O conflito que ocorre entre o Estado de Israel e os palestinos da Faixa de Gaza ameaça a estabilidade do Oriente Médio e prenuncia um massacre genocida, mas a opinião pública já se apressou em depositar o seu apoio aos palestinos muçulmanos. As agências de notícias publicaram, nesta última segunda-feira (19/11), que o magnata australiano e judeu Rupert Murdoch causou polêmica ao publicar em seu Twitter críticas à cobertura da mídia em relação ao conflito na Palestina, dizendo: “Por que órgãos de imprensa de propriedade de judeus são tão consistentemente anti-Israel em todas as crises?” A resposta de Peter Beinart, do site “Daily Beast” a Murdoch veio de imediato, dizendo que “o comentário de Murdoch era ofensivo aos jornalistas por sugerir que eles adotariam o ponto de vista de seus patrões, e também aos proprietários de mídia judeus por subentender que eles deixariam o judaísmo guiar seu modo de fazer jornalismo”.
Desde a aprovação na Organização das Nações Unidas – ONU da Resolução nº 181, de 29 de novembro de 1947, pela qual foi criado um Estado de Israel e outro palestino, a mídia foi “dividida” em pró-sionista ou antissionista – porém nunca houve imparcialidade na cobertura desse conflito árabe-israelense, pois os veículos de comunicação que defendem o reconhecimento do Estado Palestino são em menor número.
A acusação de Murdoch merece uma reflexão, pois pode estar acontecendo um novo fenômeno jornalístico em que os jornalistas passaram a escrever a realidade da Palestina desatrelados do desejo dos seus patrões judeus, conforme insinuou Murdoch. Ora, Murdoch se esqueceu de dizer, em sua crítica à mídia, que Israel descumpre dezenas de resoluções da ONU e que não sai uma só linha na mídia sobre essa questão – especialmente a Resolução nº 242, de 22 de novembro de 1967, da Guerra dos Seis Dias, na qual, por unanimidade, o Conselho de Segurança da ONU, determinou que Israel devolvesse imediatamente os territórios ocupados ilegalmente – Faixa de Gaza e Cisjordânia, em Jerusalém Oriental, e as Colinas do Golan, na Síria.
A espantosa fala de David Ben Gurion, fundador do Estado de Israel e seu primeiro primeiro-ministro, na época, nunca saiu publicada na mídia: “Se eu fosse um líder árabe, nunca assinaria um acordo com Israel. É normal: nós tomamos o país deles. É verdade que era uma promessa de Deus, mas o que eles têm a ver com isso? Nosso Deus não é o deles. Houve o antissemitismo, Hitler, os nazistas, mas no que isso lhes diz respeito? Para eles, existe uma única coisa: nós viemos e roubamos o país deles. Por que eles aceitariam isso?”
***
[Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista, Fortaleza, CE]