A divulgação do mapa da violência no Brasil com base em pesquisas do IBGE, onde se confirma seu status de 4º lugar entre os países onde mais de matou no planeta em 2012 – 1º, EUA, 2º, China e 3º Rússia – como a própria realidade do cotidiano da criminalidade provocou reações sociais que vão do espanto, indignação, medo e desencadeou a ampliação da sensação de insegurança a ponto de se perder, na própria mídia, o rumo do raciocínio lógico. Por conta disso, o horizonte sócio-político foi mesclado pela ira, ódio e por desejos de vingança em que aparecem reivindicações disparatadas como a volta do regime militar, a prisão perpétua e a pena de morte como panaceia e soluções para atemorizar os bandidos.
O Facebook foi o espaço – de segunda-feira (4/11 para cá) – onde essas manifestações mais foram e estão sendo exibidas. Mas foi no programa Cidade Alerta (TV Record), onde o apresentador Marcelo Rezende mais explorou o tema, cometendo, como ocorreu nos outros canais onde o assunto foi abordado, as omissões de sempre, a caracterizarem o jornalismo exibidor de fatos sem explicações pedagógicas necessárias sobre a origem deles, apresenta histórias e enredos inacabados como se estivesse repassando informações para um público leigo, apressado e sem filtro adequado para separar o joio do trigo.
Como os números da economia formal brasileira mostram sinais de desaceleração, o submundo do crime exibe taxas de expansão a provocarem reações atônitas. É o que confirmam os dados da criminalidade enviados pelas Secretarias de Segurança das 27 unidades da federação para o Anuário Estatístico do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Olhar crítico e descritivo
No ano passado, o número de homicídios no país cresceu 7,6% em relação a 2011 e atingiu a pior marca desde 2008. Foram 50.108 assassinatos em 2012, incluindo homicídios dolosos (47.136), latrocínios ou assaltos seguidos de morte (1.810) e lesão corporal seguida de morte (1.162). O país registrou taxa de 25,8 homicídios por 100 000 habitantes. Os estados do Norte e Nordeste seguem liderando o ranking de homicídios no Brasil. Alagoas, com 61,8 casos por 100 mil habitantes, apesar de estar no primeiro lugar no ranking, registrou redução de 14%, em meio a uma reação de inteligência da Força Nacional às características de retorno do cangaço rodoviário. O Pará subiu para a segunda colocação, com 44 por 100 000, seguido por Ceará (42,5), Bahia (40,7) e Sergipe (40). Como resultado, o Brasil fica em 4º lugar entre os países mais violentos. As mais de 50 mil mortes por homicídios são duas vezes mais do que a média de baixas em um ano de guerra entre Rússia e Chechênia, por exemplo.
“O padrão de homicídios no Brasil é muito alto, assim como os outros crimes. Isso mostra como não conseguimos enfrentar o problema da criminalidade urbana. Mostra a necessidade urgente de reformas nas polícias, para melhorar as investigações e o policiamento ostensivo. É um assunto que precisa ser enfrentado com coragem ou o Brasil não vai conseguir reverter esse quadro”, assegura o sociólogo Renato Sérgio de Lima, do FBSP.
A magnitude dessa questão tem encontrado a mídia brasileira de calças curtas: de um lado, o banditismo se sobrepõe à ação policial e, de outro, a mídia está aquém de ambos no seu olhar crítico e descritivo.
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Reinaldo Cabral é jornalista e escritor