Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

No caso da escuta ilegal, Murdoch leva a melhor

Os vereditos do julgamento de escuta telefônica, quando finalmente saíram, três anos após o fechamento do jornal News of the World (NotW), foram melhores para Rupert Murdoch do que para o premiê David Cameron, do Reino Unido, que se deixou atrair para a órbita do magnata da mídia.

Rebekah Brooks, a ré mais próxima de Murdoch – e que continua próxima – foi inocentada de todas as acusações, enquanto Andy Coulson, secretário de imprensa de Cameron até a irrupção do escândalo de grampo, foi condenado no Old Bailey, o tribunal penal central de Londres, de associação criminosa para interceptar mensagens de correio de voz.

Cameron apresentou o pedido de desculpas que tinha prometido caso Coulson fosse julgado culpado. Murdoch, que disse a uma comissão da Câmara dos Comuns (a câmara baixa do Legislativo britânico), dois anos atrás, “este é o dia mais miserável da minha vida”, ficou invisível.

Não apenas Rebekah, ex-principal executiva da News International e editora do NotW, foi inocentada pelo júri, juntamente com Charlie Brooks, seu marido, como o império de Murdoch progrediu. O NotW foi sucedido pelo Sun on Sunday e Murdoch voltou a fechar negócios.

O escândalo começou com explosões sísmicas – a revelação, no jornal The Guardian, de que o NotW fez escutas ilegais no telefone da adolescente desaparecida Milly Dowler, seguida pelo fechamento abrupto do jornal. Mas parece estar terminando com lamúrias. O tribunal não chegou ao veredito pretendido pela promotoria.

O júri considerou que o conhecimento do grampo de aparelhos alcançou toda a hierarquia da empresa até Coulson, ex-editor do NotW. Mas outros réus foram absolvidos. Faltou aos vereditos o “fator choque” que poderia ter reenergizado a campanha por uma regulamentação mais independente da imprensa no Reino Unido.

Pessoas poderosas

O juiz Leveson, que conduziu uma sindicância pública sobre o comportamento da imprensa, defendeu em 2012 uma autorregulamentação mais rígida. Desde então, grupos de mídia como o News Corp, controlado por Murdoch, rejeitaram a Carta Real apoiada por políticos, e deverão lançar um novo instrumento de regulação que é criticado pelo grupo ativista Hacked Off.

Esses vereditos não deverão ter um impacto decisivo sobre essa discussão. Em vez disso, assim que o júri concluir suas deliberações sobre as acusações remanescentes, a briga vai continuar, com Murdoch e seu filho James, que foi engolfado pelo escândalo, mas que agora trabalha nos Estados Unidos, a uma distância segura.

A absolvição de Brooks é um marco para a News Corp., a empresa que detém ativos de jornais e de mídia impressa como o jornal The Wall Street Journal e a Editora HarperCollins. A News Corp foi separada no ano passado da 21st Century Fox, que detém a maior parte dos ativos de TV e entretenimento.

Esse desmembramento, em parte imposto a um relutante Murdoch por preocupações de investidores em torno do escândalo da escuta telefônica e do valor dos ativos impressos, aumentou o valor de seu império e permitiu a realização de negócios como a aquisição, por US$ 415 milhões, do grupo de publicação de livros Harlequin, no mês passado.

Os vereditos restringem os danos à reputação a vários jornalistas que trabalharam no NotW, poupando os executivos da News Corp. Eles também têm importância pessoal. Quando Murdoch viajou a Londres em meio ao escândalo e foi perguntado sobre sua maior prioridade, ele apontou para Rebekah Brooks e respondeu “Esta”.

Em vista do fechamento do NotW, do fracasso da tentativa de 2011 de sua News Corp. de adquirir a British Sky Broadcasting e do arrefecimento de sua influência política no Reino Unido, a absolvição de Rebekah custou um preço. Mas ele a considerará uma vitória mesmo assim.

Andy Coulson e Rebekah Brooks tiveram, em outros tempos, envolvimento amoroso, foram amigos e executivos de jornal do núcleo do império de mídia de Rupert Murdoch, e nos últimos sete meses ocuparam o mesmo banco dos réus no Old Bailey. Os ex-editores já fizeram parte do grupo de pessoas mais poderosas do Reino Unido. Agora se preparam para trilhar caminhos muito diferentes.

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John Gapper, do Financial Times