Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Notas esparsas sobre o MPL

A entrada do pessoal da grande mídia em bloco a favor do movimento – inclusive, uns mudando de opinião – cheira a coisa orquestrada, tipo ordem dos patrões para apoio depois de avaliação feita por think tanks como, por que não?, o Instituto Millenium. Mostra também que os tais formadores de opinião não têm opinião própria. Apenas repercutem adestradamente a que defende os interesses do patrão. Cães de guarda iguais ao magistralmente descrito no livro Os Novos Cães de Guarda, de Serge Halimi, da editora Vozes.

Os jovens do MPL (Movimento Passe Livre) de São Paulo que foram entrevistados no programa Roda Viva de segunda-feira (17/05/2013) demonstraram o contrário que, normalmente, dizem acerca dos jovens. Isto é, são articulados e bem informados sobre política, economia, movimentos sociais. São tão bem preparados que “tiraram de letra” todas as “cascas de banana”, todas as armadilhas postas pelo jornalista Marcelo Godoy, do jornal O Estado de S. Paulo, que tentava a todo momento desconcertá-los e associá-los politicamente ao PT. Surpresa da boa saber que é um movimento com objetivos definidos e que, mesmo correndo à margem dos partidos, se alinha a mudanças sociais progressistas, democráticas e de esquerda. Seria temerário afirmar que os dois entrevistados representam o pensamento do movimento como um todo, mas é animador saber que entre eles estão jovens com um perfil igual ao deles.

Arnaldo Jabor, Pondé, Datena, Demétrio Magnoli, Pedro Bial, Boris Casoy (sim, o cara do bordão “É uma vergonha”. Alguém que vetou matéria contra o Maluf no tempo em que trabalhava na Folha de S.Paulo, como bem lembrou Alberto Dines) e mais um vagão de direitosos (cães de guarda dos interesses dos ricos) de maior ou menor calibre apoiam o movimento. Isso tudo está levando os cabos Anselmos e/ou alienadinhos adestrados pela grande mídia a aderir com suas pautas conservadoras tipo “Menos Impostos” “Abaixo a Corrupção” “Fora Estado” e por aí vai. Tem que se fazer algo para isolá-los, já que a grande mídia vai focá-los para dar a entender que eles são o movimento.

A atuação da Brigada Militar

De tudo que li, vi e ouvi a respeito das manifestações, entendo que o pessoal do Movimento Passe Livre MPL tem que aprender com o passado para tratar desta infiltração. Isto é, tem que saber como se livrar dos reaças violentos e dos que, incitados pela grande mídia estão, com suas agendas conservadoras, assumindo um papel que não merecem porque, na verdade, estão se lixando para as agruras dos que usam transporte coletivo. Basta ver seus pensamentos expostos em vários episódios recentes para perceber que eles ficam muito incomodados com o Bolsa-Família, com a vitória da cidadania no caso das empregadas domesticas e com a ascensão da nova classe média que levou a um aumento desta nos aeroportos (um absurdo, na visão deles). Os veteranos de outros movimentos talvez possam ajudar. O que não dá para continuar é esta apropriação indébita do movimento pela direita. Algo tem que ser feito.

Fui ontem (20/05/2013) com meu filho André à passeata em Porto Alegre. Bonito ver todo aquele povo embaixo do frio e de uma chuva que não dava trégua. A nota dissonante foi, de novo, a truculência da Brigada. Não fomos até a zona conflagrada, defronte ao colégio Protásio Alves, e na pista da Ipiranga, defronte à sede da RBS, para saber se houve violência por parte dos participantes. Mas até onde estávamos, na Ipiranga, uns 100 metros da linha de frente do movimento, as pessoas se manifestavam pacificamente, inclusive com palavras de ordem como “Sem Violência”. Quando chegamos, a passeata já estava na Sarmento Leite, esquina da Osvaldo Aranha. Logo, não vi como a Brigada se comportou quanto à defesa da Prefeitura Municipal, ponto de início da manifestação. A impressão que ficou – corrijam-me se estiver errado (a mim e a muitos, como pude depreender hoje (21/05/2013) no Facebook) – é que a Brigada defende com mais ardor e violência o patrimônio privado (RBS) do que o patrimônio público quando tem a missão republicana de defender a ambos. No entanto, não deve, sob hipótese nenhuma, ser ela quem toma a iniciativa de agir com violência. Ainda mais quando o movimento, até onde pude ver, se portava pacificamente.

Repercussão das contradições petistas

Assino embaixo do manifesto no Facebook que foi parar no Le Monde (ver aqui) da Socialista Morena (Cynara Menezes, correspondente da revista CartaCapital em Brasília) sobre a indignação da esquerda com o abandono das bandeiras pelo PT. Sob o manto da governabilidade se esconde muito pensamento conservador de muitos que até ontem foram de esquerda, mas que com o tempo, com a vilania da maturidade, se renderam àquilo que Aristóteles chama de domínio dos apetites, se metamorfosearam em intemperantes e agora com a desculpa de que precisam negociar para governar cometem atos que não são frutos desta necessidade real para quem está no governo, mas sim, de alguém que se aburguesou na caminhada, como bem dizia o saudoso Fausto Wolff.

Assisti na TV Câmara a um debate sobre o movimento. Nele estavam um jovem do MPL, o deputado Paulo Teixeira, do PT/SP, o excelente Chico Alencar, do PSOL, e um cientista político que contribuiu muito com reflexões marcadamente progressistas, democráticas e de esquerda. Bom debate. Deu para perceber na fala do jovem a desilusão com o que se tornou o PT, onde “deitam e rolam” gente como o ministro plim-plim, a mulher do ministro plim-plim e aliados exóticos como o deputado Feliciano, o deputado Blairo Maggi, o ministro comunista ruralista, o cara do bigodinho belle époque, que, parece, abandonou o modelo albanês do Enver Hoxha desde há muito. Anima saber que o PT tem gente de bom nível ideológico como Paulo Teixeira, que tem que aproveitar o momento para repensar este estilo de governança conciliador que deixa a direita do partido feliz como “pinto no lixo”. Modelo que, a bem da verdade, até foi bem sucedido. Agora está dando água.

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Jorge Alberto Benitz é engenheiro e consultor, Porto Alegre, RS