Desde as últimas eleições norte-americanas, após a bem-sucedida campanha de Barack Obama, discutem-se as possibilidades oferecidas pela internet em relação aos próximos pleitos – notadamente, no Brasil, sua importância nesta sucessão presidencial. As perspectivas soam animadoras: baixo custo, democratização do espaço (acessível a quaisquer partidos), interatividade e participação direta do eleitor, convergência com outros meios e acesso aos jovens em seu ‘habitat’ natural. Interessante, certo? Nos Estados Unidos. Aqui, havemos de convir, a questão é um pouco mais complexa.
O proclamado ‘milagre’ na escalada vitoriosa de Obama é, na verdade, uma evolução – inteligente, sem dúvida – influenciada pelas experiências anteriores e pela cultura do país. O presidente não só deu continuidade ao caminho aberto por Howard Dean em 2004 (governador do estado de Vermont que concorreu às prévias do Partido Democrata pela presidência e que soube, como nenhum outro anterior, dispor dos recursos online a seu favor), como inovou, fazendo excelente uso das redes sociais ao adequar o tom de seu discurso a cada público, singular e heterogêneo. Atraiu a solidariedade dos jovens, que se mobilizaram em favor de sua campanha e saíram a campo para defendê-la. Arrecadou, por fim, uma quantia recorde, o que permitiu o bom desempenho não apenas na Web (somente no Google, foram gastos 16 milhões de dólares), mas também nas mídias tradicionais – união sem a qual o resultado poderia ter sido diverso.
A evolução brasileira, por outro lado, emperra em suas dificuldades. Sociais, culturais, legais. Pesa-nos a baixa penetração popular ao ambiente digital, a falta de interesse da juventude por assuntos políticos e uma legislação restritiva – recentemente alterada, porém ainda restritiva. Há alguns dias, para exemplificar, o TSE negou uma ação do Ministério Público Eleitoral que solicitava a retirada de um blog particular que intercede pela candidatura de Dilma Rousseff. Aparentemente, uma resolução acertada. O ponto emblemático é que, em seu parecer, o relator do caso, ministro Henrique Neves, afirma que ‘manifestações de apoio, ainda que expressas (…), bem como críticas ácidas que não transbordem para a ofensa pessoal, quando emanadas de pessoas naturais que debatem política na internet, não devem ser consideradas propaganda eleitoral’ e declara, ao mesmo tempo, que resguardado o direito à livre expressão, ‘não se pode permitir que essa manifestação ofenda princípios constitucionais de igual relevância ou afronte as leis vigentes’ e que, diante disso, pode-se ‘determinar a suspensão do conteúdo veiculado em representação que identifique o responsável pelo conteúdo ou em ação cautelar que busque tal identificação’.
Por ora, nenhuma revolução
Como, todavia, discernir entre um e outro? E mais: se na internet todos os pleiteantes têm chances iguais (ao contrário do Horário de Propaganda Eleitoral Gratuito, com duração proporcional aos partidos com representação no Congresso), como é que, ao veicular mensagens de apoio, ou fazendo propaganda, um simpatizante pode estar infringindo a lei? Como é que o concorrente A poderia ser prejudicado pela exposição excessiva do B em um blog, se aquele teoricamente tem à disposição instrumentos semelhantes?
É relevante, óbvio, o fato de que vivemos o boom das redes sociais. Diferentemente de 2006, quando que era vetado aos candidatos utilizar a blogosfera e ter perfis nessas redes, no pleito atual tais iniciativas são liberadas. Os presidenciáveis já estão no Twitter, no Orkut, no Facebook, em blogs. Não basta, entretanto, integrar o mundo virtual. Há que se capturar a atenção do eleitorado.
Hoje temos, em média, 66 milhões de internautas – um terço da população – que acessam a web menos em busca de informações políticas do que de entretenimento. Pouco, é claro. De todo modo, sempre podemos contar com os chamados formadores de opinião, aqueles que têm poder de decisão sobre seus grupos e comunidades. Como chegar a eles? Como conquistar-lhes a afinidade e convencê-los a se tornarem aliados? Nossa pretensão, aliás, será somente percorrer a trilha já desbravada pelos norte-americanos, ou teremos capacidade de inovar, de conciliar as ferramentas disponíveis com nossa realidade e nossas necessidades? Expectativas à parte, dado o cenário vigente, o que se pode constatar é que, por ora, não haverá nenhuma revolução.
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Estudante de Jornalismo, Rio de Janeiro, RJ