Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Maduro redobra a perseguição aos meios de comunicação

A obstinação dos jovens na rua, e do dólar no mercado negro, deteriorou em poucos dias a imagem de consolidação que o Governo de Nicolás Maduro conseguiu construir a partir de seu triunfo nas autárquicas eleições de dezembro. Ontem se mantinham focos de distúrbios e bloqueio de ruas no leste de Caracas —o tradicional baluarte opositor— e também em outras cidades, numa continuação da campanha de protestos iniciada no dia 12 de fevereiro e na qual, até o momento, segundo a versão oficial, houve oito mortos, 160 feridos e 324 prisões.

Enquanto isso, o dólar pulava a uma cotação de 88 bolívares no mercado paralelo, apesar das medidas de “equilíbrio” anunciadas na quarta-feira por Maduro.

Diante dessa realidade, o Governo desviou a atenção culpando a imprensa. “A mídia criou desassossego na população”, acusava ontem Gabriela Ramírez, Defensora do Povo e ex-parlamentar chavista. “A CNN poderia estar incorrendo em propaganda de guerra”, continuou, dando a razão ao presidente Maduro, que na noite anterior dava ordens à ministra de Comunicação e Informação, Delcy Rodríguez, que iniciasse o processo administrativo para tirar do ar o sinal dessa rede internacional. Por sua vez, o prefeito oficialista de Caracas e irmão da ministra, Jorge Rodríguez, opinou que a CNN estava fazendo “exatamente o mesmo que fez a rádio hutu que chamava de baratas aos tutsis na Ruanda”.

A CNN em espanhol —que é vista na Venezuela por meio de diversos serviços de televisão por assinatura— dedicou boa parte de sua programação a informar sobre os protestos na Venezuela que foram ignorados ou minimizados pelos meios locais, sob um forte controle governamental. Sua apresentadora principal, a jornalista Patricia Janiot, chegou à Venezuela na terça-feira para cobrir os protestos no local. No entanto, na sexta-feira Janiot abandonou o país depois das acusações de Maduro contra a CNN, pouco depois de o Governo anular a credencial da correspondente permanente na Venezuela, Osmary Hernández. Na última semana, o Executivo suspendeu, “por uma decisão de Estado”, o sinal daNTN24, um canal colombiano de notícias que cobriu ao vivo o primeiro dia de protestos.

Durante a crise registraram-se 50 casos de ataques contra a imprensa, reportou o Instituto Prensa y Sociedad de Venezuela. Em uma coletiva de imprensa, o presidente do Colégio Nacional de Jornalistas Alejandro Tinedo Guía, exigiu ao Estado venezuelano garantir as condições para o exercício da profissão. “Respeitem e protejam os jornalistas na rua”, disse, “eles são os olhos e as vozes do mundo”.

Crise intacta

“O Governo venezuelano adotou abertamente a tática clássica de um regime autoritário”, expressou desde Washington José Miguel Vivanco, diretor de Human Rights Watch. “Encarcerando seus oponentes, amordaçando os meios e intimidando a sociedade civil”.

O Governo exerce, além disso, a perseguição pura e dura. Na terça-feira entregou-se às autoridades o líder do partido Voluntad Popular, Leopoldo López, a quem o Governo aponta como principal instigador das desordens. Preso em um cárcere militar, enfrenta acusações de associação criminosa e dano de bens públicos. Se for considerado culpado, poderia ficar preso dez anos. Ao mesmo tempo, o poder judiciário emitiu ordens de captura contra outros dirigentes do Voluntad Popular.

Em resposta, a oposição convocou para hoje uma grande concentração na capital. Além da libertação dos presos e o fim da perseguição, a oposição exige o desarmamento dos grupos de choque chavistas que participaram no controle das manifestações.

Depois de o presidente Maduro suspender o serviço de metrô e ônibus nas zonas opositoras do leste de Caracas — medida que foi revogada 24 horas depois —, ontem o ministro de Petróleo e Minas, Rafael Ramírez, anunciou que estuda outra manobra de controle social: o corte do fornecimento de gasolina “às zonas sob o assédio de bandas fascistas”. Enquanto os confrontos continuavam, o mais temível adversário do regime de Maduro, a crise econômica, continuava intacta.

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Ewald Scharfenberg, do El País, em Caracas