Uma obra que expõe a questão do papel da indústria cultural (cinema, televisão, rádio etc.) em um papel de mistificadora das massas enquanto dar “esclarecimento”, falo de Indústria Cultural e Sociedade,de Adorno e Horkheimer. Sim, a informação, a “cultura”, torna-se uma mercadoria do sistema capitalista.
“A dependência da mais poderosa sociedade radiofônica em relação à indústria elétrica, ou a do cinema aos bancos, define a esfera toda, cujos setores singulares são ainda, por sua vez, cointeressados e economicamente interdependentes. Tudo está tão estreitamente ligado que a concentração do espírito alcança um volume tal que lhe permite ultrapassar as fronteiras das várias firmas comerciais e setores técnicos” (Adorno).
Qual o peso da mídia, que há anos faz monopólio da informação no Brasil, nas manifestações que tomam conta do país nestes últimos dias?
“Sob o monopólio privado da cultura, quem não se conforma é punido com uma impotência econômica que se prolonga na impotência espiritual do individualista. Excluído da atividade industrial, ele terá sua insuficiência facilmente comprovada. A produção capitalista os mantém tão bem presos em corpo e alma que eles sucumbem sem resistência ao que lhes é oferecido” (Adorno e Horkheimer).
Uma democracia que trabalhe seu próprio conceito de democracia precisa deixar de “ser fachada política do poder econômico”, como disse José Saramago. Sobre a questão da liberdade de pensamento e opinião consagrados pelas “democracias” burguesas tratou de ser definido pela “indústria cultural”, mistificadora das massas, para que exatamente não haver uma opinião que seja capaz de criticar essa fachada.
Domínio comportamental
Para Noam Chomski, hoje as instituições financeiras internacionais governam o mundo.
“Uma vez que ultrapassamos o marco dos estados nacionais como entidades unificadas sem divisões internas, podemos ver que há uma mudança do poder mundial, mas a direção dessa mudança é da força de trabalho mundial para os donos do mundo: o capital transnacional, as instituições financeiras mundiais” (Noam Chomski).
Os novos movimentos (Ocuppy e as multidões nas ruas do Brasil, por exemplo) não têm se caracterizado por ser uma afronta à “democracia” de fachada nem ao poder dos mercados; podem muito bem exigir um repasse pelo Estado de serviços sociais, mas surge um grande problema, principalmente na Europa: o Estado vai tendo sua presença diminuída nessa era líquida, como diz Bauman.
A economia globalizada, em um mundo instantâneo, as instituições não tendem a conseguir sólida resistência, talvez as massas nas ruas seja um limite entre a perda de um modelo e aquilo que ainda não sabemos o que será. A América Latina é diferente, já que não fomos parte da chamada “Era de Ouro” do capitalismo, entre o final da II Guerra Mundial e a década de 1980, e somente neste século o mundo do consumo absolutiza-se entre nós, principalmente nas maiores economias da região, todas marcadas pela ascensão da violência-social-urbana.
No Brasil, a TV, principalmente a Globo e dita o modelo para os demais veículos, tem um impacto na mistificação das massas através do “esclarecimento” (informação instantânea e padrões determinados), provavelmente não tenha sido conseguido por nenhuma TV de qualquer lugar do mundo; somente superado pelo cinema norte-americano este não encontra precedentes devido o alcance mundial. A Globo faz um domínio comportamental muito forte tendo uma programação baseada essencialmente em telenovelas, as estrelas ditam padrões; a novela dedicada ao público adolescente Malhação é uma grande prova disso.
A histórica exclusão social
O que mudara nos protestos recentes, entre quando era formado por estudantes politizados em alternativas ao sistema e entre as multidões que idolatram símbolos nacionais e que a própria Globo tem feito um claro apelo para que assim seja? Claramente, a questão de que não pode haver uma crítica ao sistema econômico-ideológico que se sobrepõe à “democracia”.
Agora, como enfrentar a histórica exclusão social, hoje materializada em violência-delinquência, onde, não é fácil abrir uma via já que esse instrumento ideológico do capital é poderoso demais, não é mais uma questão de confrontar opiniões em livros e jornais. Somente deixando de ser indústria, a mídia e toda a “indústria cultural” poderá atuar ao lado da Humanidade.
Referências:
ADORNO, Theodor W. Indústria Cultural e Sociedade. Paz e Terra. São Paulo: 2005.
ADORNO, T.W, HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro. Jorge Zahar: 1985
CHOMSKI, Noam. Quem é o dono do mundo?Entrevista disponível em http://www.acritica.org/search?q=os+donos+do+mundo
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Luiz Rodrigues é jornalista e estudante de Direito, Caicó, RN