Friday, 08 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Inimigo da democracia

Conheci Miriam Leitão em 1982, quando cobrimos juntos a eleição daquele ano no Pará, ela como enviada especial de O Globo e eu como correspondente de O Estado de S.Paulo. Como foi uma fonte de prazer e de aprendizado acompanhá-la durante vários dias de trabalho, passei a admirá-la de forma crescente. Ela se tornou um dos jornalistas de maior e mais importante produção na imprensa diária do Brasil, na forma de jornal impresso ou pelas emissoras de rádio e televisão. É impossível ser bem informado sobre diversos temas, com ênfase nos econômicos, sem pelo menos ler a sua coluna diária no mesmo jornal onde estava mais de 30 anos atrás.

O coordenador-geral de produção e divulgação de informações do Palácio do Planalto, Fernando Ramos Silva, tentou macular a imagem de Miriam Leitão junto à opinião pública. Alterou fraudulentamente o perfil dela na internet para associá-la ao banqueiro Daniel Dantas, do grupo Opportunity, tingindo-a de parcialidade e comprometimento. A mesma tentativa atingiu Carlos Alberto Sardenberg, a quem passei a admirar durante o tempo em que trabalhamos juntos no Estadão, em São Paulo, e a quem respeito até hoje.

Miriam e Sardenberg são profissionais que encontrariam lugar – e honrariam – qualquer grande órgão da imprensa em qualquer lugar do mundo. Estão há tempo suficiente na estrada para não serem atingidos pelas pedras atiradas pelo burocrata brasiliense, que se voltaram contra ele como se fossem bumerangues fora de controle.

Democracia frágil

O golpe não deu certo, mas não deixou de ser uma tentativa de golpe contra a liberdade de expressão, a diversidade de pensamento e o exercício independente da profissão de jornalista. Se essa fraude não deu certo, outra iniciativa da mesma qualidade acabou resultando na demissão de um técnico do banco Santander que simplesmente se expressou como analista do mercado financeiro.

Como sempre, o mensageiro das más notícias é a primeira vítima do combate. Para a sociedade brasileira e para sua ainda frágil democracia, o que interessa é saber se a notícia é verdadeira. Se boa ou ruim, cabe aos destinatários a avaliação. Quem busca interromper esse fluxo é um inimigo da democracia e como tal deve ser tratado.

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Lúcio Flávio Pinto é jornalista, editor do Jornal Pessoal (Belém, PA)