Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Paula Lavigne no ‘Saia Justa’

Num programa em que o objetivo era debater se o direito à liberdade de expressão deve prevalecer sobre o direito à privacidade, os mais atacados foram a imprensa e os jornalistas. Convidada do “Saia Justa”, programa semanal da GNT, para debater a questão das biografias não autorizadas no Brasil, a empresária Paula Lavigne falou sobre “linchamento”, “bullying”, “coisas deturpadas na imprensa”, “irresponsabilidade” e acusações sofrida por ela e pelo grupo do qual é presidente, o Procure Saber, de “censura”. E falou, ainda, sobre a orientação sexual da jornalista Barbara Gancia.

Resumindo rapidamente o que precisaria de um livro do tamanho daqueles do Fernando Morais para explicar bem: há duas semanas, debate-se no Brasil se os artigos 20 e 21 do Código Civil devem ser mantidos. Neles, está escrito que não são permitidas a publicação de informações pessoais de qualquer cidadão em casos que “atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais”.

Paula Lavigne tem sido uma das principais vozes contrárias ao fim desses artigos e se libere as biografias, por isso foi convidada para o programa. Como a empresária bem lembrou no “Saia Justa”, o grupo Procure Saber, que reúne ela, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Roberto Carlos, Chico Buarque, Djavan e Erasmo Carlos, se manifestou em reação à Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) que a Associação Nacional dos Editores de Livros (Anel) move, desde agosto de 2012 no Supremo Tribunal Federal, contra o Código Civil.

No “Saia Justa”, Paula fez questão de dizer que estava ali como pessoa física, e não representando o Procure Saber, o qual, segundo ela, é apenas um grupo de músicos, que não usa sua influência para fazer lobby. Paula disse três vezes que eles nem têm assessoria de imprensa.

– A gente está num conflito de gigantes, estamos num conflito de dois direitos fundamentais, de liberdade de expressão e da privacidade. Mas sobre direito à privacidade ninguém quer falar – disse Paula. – A gente está discutindo o ser-humano. Eu lido com uma associação de artistas, não são empresários ou advogados. Eu estou apanhando demais, sem direito de discutir. Vim aqui para ser ouvida. Tem um que fala que eu fui à Brasília dar tapa nas costas do Renan Calheiros por causa de um projeto de lei. A gente não é um poder, somos artistas. Não é lobby, é emoção. Um artista lida com emoção. Como você vai julgar o Roberto Carlos, um cara que tem assumidamente uma doença?

Paula, porém, citou rapidamente alguma coisa sobre “pânico”, mas não explicou bem o que seria a doença assumida de Roberto Carlos, justamente o integrante do Procure Saber que já entrou na Justiça contra a publicação de uma biografia sua, e conseguiu sua retirada das livrarias, no caso “Roberto Carlos em detalhes”, de Paulo Cesar de Araújo.

Apelo à imprensa

O assunto sobre a biografia do Rei voltou à discussão, e Paula citou um artigo de Chico Buarque, publicado no GLOBO, em que o compositor diz que nunca deu entrevista a Paulo Cesar, o que foi desmentido pelo próprio autor em outro artigo, também publicado no GLOBO. Como o programa foi gravado, não se falou do desmentido.

– O Chico Buarque disse que tem uma entrevista que ele não deu, isso não é sério? – perguntou a empresária.

Em vários momentos, Paula se disse atacada pela imprensa e voltou muitas de suas palavras à jornalista Barbara Gancia, uma das integrantes fixas do “Saia Justa” (as outras são a apresentadora Astrid Fontelle e as atrizes Maria Ribeiro e Mônica Martelli), que escreveu uma coluna no jornal “Folha de S. Paulo” dizendo que “o oportunismo e a ganância de Paula Lavigne são conhecidos até do papa”.

– Você é gay assumida, não é? Se eu falar o nome da sua namorada aqui, ela vai gostar? Qual o nome da sua namorada? – perguntou a empresária para Barbara. – A imprensa está entrando em questões pessoais. Por isso, não acho que a gente possa retirar a exigência de autorização prévia das biografias sem debater.

A empresária ainda alfinetou os escritores por uma questão financeira, sugerindo que eles não são tão mal remunerados como dizem.

– Os biógrafos falaram que não ganham dinheiro. Não sei até que ponto os autores ganham tão pouco assim. Alguns ganham mais e outros menos – disse Paula.

O debate, difícil de entender pela característica do “Saia Justa” em que várias das participantes acabam falando ao mesmo tempo e atropelando as outras, ainda passou por casos como o do livro lançado por Guilherme de Pádua sobre Daniella Perez, que foi barrado na Justiça por Glória Perez (usado como exemplo de como relatos biográficos podem ser danosos); e do sumiço do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza (usado como exemplo sobre como a vida de alguém no cinema pode não representar nada para a família).

No fim de sua participação, Paula fez um apelo. Para a imprensa, claro:

– Não precisa ter essa agressividade toda.

Depois, houve ainda um bloco do “Saia Justa” sobre internet, sem relação alguma com a questão das biografias. Mas isso vocês procurem saber…

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Andre Miranda, do Globo