Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Governo provoca autocensura na mídia equatoriana

Em agosto de 2011, o jornalista Emilio Palacio, 59, deixou o Equador para evitar ter de cumprir uma pena recebida por criticar o presidente Rafael Correa.

Palacio foi condenado junto aos três proprietários do jornal em que trabalhava, o El Universo, de Guayaquil, por ter escrito uma coluna que questionava a ação de Correa numa revolta policial e chamava o presidente de ditador. Além dessa causa, também se defende em processo movido por uma TV pública que o chama de fascista.

Palacio pediu asilo político aos EUA e, desde então, se instalou em Miami com a mulher e os dois filhos. Sobrevive de palestras e artigos por encomenda para jornais estrangeiros.

À Folha, o jornalista diz que a autocensura dos meios independentes e a expansão dos governistas acabou com a imprensa livre no Equador.

“Já não se pode dizer mais nada. O entrevistador finge que entrevista, o entrevistado finge que responde.”

Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista.

Qual a situação da mídia independente no Equador?

Emilio Palacio – Simplesmente não existe. Nos jornais independentes impera a autocensura. Por outro lado, temos a rede governista expandindo-se, comprando e expropriando meios. A saída é montar algo de fora do país e virtual. É nesse projeto que estou trabalhando.

Correa vai ganhar no 1º turno?

E.P. – Vai ganhar, mas não creio que tenha votos para levar no primeiro turno, a não ser que haja fraude, o que é possível.

Que apoios faltam ao governo?

E.P. – Ele não tem boa parte dos empresários, nos quais se apoia a candidatura Lasso, nem das minorias étnicas, que estão com a esquerda. Sua influência é mais nas classes menos favorecidas e em parte da classe média. Mas vejo mais divisão do voto popular no Equador do que na Venezuela. Ali, Chávez tem os sindicatos e os movimentos sociais na mão. No Equador isso é diferente, está mais pulverizado.

A doença de Chávez tem impacto na eleição equatoriana?

E.P. – Ao contrário do que muitos pensam, os apoiadores de Correa não são chavistas. Quem segue Correa segue Correa, não segue Chávez nem Fidel [Castro, ex-ditador cubano]. O voto equatoriano é voltado para os problemas internos. A projeção como líder fora é algo que Correa deseja, não necessariamente os equatorianos.

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[Sylvia Colombo , correspondente da Folha de S.Paulo em Buenos Aires]