A Associação dos Correspondentes da Imprensa Estrangeira no Brasil (ACIE) criou o Prêmio Imprensa Estrangeira em 1989. A honraria devia ser concedida “ao jornalista brasileiro que mais se tenha destacado no ano”. No entanto, a primeira concessão foi para o então ministro das Relações Exteriores, José Francisco Rezek, exceção de inspiração mais do que evidente.
Até 2003 o prêmio ficou mais com autoridades do que com jornalistas: de 24 personalidades premiadas, apenas seis eram jornalistas. Ministros, artistas, ativistas sociais e até o ex-presidente Lula foram escolhidos. De 2004 até agora, porém, o prêmio voltou às origens: todos os premiados eram jornalistas, todos eles com destaque na imprensa nacional, como Míriam Leitão, Alberto Dines, Mino Carta e Zuenir Ventura.
No dia 13/12 fui o primeiro jornalista da Amazônia a receber o prêmio. A entrega da plaqueta ocorreu numa data feliz: uma nova diretoria assumiu a ACIE e a entidade lançou o seu anuário, publicação eclética de 146 páginas. Ela conta com mais de 283 profissionais, representando 91 empresas jornalísticas de 22 países.
Vasto mundo
A maioria (162 jornalistas) está baseada em São Paulo, que desbancou o Rio de Janeiro (com 99 correspondentes) como a base principal de trabalho, certamente pela importância econômica que o Brasil assumiu nos últimos tempos. Brasília tem apenas 22 representantes da imprensa estrangeira, sem dúvida por preferirem as fontes diretas das principais notícias do que a burocracia no poder. E os chineses são os mais interessados em acompanhar o país que lhe fornece matérias primas e insumos básicos fundamentais.
No encontro no Rio, disse aos presentes que me considerava mais um deles. A Amazônia é tão longe, tão distinta do Brasil e é assolada por problemas tão antigos, que viraram memória em lugares mais civilizados do mundo, e ao mesmo tempo tão vanguardistas, que também me sentia como correspondente no estrangeiro. A pauta inclui itens como matanças de índios, trabalho escravo, conflitos de terras, o maior trem de carga do mundo, a maior fábrica de alumina, a quarta maior hidrelétrica que existe.
A acolhida ao discurso que fiz levou o jornalista Lucas Mendes a fazer um comentário a respeito da minha premiação e do meu trabalho no programa Manhattan Connection, que é transmitido de Nova York pela Globo News. Talvez tenha sido a primeira vez que os clientes da ORM Cabo, que retransmite o programa em Belém, me tenham visto no ar.
Verão de novo? Se depender dos donos da TV a cabo, não. O problema é que o mundo gira e a Lusitana roda independentemente deles. Ainda bem que o mundo é maior – e mais atento.
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[Lúcio Flávio Pinto é jornalista, editor do Jornal Pessoal (Belém, PA)]