Há quase dois meses no ar, o site em espanhol LaInformacion.com é um dos portais de notícias já feitos que melhor têm aproveitado as novas ferramentas de comunicação na web, como redes sociais e o Twitter.
Por trás da página, está o jornalista Mario Tascón, ex-executivo do grupo de comunicação que edita o jornal El País, onde foi responsável durante 8 anos pelo conteúdo digital do grupo Prisa. Tascón liderou a guinada do jornal espanhol rumo à abertura de conteúdo gratuito na web desde 2005.
Porém, há quase um ano deixou o grande veículo de comunicação para experimentar a ‘liberdade de reinventar o modelo’ de um site informativo, nas suas palavras.
Primeiro surgiu o blog 233grados.com, uma página que discute o futuro dos meios de comunicação. O nome ‘233 graus’ é a temperatura em Celsius em que o papel pega fogo, uma referência ao título do livro Farenheit 451, de Ray Bradbury. O 233grados.com ganhou o prêmio de melhor blog em espanhol pelo The Bobs ano passado.
Em seguida, veio o ambicioso projeto de criar o principal portal de notícias em espanhol, que o que pretende se tornar o ‘LaInformacion.com’, no ar desde o fim de abril. A página se baseia em um modelo piramidal, em que as informações são geradas por três fontes: jornalistas, usuários e ‘robôs’ que vasculham à web pelas notícias mais importantes, semelhante ao que a página de notícias do Google faz.
Em entrevista por telefone ao ‘Link’, Mario Táscon fala sobre os projetos de seu novo portal e as dificuldades dos veículos de comunicação em lidar com o conteúdo online.
***
Em uma entrevista sua ao Link, em 2005, você disse que as empresas de comunicação deveriam entender as características da internet para conquistar o público. Esta é uma das razões para ter saído de um grupo grande de comunicação, como o Prisa? Não era possível tratar os meios digitais como mereciam?
Mario Táscon – Em parte. Mais do que não entender, o grande problema dos grandes grupos de comunicação é que não podem ser empreendedores como deveriam. Estão centrados demais no negócio tradicional, e aquilo que deveriam fazer na internet é contraditório e ameaça o negócio principal. É um tema que transcende o Grupo Prisa. Não foi o motivo da minha saída, mas creio que é um problema que está acontecendo.
Esta situação impedia-o de desenvolver projetos que gostaria?
M.T. – Sim, mas não acho que é só o meu caso. É muito generalizado.
O que pretendia fazer de diferente no novo site, LaInformacion.com?
M.T. – Basicamente queria desenvolver um veículo na internet sem nenhuma das desvantagens associadas a uma empresa de comunicação tradicional. Claro que há vantagens quando se está dentro de um grupo grande, mas havia barreiras. Pareceu uma boa ideia ter uma nova marca na rede porque teríamos uma liberdade que a princípio não tínhamos. Poderíamos trabalho dentro de um cenário de liberdade informativa para reinventar o modelo de um portal noticioso. Se fosse um site de um grupo teríamos que reformá-lo. Aqui podemos inventar esse modelo novo.
Esse modelo é a ideia da pirâmide?
M.T. – Sim. Costumo explicar que trabalhamos com três fontes. Para nós é muito importante o trabalho com máquinas, mas também é muito importante o trabalho dos profissionais. Entendemos que só um modelo de máquinas não funciona nos dias de hoje. E também – algo que já virou um lugar-comum na internet – é o conteúdo que os usuários incorporam ao meio. Esse conceito, esse triangulo é uma das ideias básicas que estamos trabalhando nesse momento.
Claro que cada vez incorporamos mais coisas no lado profissional em vez de conteúdo organizado por máquinas. Cada vez há mais artigos próprios e de colaboradores. E também vamos melhorando a participação do usuário. Lançamos agora um perfil no Facebook. Quando um usuário está logado, pode se integrar ao LaInformacion, ler notícias no mural e fazer comentários.
Há uma ferramenta do Twitter também.
