Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Ainda e sempre

Educação é pauta constante. Vira e mexe toca-se no eterno tema. No entanto, precisamos interpretar o que se diz. A questão é mais complexa e, paradoxalmente, mais simples do que parece.

O economista Fabio Giambiagi, em entrevista ao Estado de S.Paulo (29/9/2013), dá sua opinião:

Destaco o papel da educação, não de mais verbas para a educação. A ideia de elevar o gasto em educação a 10% do PIB é um desses exemplos tipicamente brasileiros em que a emoção vence de 10 a zero um debate que deveria ser racional. Nos próximos 50 anos, o número de crianças e adolescentes vai encolher, de modo que, naturalmente, haverá um aumento do gasto per capita por aluno, mesmo que continuemos gastando o mesmo porcentual do PIB. Também não dá para discutir gasto se não se discute o sistema de gestão. Qualquer pai sabe que há bons e maus professores e que os bons exercem um papel fundamental no aprendizado. O que devemos fazer é reforçar o papel dos bons professores.

Quem não destacaria o papel da educação? Mas, por falar como economista pretensamente racional, Giambiagi despreza as razões que a razão desconhece. O que significaria “reforçar o papel dos bons professores”? E o que são “bons professores”? Os bons professores sabem que outras coisas precisam ser boas, a começar por um bom clima emocional na escola e no entorno, uma boa formação continuada para os docentes, uma boa remuneração e um bom plano de carreira!

No mesmo Estadão (e simultaneamente em O Globo) do mesmo dia, Gustavo Franco enfatiza alguns aspectos do problema, minimizando outros:

A qualidade da educação e o aumento da escolaridade são temas cruciais quando se trata de produtividade, e as métricas de desempenho escolar mostram índices ruins para o país em comparações internacionais e, dentro de casa, uma grande diversidade entre municípios. Os estudiosos dizem que não é necessariamente uma questão de mais gasto, mais salário, computador e biblioteca. Tudo isso ajuda, mas a experiência parece mostrar que elementos que cabem dentro do que se designa como “gestão”, e que resultam de transparência, responsabilização e engajamento, têm papel crucial na qualidade do ensino.

Salário, computador e biblioteca não são meras ajudas. Tudo na educação é crucial. A gestão educacional deve priorizar a qualidade de todos os aspectos envolvidos no processo: da merenda às práticas educacionais, do projeto pedagógico ao relacionamento com a comunidade, da tecnologia ao cuidado com o corpo docente. A experiência dos educadores começa por nos dizer que “comparações internacionais” são questionáveis. O Brasil possui teoria e prática nacionais de sobra. Mas temos conhecê-las, divulgá-las e recriá-las.

Problemas e soluções

A revista IstoÉ desta semana aborda “O maior problema da educação do Brasil”: o ensino médio. Detecta com clareza as dificuldades: disciplinas que pouco dizem aos alunos, formação sem conexão com o mundo do trabalho e com a Idade Mídia, professores desestimulados pela baixa remuneração. O ensino médio mediocriza adolescentes e jovens. E suas famílias não sabem o que pensar ou fazer.

Dos dez milhões de jovens brasileiros entre 15 e 17 anos metade está fora dessa etapa. Para eles nada disso é objetivo. Para onde foram? Andam desorientados e subempregados, quando não simplesmente desocupados. Que soluções há para a evasão? Esta realidade é poliedro para lá de complexo.

O pensamento pedagógico oferece saídas. Estão descritas em muitos livros e experimentadas em várias iniciativas, aqui e ali, ontem e hoje. Requerem, porém, uma mentalidade. Do ministro da Educação ao jovem estudante universitário que começa a se preparar para a docência, precisamos todos estar imbuídos de algumas ideias fundamentais já consagradas nas obras dos grandes gênios da Educação, de Platão a Comenius, de Anísio Teixeira a Lauro de Oliveira Lima. A nossa imprensa precisa estudar mais e ensinar/divulgar as soluções.

Uma dessas ideias é a de que todos aprendem quando são tratados como seres inteligentes. (E todos são inteligentes, cada qual ao seu modo!) Na Caros Amigos de setembro, Leandro Uchoas assinou matéria inspiradora sobre o que pode fazer um educador com boa cabeça e liberdade para trabalhar. Tião Rocha conheceu um menino que jogava damas maravilhosamente, mas não conseguia realizar as quatro operações básicas. Sua dificuldade em matemática foi resolvida com a “damática”. O educador criou, sem proibir o tabuleiro, uma estratégia didática, associando o movimento das peças a alguma necessária conta. Inventou novas regras. O menino não precisou ser reprovado, e descobriu que aprender e brincar andam de mãos dadas.

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Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br