Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Um decano da cidadania

Algum tempo depois que o Observatório da Imprensa chegou à televisão, em 1998, a sociedade brasileira começou a produzir uma florada de Observatórios consagrados aos mais diversos temas.

Na semana em que se comemora o 15º aniversário do Observatório na TV – e se completam 17 anos de operação do OI na internet –, uma rápida e artesanal pesquisa em mecanismos de busca da internet encontrou mais de oitenta iniciativas que usam esse nome. Da lista não constam Observatórios de governos e empresas (ver tabela abaixo).

Não se pode ter uma avaliação precisa da influência exercida pelo OI nas redações, mas dá para intuir que ele viajou longe e fundo nas mentes de legiões de leitores, ouvintes e telespectadores mais críticos, esses que formam as fileiras das organizações não governamentais e ligadas à universidade.

A dedução é singela: antes do advento do OI, praticamente só havia no Brasil Observatórios astronômicos, sismológicos, florestais e assemelhados, todos criaturas governamentais.

Não que os Observatórios surgidos depois tenham todos se inspirado no da Imprensa. Cada leva de sucessores pode ter se mirado em algum antecessor específico. Mas a origem da “onda” só pode ser atribuída à visibilidade que o OI adquiriu nos portais UOL e iG – graças aos bons ofícios de Caio Túlio Costa – e, principalmente, nas TVs Educativa do Rio de Janeiro, depois TV Brasil, e retransmissoras estaduais.

Meio século de debate

O Observatório da Imprensa começou a nascer há 48 anos, quando Alberto Dines, então diretor de redação do Jornal do Brasil, criou, com a colaboração de Fernando Gabeira, a publicação Cadernos de Jornalismo e Editoração. [Apud Ângela da Costa Cruz Loures, “Pequena história da crítica de mídia no Brasil”, in Observatórios de mídia, olhares da cidadania, organizado por Rogério Christofoletti e Luiz Gonzaga Motta, São Paulo, Paulus, 2008, pág. 161. Ver também, na mesma fonte, “Um observatório, mais observatórios”, de Luiz Egypto e Mauro Malin, págs. 173-183.] Em 1975, dois anos após sua demissão do JB, Dines passou a assinar na Folha de S.Paulo a coluna “Jornal dos Jornais”. Demitido da Folha em 1977, levou a ideia primeiro para o Pasquim e depois para a revista Imprensa.

No final de sua temporada em Portugal, em 1994, Dines participou da criação do Observatório da Imprensa luso. No ano seguinte, trouxe a ideia para o Brasil, a convite de Carlos Vogt, que terminara seu mandato como reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e criara o Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade (Nudecri), no qual se abrigaria o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), sob orientação acadêmica de José Marques de Melo.

O Observatório da Imprensa brasileiro nasceu em 1995 na forma de um ciclo de palestras em Campinas. Em 1º de abril de 1996, foi ao ar sua primeira edição na internet. A segunda edição foi publicada três meses depois, em julho (consulte a página com todas as edições anteriores à atual). A periodicidade foi observada a partir da terceira edição: quinzenal, com edições nos dias 5 e 20. Essa frequência seria mantida até novembro de 1999, quando passou a ser produzida uma edição complementar denominada “Última Hora”, veiculada nos dias 12 e 27 de cada mês. No início de 2001, finalmente as edições regulares se tornaram semanais.

Visibilidade cresceu na TV

A mudança de ritmo e a expansão do acesso à internet no país não explicam sozinhas, entretanto, a relevância conquistada pelo Observatório. Grande diferencial foi o lançamento do programa de televisão, em 5 de maio de 1998, quando entrava na rede a edição número 44 da versão online.

Por modesta que tenha sido a audiência, a visibilidade do Observatório mudou de patamar. Primeiro, porque a televisão é o veículo de comunicação mais poderoso do país, sem comparação com as demais mídias (o rádio é igualmente popular, mas desprovido de verdadeiras redes nacionais).

Depois, porque o comparecimento ao programa de um amplíssimo elenco de personalidades da imprensa, da cultura, da academia, da política e dos três poderes da República, nas esferas federal, estadual e municipal, graças ao prestígio e à credibilidade de Alberto Dines, deu importância social considerável a este reduto de diálogo, reflexão e crítica.

Atributo da consciência cívica

O Observatório da Imprensa, nas modalidades escrita, falada e televisionada, luta com escassez de meios para melhorar sua qualidade, o que não isenta seus profissionais de responsabilidade pelas imperfeições e deficiências.

