Obviamente, a mídia não esperava uma pauta tão latente e envolvente como a que foi intitulada por alguns como “A Revolução dos 20 centavos”. Uma dimensão de cobertura que lembra outras manifestações populares de outrora, como Golpe de 1964, Diretas Já e Caras Pintadas, para citar as mais relevantes. As diferenças destes movimentos mencionados com o atual é o aditivo das redes sociais, que permite uma forma mais rápida e direta de contato entre as pessoas. A população brasileira descobriu, por mais irônico que isso possa parecer, que a insatisfação passava do intolerável entre todos. Ou seja, constatou-se que uma pessoa não tem representatividade, mas uma multidão, sim, tem o poder de ação. Como um Messi que não pode ganhar uma partida sozinho, pois precisa de outros jogadores.
Esse poder tem sido tão forte que modificou a linha editorial da imprensa neste mês de junho de 2013. Jornalistas que enfrentaram a repressão da ditadura militar e de traficantes, como no caso do competente Caco Barcellos, que foi censurado pelo povo por trabalhar numa emissora que é hostilizada pelo mesmo. Recebeu um cartão vermelho e foi tomar a ducha mais cedo. Até uma pesquisa que induzia o telespectador a ser contrário aos protestos (que foi refeita durante a transmissão) foi desmantelada pelo povo, deixando o apresentador envergonhado, como se fosse um gol contra. Além disso, os colegas da imprensa têm se posicionado intensamente na internet em seus perfis. Parece que foi encontrada uma brecha para extravasar junto com a sociedade, uma espécie de furo na defesa adversária.
Até a esfera política, o principal rival, tem se preocupado em se comunicar. Como não têm líderes para representá-los, as reivindicações dos manifestos são realizadas pelo mesmo meio que permitiu à população ir às ruas: a rede. Nunca foi tão dinâmico reduzir – o que até então parecia inviável – uma tarifa ou anular uma lei considerada imprópria. Verdadeiros gols de placa.
Declarações bola-murcha
As próprias pessoas envolvidas nas manifestações vêm realizando coberturas jornalísticas dignas de registro. São jogadas de extrema categoria, com imagens históricas que são captadas por celulares e câmeras. Bem como relatos do que está ocorrendo, em tempo real, de quem está no protesto, tornando-se uma leitura mais atrativa até do que a mídia convencional. Ali, constam informações críticas e preocupantes sobre os abusos praticados por alguns policiais em cidadãos que agiam de forma pacífica, como também a omissão da polícia em relação aos vândalos infiltrados. Esses conteúdos escancaram o total despreparo da segurança pública no país, além da falta de educação por parte de outros: situações que precisam de soluções urgentes. Essas divulgações são uma espécie de notícia do povo para o povo. A população tem compreendido que com estas veiculações nas redes os fatos ali mostrados, são mais fidedignos, sem grandes riscos de edições.
Ah, aliado a isso, tem ocorrido um torneio que se chama Copa das Confederações. É uma preparação para a Copa do Mundo de 2014. Mas isso, que seria o assunto principal, virou secundário, uma espécie de amistoso, que não vale nada. E o Brasil, que estava mal no futebol, vem melhorando de rendimento. E o que importa? Esse esporte já não contenta mais o brasileiro. Ainda mais a partir das declarações bola-murcha vindas de ídolos como Pelé e Ronaldo Fenômeno. O craque de agora é outro, ele se chama “mudança”.
******
Eduardo Wolff é jornalista, Porto Alegre, RS