Instituto localizado em Washington tem a difícil tarefa de explicar a complexidade do nosso país ao público americano
Em trinta e cinco anos no ofício de jornalista, trinta dos quais como correspondente internacional, o que mais fiz foi traduzir o mundo para os leitores de duas revistas e dois jornais brasileiros. Nos últimos dez, dediquei-me à tarefa oposta, ou seja, traduzir o Brasil para o mundo a partir do Woodrow Wilson International Center for Scholars. Localizado no centro da capital americana, o Wilson Center é um memorial nacional ao 28º presidente dos Estados Unidos.
Dirijo desde setembro de 2006 o Brazil Institute, um dos 15 programas do Wilson Center e o único em Washington exclusivamente voltado ao estudo, análise e debate de políticas públicas brasileiras. A tarefa é explicar o país na sua complexidade, com suas virtudes, problemas e dilemas, a plateias de pesquisadores, estudantes, funcionários e executivos dos três ramos do governo americano, de 177 embaixadas em Washington, de empresas e associações empresariais, bem como de organizações não governamentais e instituições multilaterais sediadas na capital americana.
O trabalho inclui escrever artigos, dar e facilitar palestras e entrevistas sobre temas brasileiros em universidades, associações empresariais e a grupos interessados em assuntos internacionais em cidades americanas. O desafio maior é conectar pessoas e ideias. Woodrow Wilson, professor e reitor da Princeton University, dizia que era importante existir um espaço no qual aqueles que governam e os estudiosos da arte de governar pudessem se encontrar e trocar ideias e experiências, para benefício mútuo e da sociedade. O Wilson Center é esse espaço.
Um exemplo é o trabalho sobre estabilização econômica que Persio Arida escreveu durante um período de cinco meses de residência no Wilson Center depois de concluir o doutorado em economia no Massachusetts Institute of Technology (MIT), em 1984. O texto propôs a adoção de uma moeda de transição capaz de quebrar o ciclo vicioso da superinflação que castigou o Brasil durante décadas. Enriquecido nos dez anos seguintes por um intenso debate, tornou-se pedra fundamental do Plano Real.
Hoje, além de dar visibilidade nos Estados Unidos aos debates em curso na sociedade brasileira, concentramo-nos em temas específicos. Um deles é a demanda da sociedade pelo fim da impunidade e a afirmação do primado da lei. No ano passado, inauguramos uma série de palestras sobre o assunto.
O Brazil Institute atua em duas outras áreas. Uma é a promoção da cooperação científica e tecnológica entre o Brasil e os Estados Unidos com vistas à maior internacionalização do ensino superior, da pesquisa de políticas e estratégias de inovação. Em abril deste ano, realizamos no MIT e no Wilson Center a Sexta Missão Parlamentar Brasileira sobre Inovação, com apoio da Interfarma.
Durante os feriados da Semana Santa, nove deputados e três senadores de dez partidos buscaram, em debates com especialistas americanos e brasileiros, respostas a uma pergunta que não cala: por que o Brasil produz excelentes cientistas mas pouca inovação?
Trabalhamos no mesmo tema com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), facilitando a organização de simpósios e outras atividades acadêmicas voltadas ao estímulo de pesquisas colaborativas entre cientistas e estudiosos dos dois países. A outra área de interesse é a sustentabilidade ambiental do planeta, na qual o Brasil tem papel central como detentor da maior reserva de biodiversidade do planeta e padrinho da Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade e Mudança Climática, firmada no Rio de Janeiro, na histórica Cúpula da Terra, em 1992.
Em abril deste ano, falei sobre a atual crise brasileira a duas plateias em Des Moines, capital do estado de Iowa. Em maio deste ano falei em Ashville, no oeste da Carolina do Norte, a convite do Conselho de Relações Exteriores local. Repeti lá que as crises e angústias nacionais, hoje evidentes também nos Estados Unidos, não mudarão a aposta que motiva e orienta o Brazil Institute do Wilson Center: os interesses e valores que aproximam as sociedades brasileira e americana são mais fortes do que os que as separam.
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Paulo Sotero é diretor do Brazil Institute do Wilson Center.