Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Após apelo do “povo”, Irã bloqueia Google

O Irã apertou o cerco à internet ao bloquear ontem o site de busca Google e seu serviço de e-mail gratuito Gmail sob pretexto de retaliar a divulgação do trailer anti-Islã filmado nos EUA que gerou revoltas em países islâmicos. O corte havia sido anunciado na véspera pelo governo, que também confirma planos de criar uma internet nacional possivelmente isolada da rede mundial. “Atendendo a pedidos do povo, Google e Gmail serão bloqueados em todo o país até nova ordem”, disse à mídia estatal no domingo Abdolsamad Khoramabadi, assessor do órgão que regula e censura a internet.

Agências de notícias iranianas afirmaram que a medida é uma represália pela recusa do Google em retirar do seu site de vídeos, o YouTube, o filme Inocência dos Muçulmanos, que satiriza o profeta Maomé. Apesar da alegação de que a censura atende uma demanda popular, houve poucos protestos no país. A Folha constatou que boa parte dos iranianos não estava interessada na polêmica.

Não está claro por quanto tempo os sites ficarão bloqueados, mas especula-se que a medida seja temporária. Enquanto o bloqueio vigorar, internautas iranianos continuarão navegando livremente graças a programas antifiltros que permitem acessar todos os sites vetados, incluindo o da Folha.

Pressões para que a rede nacional seja complementar

Em fevereiro, o governo conseguiu anular os programas antifiltros. O bloqueio geral, que durou três dias, foi amplamente visto como alerta de que os engenheiros do governo são mais poderosos que os da sociedade. Teerã alega que o Ocidente usa a internet para fomentar a dissidência e minar as fundações da República islâmica, além de frear o programa nuclear com vírus informáticos devastadores. Nesse contexto, o regime disse no domingo ter implementado a primeira fase de uma internet nacional, segura e moralmente lícita.

“Nos últimos dias, todas as agências e escritórios governamentais foram conectados à rede nacional”, disse Ali Hakim-Javadi, vice-ministro das Comunicações. A segunda fase, segundo ele, conectará os cidadãos à rede, que deve operar plenamente em meados de 2013.

Alguns setores, inclusive dentro do governo, pressionam para que a rede nacional seja complementar, mas não corte a internet global.

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[Samy Adghirni, de Teerã, da Folha de S.Paulo]