem que o que escrevo é lido por outras pessoas, então filtro aquilo que eu quero que as pessoas leiam. Uso mais em virtude da minha atividade profissional, como professor e pesquisador de cibercultura, faço alguns testes sobre essas ferramentas, mas não coloco minha vida particular. As pessoas têm esse conhecimento que estão colocando alguma coisa que outras pessoas podem ler, então elas aprenderam a fazer essa seleção. O Twitter permite mensagens privadas, que são mensagens diretas. Eu, volta e meia, mando mensagens diretas para amigos, porque não quero que os outros leiam. É preciso saber administrar a ferramenta.
O Twitter tem condições de continuar sendo gratuito?
A.P. – Certamente. Ele continuará sendo gratuito, não resistiria se passasse a ser cobrado. Eles estão desenvolvendo agora novas ferramentas para que o site se torne rentável, como, por exemplo, a recente parceria do Twitter com a Microsoft e o Google, que tem um acerto para poder usar o mecanismo de busca dele. O Twitter se tornará rentável não cobrando de seus participantes, mas de empresas que têm interesse no banco de dados e nas informações que o site tem à disposição.
O microblog pode gerar uma ‘geração Twitter’?
A.P. – Não chamaria de geração Twitter, pois é a mesma geração MSN, Orkut, blog, essa geração que está na Web 2.0. O Twitter é mais uma dessas ferramentas, então chamar de geração Twitter seria ‘forçar a barra’. As pessoas que estão no Twitter também estão em outras ferramentas da Web 2.0. E, as pessoas que estão nesse serviço, estão se informando, brincando, socializando, gerando conteúdo, é uma geração muito atenta. Qualquer crítica de que não se tem o que dizer, que hoje as pessoas estão menos informadas, é porque não compreendem o que se está fazendo ali dentro. Temos uma geração Web 2.0, que é muito bem informada. Todos os lados, tanto o profissional quanto o cotidiano, e o lado social vão escorrendo através de várias mídias, sendo o Twitter uma delas. Mas ele leva ao Orkut, e o Orkut leva para o blog, que leva ao MSN, e assim por diante.