A seu favor, entre muitas virtudes, pode-se apontar o fato de ter contribuído para disseminar no país a ideia da observação cidadã.

O OI incentivou a criação, em 2005, da Rede Nacional de Observatórios da Imprensa (Renoi), organização ancorada em escolas de comunicação. Um de seus criadores, o jornalista Victor Gentilli, professor da Universidade Federal do Espírito Santo, informa que após interrupção de atividades iniciada em outubro de 2011, a Rede está em processo de rearticulação, sob a coordenação do professor Josenildo Guerra, da Universidade Federal de Sergipe.

A lista abaixo não inclui entes de governo e empresariais. Entre os muitos Observatórios criados no âmbito dos três poderes, podem ser mencionados os Observatórios da Despesa Pública (CGU), Nacional de Segurança Viária (Câmara paulistana), Brasileiro de Informação sobre Drogas (Senad), do Mercado de Trabalho Nacional (Ministério do Trabalho), da População Negra (SAE, Seppir e Faculdade Zumbi dos Palmares), Brasileiro de Políticas Digitais, Nacional do Idoso, da Saúde da Região Metropolitana de São Paulo, para ficar em alguns poucos exemplos.

Observatórios do terceiro setor segundo o ano de criação

Ano Observatório…
2001 de Favelas; Jovem.
2002 da Educação; do Clima; da Saúde Urbana de Belo Horizonte.
2003 Político Sul-Americano.
2004 do Desenvolvimento Regional (Universidade Regional de Blumenau).
2005 do Turismo do Paraná; da Diversidade Cultural (Belo Horizonte); Quilombola; da Mulher; das Nacionalidades (UFC/UECE).
2006 da Infância; Social de Maringá (PR); das Violências Policiais-SP.
2007 do Direito à Comunicação; da Lei Maria da Penha (Ufba); do Agronegócio; da Universidade (UFPR).
2008 Social de Cascavel (PR); da Juventude; Social de Rolim de Moura (RO); do Agreste (UEPB); Juvenil do Vale (Unisinos).
2009 da Igualdade de Gênero; da Segurança Viária; do Cooperativismo; dos Direitos Humanos; da Jurisdição Constitucional; Cidadão Nossa São Paulo; da Inovação e Competitividade; de Gestão Pública de Londrina (PR); de Políticas Públicas (UFC); de Políticas Públicas e Lutas Sociais (UFMA); de Gestão da Informação; da Violência e dos Direitos Humanos (Universidade Luterana do Brasil – Gravataí, RS).
2010 Social do Brasil; de Direitos Humanos da UFSC; da Segurança Pública da Bahia; de Megaeventos Esportivos; da Copa Salvador 2014; Político; do Crack (Confederação Nacional de Municípios); Social de Belém (PA); Social de Brusque (SC); Ambiental Jirau (PR); da Longevidade; de Comunicação e Cidadania (Unesp); Político dos Estados Unidos (INCT-Ineu); de Histórias em Quadrinhos (professor Waldomiro Vergueiro, ECA-USP); da Laicidade do Estado (UFRJ); Social de Apucarana (PR); de Resíduos Recicláveis (UnB); da Mídia Paraibana.
2011 das Metrópoles; Celso Furtado para o Desenvolvimento Regional; da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa; Social de Lajeado (RS); da Vida do Estudante Universitário (UFRN); Universitário; dos Investimentos na Amazônia; do Livro e da Leitura; Social Cristão; das Parcerias Público-Privadas; Socioambiental de Barragens (UFRJ); de Energias Renováveis; de Mídia&Política (UnB); dos Conflitos Urbanos da Cidade do Rio de Janeiro (UFRJ); Social de Ilha Solteira (SP); Ocupacional Industrial; de Políticas Públicas para a Agricultura; da Construção (Fiesp).
2012 Social de Tubarão (SC); de Sexualidade e Política; Social de São José (SC); Parlamentar Socioambiental; do Pré-Sal e da Indústria Extrativa Mineral; Nacional de Segurança Viária; Cidadão de Piracicaba (SP); de Relações Internacionais; Sobre Iniquidades em Saúde; em Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura (ECA-USP); do Crédito e Superendividamento do Consumidor (UFRGS); Social de Cabedelo (PB).
2013 Feminino; Social de Capanema (PA); Pirata.