“Gostaria de estar trazendo algo assim como notícias de última hora”, comentou o ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, nesta terça-feira (01/07) no Global Media Forum (GMF), evento promovido pela DW na cidade de Bonn.
O chefe de pasta mostrava-se visivelmente decepcionado com a mais recente rodada de conversações entre a Ucrânia e a Rússia, a qual teve a participação da França e a Alemanha. Pois na noite da véspera esteve-se “bem pertinho” de um consenso “que nos teria concedido mais do que uma pausa para respirar”, lamentou.
Em seguida às negociações fracassadas, o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, cancelou o cessar-fogo nos combates entre as forças armadas nacionais e os separatistas pró-russos no combalido leste do país.
Steinmeier espera, no entanto, que seja possível encontrar uma solução diplomática nos próximos dias. Pois só através de negociações será possível evitar que continue o derramamento de sangue na Ucrânia. Um controle conjunto da fronteira russo-ucraniana pelas duas nações poderia evitar que armas vindas da Rússia continuem entrando na Ucrânia Oriental, disse o ministro.
Imagens velozes, política lenta
O chefe da diplomacia alemã pode não ter trazido notícias inéditas, mas mostrou ter um posicionamento definido em relação à internet e à realidade midiática na era digital. Ao preparar sua apresentação para o congresso de mídia, ele diz ter pensado nas seguintes linhas:
“Se eu quiser ser moderno, meu discurso só pode ter um título, que deve ser mais ou menos assim: ’15 facts about foreign policy, that will blow up your mind’ [15 fatos sobre política externa que vão te fazer pirar]. Mas a minha linguagem de Buzzfeed infelizmente ainda não está tão desenvolvida assim.”
O problema é, prosseguiu, que tanto a política quanto os meios online sofrem com a ditadura dos cliques. “A audiência medida em cliques precisa, acima de tudo, de uma coisa: imagens numerosas e imediatas. E nesse ponto eu temo um pouco que a política externa fique em desvantagem.”
As fotos, em parte drásticas, que diariamente chegam às pessoas através das câmeras de celulares e das redes sociais têm uma consequência fatal, ressaltou o ministro socialdemocrata. Elas criam uma expectativa: de que a fonte dos atos de crueldade mostrados seja retirada do caminho o mais rápido possível, não importa por que meios, “e, ao contrário dessa avalanche de imagens, os métodos da política externa parecem estranhamente lentos”.
A diplomacia não possui nem instrumentos de coerção nem poder de comando, mas depende de negociações que vão noite adentro, em quartos de hotéis – como foi o caso no encontro entre ucranianos e russos desta segunda-feira. Mas isso não rende boas fotos. O que significa que, em nosso acelerado universo midiático digital, os esforços pela paz impressionam bem menos a opinião pública do que as cruéis imagens da guerra.
Frank-Walter Steinmeier aludiu a mais um dilema: à medida que os conflitos se tornam cada vez mais complexos, cresce a necessidade de dividir o mundo em bom e mau, branco e preto. “Mas a realidade desse mundo complexo simplesmente não se deixa acomodar segundo critérios simplórios assim.”
O cinza da incerteza
Na crise da Ucrânia, isso se manifesta claramente: “Só preciso abrir minha página do Facebook para ver mais ou menos o quanto esse processo avançou. Toda vez que me posiciono sobre a política externa, vivencio sempre um duplo shitstorm: de um lado, aqueles que mostram em seus comentários que, para eles, o barulho das espadas nunca é alto o bastante. E do outro lado, os que me acusam de incitar à guerra.”
Segundo ele, uns o acusam de compreender e aceitar excessivamente os argumentos dos russos; outros, de apoiar os “fascistas em Kiev”. Ainda assim o ministro vê nas novas mídias uma grande chance: com a possibilidade de entrar em contato direto com os cidadãos nas redes sociais, ele também tem aprendido muito, afirma.
Por isso, apelou aos jornalistas para que façam jus à própria responsabilidade. “Não devemos cair na tentação de desenhar em preto-e-branco lá onde impera a cor cinza da incerteza. Ou onde simplesmente precisamos partir do princípio de que verdades conflitantes, realidades conflitantes, estão se combatendo – o que já descarta o preto-e-branco.”
Também na crise da Ucrânia, explicou Steinmeier, é preciso reconhecer que há diferentes pontos de vista, a partir dos quais se originaram as diferentes lembranças históricas.
Contudo, também por dois outros motivos a internet é um desafio para a política externa: por um lado, esta vive de fronteiras, enquanto a rede global não mais possui tais barreiras. Por outro, a competência da política externa continua sendo no âmbito dos Estados, enquanto há muito o controle sobre os dados informáticos está nas mãos de empresas privadas.
Tudo isso demonstra a necessidade de regras unificadas para uma rede digital global, completou Steinmeier no Global Media Forum. Por isso é necessário um debate consequente sobre o que está por trás das manchetes sobre o escândalo da NSA. Normas internacionais precisam, de um lado, garantir a liberdade na internet; do outro, a preservação da privacidade. [Edição Alexandre Schossler]
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Martin Muno, da Deutsche Welle