Um dos editores do Verge, importante site de tecnologia, chamou a apresentação feita por Elon Musk na semana passada de “a melhor já feita” para o anúncio de um novo produto. No mundo do Vale do Silício, pelo qual já andou Steve Jobs, este não é um elogio que se faz assim, à toa.
Musk nasceu na África do Sul, tem 43 anos. É dono de quatro empresas. A Tesla, mais conhecida, faz carros elétricos. A SpaceX tenta produzir foguetes espaciais. A SolarCity vive de arrendar a preço baixo painéis de captação de energia solar. E, na sexta-feira, ele anunciou a Tesla Energy. Seu produto é uma bateria.
Antes que alguém pergunte: sim, uma bateria pode ser um produto revolucionário. Esta anunciada por Musk, por exemplo, periga chegar lá.
Não foi uma apresentação particularmente bem ensaiada. Musk é um geek, cara meio sem jeito, sua risada tem um quê de bocó. A mensagem, porém, foi forte. Ele esboçou uma possibilidade de futuro bastante próximo no qual a energia solar substitui combustíveis fósseis.
A bateria se chama PowerWall. Mede 1,2 metro de altura por 90 cm de largura e 15 cm de espessura. Pode ser pendurada numa parede ou mesmo embutida. O modelo com capacidade de gerar 10kWh custará, nos EUA, US$ 3.500. É o equivalente ao consumo médio de uma residência americana.
Inicialmente, a bateria foi criada para que, pendurada numa garagem, pudesse carregar um automóvel elétrico. Tornou-se algo maior por conta da energia solar.
O truque não é complicado de entender. O Sol gera energia, e muita. Temos, através dos painéis dispostos nos telhados, a capacidade de capturar parte desta energia. O problema difícil de resolver era o da armazenagem. Que tipo de bateria poderia ser carregada ao longo do dia para devolver energia à noite? Este é o papel que cabe à PowerWall.
Musk tem planos ambiciosos para sua nova criação. Ela será divulgada no padrão open source, de forma que outros possam reproduzir a tecnologia. A PowerWall, portanto, poderá ser fabricada por vários concorrentes. E, daí, se espalhar.
Os primeiros a comprá-la talvez sejam pessoas que vivem em regiões com energia intermitente. (Uma parte do interior do Estado do Rio, servida pela Ampla, se encaixa aqui.) No momento em que a energia cai, a bateria assume o funcionamento normal da casa.
Daí, num pulo, percebe-se que é o tipo de tecnologia que pode repetir o fenômeno do telefone celular. Um bom pedaço do mundo não chegou a ser cabeado para telefones fixos. Antes que as empresas tivessem fôlego para levar os fios até longe, os consumidores já tinham celulares nas mãos. O mesmo pode acontecer com cabos de energia elétrica. Antes de chegarem, painéis solares e PowerWalls alimentarão com energia limpa o interior de muito canto rico ou pobre do mundo.
Há uma versão industrial da PowerWall. Chama-se PowerPack. Nas contas de Musk, 160 milhões de PowerPacks alimentariam de eletricidade os EUA. Dois bilhões, o mundo. Neste cenário, a produção energética com base em combustíveis fósseis despenca e um grid de milhões de telhados no planeta, cada qual com seu conjunto de painéis, recolhe energia, mantém o consumo da família e devolve para uma rede elétrica bidirecional o excedente.
Uma bateria pode ser revolucionária.
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Pedro Doria, do Globo