M.T. – Temos ferramentas de distribuição de informação pelo Twitter e pelo Facebook. Temos dado muita atenção a elas. Também incorporamos as informações que circulam no Twitter, por exemplo, a área de tecnologia para ver o que as pessoas estão comentando sobre esses temas.
O caso do Twitter é um exemplo (de barreira de inovação). É complicado convencer uma empresa tradicional que o Twitter é uma fonte de informação. É complexo explicar que se pode ver no Twitter comentários sobre política nacional.
Quando esteve no Brasil , se falava muito que os portais deveriam abrir a participação para o público, criar conteúdo multimídia, etc. São coisas básicas hoje. O que se deve esperar para o futuro, ou para agora? Quais são as próximas ferramentas que se deve prestar atenção?
M.T. – Quando estive aí no Brasil, se não me engano, um dos elementos principais eram os blogs naquele momento. Parecia que tudo era blog, incluindo a web. Era a moda. Creio que são muito importantes, claro, mas o seu papel já está mais estabelecido hoje.
Outra moda eram as redes sociais. Também vamos aprendendo melhor o que são. Mas não está ocorrendo o mesmo que os blogs. Ninguém espera que substituam a internet, mas são um elemento importante para comunicar, para distribuir notícias. Estão, de certa maneira, criando novos mundos para os usuários, novas relações.
Mas creio que um tema futuro importante é a reorganização das próprias redações. Está claro que as redações do jeito que conhecemos não vão existir mais. Não podem. Para mim, devem ser redações em rede, mais descentralizadas e com um modelo menos hierárquico. Senão, não há maneira de sobreviver. Também se deve fazer acordos com blogs. Por exemplo, em LaInformacion temos parceria com a rede de jornalistas GlobalPost e colaboramos com eles.
É certo dizer que a qualidade da informação na internet é pior ou melhor?
M.T. – Não. Creio que isso é um bordão. Existem muitos sites de informação de altíssima qualidade na internet, sem dúvida nenhuma. Mas também há muitos sites sem nenhuma qualidade. Mas eu digo que, sobre temas de economia ou de tecnologia, por motivos evidentes, as melhores informações que se pode encontrar estão na internet. Outras áreas também, como gente, televisão, artes e cultura, no sentido de programação de espetáculos. Há sites na internet de alta qualidade fora dos meios convencionais. Pelo menos em espanhol é assim, mas acho que em português também.
É por isso que outro dia o slogan do LaInformacion dizia ‘então, o papel tem futuro?’
M.T. – Bom, nós achamos que o papel tem futuro, sim, mas de outra maneira. Não faço parte dos pessimistas que pensam que o meio impresso vá acabar em 5 ou 10 anos. Creio que levará muito mais tempo porque ele também está se reinventando.
Como acha que o Twitter deve causar impacto para as empresas de comunicação?
M.T. – O Twitter é uma ferramenta muito nova para descrevê-la corretamente. Ainda precisamos de tempo para entender o que ele é. Mas é evidente que, para o jornalismo convencional, o Twitter tem sido uma grande ferramenta. No LaInformacion, nós temos experimentado, por exemplo, a transmissão de informações diretas pelo Twitter. Funciona muito bem porque obriga a ser muito conciso para enviar mensagens curtas.
Estamos incorporando algumas características dessa ferramenta. Por exemplo, o cabeçalho de LaInformacion, é diferente de outros meios porque tem uma mensagem de ‘estado de ânimo’. O LaInformacion tem estado de ânimo como as pessoas nas redes sociais. É uma maneira diferente da comunicação que cruzamos com o Twitter.
E nosso perfil no Twitter não é só informativo, mas também emocional. Comunicamos coisas com os usuários de maneira menos formais e evitamos algumas regras jornalísticas. Porque fazemos as reportagens, mas nos escapa o lado emocional, se o jornalista está contente porque deram um prêmio a um cientista espanhol ou se o Barcelona ganhou a Liga dos Campeões. É algo que nos aproxima como seres humanos.
O Twitter não cumpre apenas a função de transmitir informação, mas é também de passar sensações e funciona.
******
Jornalista