A expressão ‘bloguismo de maledicência’, cunhada neste Observatório pelo jornalista Walter Falceta Jr. no artigo ‘O filósofo, a crise e o kibe‘, aplica-se com pertinência ao colunismo online que cobre a atual crise política. No entanto, ela não dá conta de todas as impropriedades cometidas pelos nossos ‘blogueiros-jornalistas’.
A história da incrível mentira replicante que se alastrou rapidamente pela grande imprensa foi, talvez, a face mais abominável da discutível atuação dos blogs. A rave da Granja do Torto revelou-se como grau máximo (ou não) do ímpeto inquisitório que desabou sobre a república petista. Antes dela, a rede cibernética dos blogs tem-se incumbido sistematicamente de apontar os equívocos do governo, do PT e o modo canhestro como Lula tem se comportado durante a crise sem, todavia, atentar para o contraditório.
Excetuando-se os blogs pessoais que, na maioria das vezes, apenas expressam opiniões do senso comum, os ditos ‘jornalísticos’ deveriam ter uma preocupação maior com o tipo de informação que veiculam. Por sua própria natureza, o mínimo que se espera de um blog jornalístico é diversidade. Chama atenção, neste sentido, o papel desempenhado pela página de Ricardo Noblat.
Apenas repercutir o que diz a grande imprensa – uma espécie de superclipping eletrônico – é muito pouco para quem pretende funcionar como mídia alternativa. Às vezes, tem-se a impressão de que Noblat não se desgarrou do mainstream, sentindo-se como linha auxiliar do que diz e pensa a grande imprensa.
Barrigadas sectárias
Mas, cadê o contraditório, onde estão os pensadores ‘à margem do sistema’? Não adianta afirmar que vários articulistas escrevem no blog, porque muitos deles apenas endossam o que é dito pela grande mídia. Qual o critério de seleção das notícias? Por que a cobertura explicitamente contrária ao governo (caso do Estado de S.Paulo que, inclusive, professou-se pró-candidatura de José Serra às vésperas da eleição de 2002) é priorizada em detrimento dos veículos supostamente alinhados ao Planalto (caso da CartaCapital)?
Por que não se verifica uma única alusão à revista Caros Amigos? Por que outros partidos não recebem o tratamento inquisitorial que o PT vem recebendo? O caixa dois é exclusivo do partido? A corrupção pregressa, como defende o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, pertence mesmo à história? Onde fica a cobertura verdadeiramente democrática? Cadê os artigos da Agência Carta Maior? Onde estão os comentários de Emir Sader e de outros ‘petistas’? E, finalmente, que patrulha é essa sobre tudo o que diz e pensa Marilena Chauí?
Antes que se fale em tentativa de desviar o foco das denúncias, é bom dizer que não estamos num tribunal do Santo Ofício. O próprio PT está experimentando do seu veneno, de quando era oposição. A disputa partidária é renhida e os políticos costumam faturar em cima de todo e qualquer deslize dos adversários. A imprensa sabe disso, mas vem embarcando na mesma onda de pré-julgamentos, num clima catártico de caça às bruxas.
Está certo, um blog não é um ombudsman da imprensa como este Observatório. Contudo, seria mais digno assumir sua diretriz editorial do que posar de ‘isento’ e ‘democrático’. Funcionar como vocalizador diário e obstinado do que pensam Civitas, Marinhos, Mesquitas e Frias revela-se tão ou mais nocivo do que escancarar-se em barrigadas sectárias.
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Relações-públicas, Salvador