Tuesday, 24 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Argumentos fáceis, o verdadeiro ópio do povo

A “geração mensalão”, aquela que nasceu durante o governo FHC, que cresceu no governo Lula/Dilma, adora o argumento fácil e do senso comum: “O problema é a Copa do Mundo”, “O mensalão é o pior caso de corrupção da história”, “O Sarney não morre, senão tava melhor”, “O Brasil só vai mudar com impeachment da Dilma”, “Bolsa Família é pra manter vagabundo” etc. Eles criticam a Globo e a Veja, mas usam o básico discurso destes veículos em seus argumentos.

Não sou contra os protestos, eles são legítimos, devem acontecer e já estão trazendo resultados. Estive no protesto de Curitiba e é nítido que a maioria tem muita disposição, mas pouco preparo político. Sequer sabem quem, de fato, tem poderes para baixar a passagem. Alguns vão dizer: “Mas não é só por 20 centavos, é por direitos, é contra a corrupção, contra a Copa porque a Copa virou o motivo pela falta de investimentos em hospitais, escolas, na segurança etc.”

A Copa do Mundo e das Confederações não tem nada a ver com a precariedade dos serviços públicos. Se tiver, chega a ser ínfima. A corrupção existe desde Adão e Eva (desculpe se você for ateu), a condição política apenas aflora a corrupção que há dentro de cada um de nós. A corrupção é atávica ao ser humano. Qual a diferença de um político corrupto, ou empresário corrupto, de um “manifestante” que sai por aí queimando ônibus ou depredando o patrimônio público? Nenhuma. Todos são corruptos, pois “destroem” o que é público. Daí vem mais um argumento fácil, que ouvi várias vezes no protesto: “Isso é público, eu pago por isso.” O que é público, ao mesmo tempo que é de todos, não é de ninguém.

Por que o Corinthians recebeu R$ 1 bilhão?

E me desculpem os ouvidos mais sensíveis: mas a maioria dos manifestantes (disse a maioria, não todos) defendia um estado anárquico sem saber o que é anarquia; defendiam redução da passagem, mas não se preocuparam em ficar até 23h30 ou mais, sendo que a última linha do ônibus já tinha parado de operar. Ou seja, é uma classe média, com banda larga, smartphone etc. Não que isso seja um demérito, que bom que eles têm esses recursos e usem para defender uma causa que é comum a todos e todas. Agora é preciso ir além, estamos fazendo história, legitimando direitos, precisamos ter maturidade política para saber conduzir esse momento.

Creio que vários fatores motivaram a juventude a voltar para as ruas. A mídia, a sociedade, todos cobramos participação política dos jovens e eles querem mostrar que podem contribuir. Mas não podemos ser alheios aos vários interesses que estão sendo cogitados no seio dos protestos. Devemos lutar por direitos sabendo dos deveres; lutar por justiça sendo justos; cobrar os políticos, mas temos que dar o exemplo no protesto.

Já em relação à Copa do Mundo, acho que o investimento público no evento, que também sou contra, pode ser facilmente contornado. Aliás, o retorno que a Copa dá em relação aos investimentos feitos é muito maior. O que os governos federal, estaduais e municipais devem fazer é cobrar o empréstimo feito aos clubes privados. Por que o Corinthians recebeu mais de R$ 1 bilhão para o Itaquerão? Quanto e quando vai pagar? Como vai pagar? É isso que temos que questionar. Empréstimo, seja lá aonde for, é empréstimo, por tanto, deve ser pago.

Copa virou bode-expiatório

O problema é que a maioria dos estádios da Copa possui o status de público; ou seja, o Maracanã, o Mané Garrincha, a Fonte Nova, o Mineirão – entre outros – são de responsabilidade das prefeituras, e não dos clubes. Mas quando o Flamengo, o Fluminense, o Botafogo e o Vasco jogarem no Maracanã vão pagar aluguel? Quanto vão pagar? Como vão pagar? O Cruzeiro e o Atlético/MG vão pagar quanto de aluguel quando jogarem no Mineirão? Que projetos sociais às prefeituras irão fazer?

Sou totalmente a favor da Copa, das Olímpiadas, foram conquistas do Brasil, assim como foram conquistas da Alemanha, da África do Sul e assim vai. A Copa não é nem a ponta do iceberg, mas parece que já virou o bode-expiatório de quem, infelizmente, é adepto do argumento fácil e do senso comum.

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Adriano Rima, jornalista e ex-líder estudantil