Os jornais noticiam que os Estados Unidos espionaram milhões de e-mails e telefonemas brasileiros por intermédio da Agência de Segurança Nacional. A quantidade de espionagem é tão grande, a maior da América Latina, que fica pouco abaixo do próprio Estados Unidos, país que teve 2,3 bilhões de telefonemas e mensagens grampeadas.
Essas informações tornaram-se públicas graças ao ex-agente da CIA Edward Snowden, que teve resposta positiva do seu pedido de asilo político por parte da Venezuela e Bolívia, o que merece aplausos. O governo brasileiro nem chegou a responder a solicitação de Snowden, o que deve ser criticado.
Espera-se uma resposta
A denúncia sobre a espionagem estadunidense no Brasil é muito grave e exige uma tomada de posição por parte do governo de Dilma Rousseff. Países europeus que sofreram monitoramento, segundo as denúncias de Snowden, protestaram. O Brasil, como importante protagonista internacional, não pode ficar em silêncio sob pena de desmoralização.
Monitoramento de mensagens e telefones, bem como infiltração de agentes dos serviços de inteligência estadunidenses em países que mantêm relações diplomáticas normais com os Estados Unidos, são recorrentes. Ou seja, há tempos surgem denúncias nesse sentido. Só que agora, com o serviço de utilidade pública prestado ao mundo por Snowden, não se pode mais esconder o fato.
Ação contínua
Em décadas passadas, sob silêncio da mídia de mercado, os serviços de inteligência dos Estados Unidos se intrometeram em assuntos internos de vários países da América Latina, resultando na derrubada de presidentes da República, entre os quais João Goulart, instalando-se nos países regimes ditatoriais.
Mesmo com o fim desse período, os serviços de inteligência norte-americanos continuaram agindo no Brasil, o país considerado pêndulo da América Latina, como assinalou o então presidente dos EUA, Richard Nixon (“Para onde caminha o Brasil caminha o restante do continente latino-americano”).
As revelações de Snowden apenas confirmam o que vem acontecendo por aqui e ainda por cima com agentes tendo livre trânsito nas mais diversas esferas.
As novas revelações de Snowden deveriam servir de alerta inclusive para o mundo político brasileiro, que geralmente subestimou denúncias anteriores em relação à intromissão em assuntos internos por parte de agentes estrangeiros, sobretudo norte-americanos.
Em outros momentos da história da América Latina, alguns órgãos de imprensa receberam apoio financeiro da Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA), como El Mercurio, do Chile, contemplado com 1,5 milhão de dólares. A publicação, por sinal, apoiou desde a primeira hora o golpe que derrubou o presidente Salvador Allende. Uma pergunta que não quer calar: quantos outros órgãos de imprensa de mercado receberam também a ajuda?
Por essas e muitas outras é preciso muita atenção para as denúncias apresentadas por Snowden, para com isso obrigar as autoridades a se precaverem contra as investidas dos serviços de espionagem norte-americanos.
Em outras palavras: depois das graves denúncias, é preciso maior precaução e rigor do Estado brasileiro para evitar a ação dos agentes de inteligência, algumas vezes agindo com a colaboração até mesmo de (maus) brasileiros.
Um pedido de esclarecimento e crítica ao que vem sendo feito seria demonstração concreta de que as autoridades defendem mesmo a soberania do país. O silêncio será absolutamente negativo e pode ser interpretado até como consentimento.
O governo brasileiro, por meio de declarações do ministro de Relações Exteriores Antonio Patriota, demonstrou preocupação e pediu explicações à embaixada dos Estados Unidos em Brasília sobre o grampeamento das comunicações eletrônicas e telefônicas de cidadãos brasileiros por por parte de órgãos de segurança norte-americanos.
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Mário Augusto Jakobskind é jornalista