Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Momento para conscientização ou mais um caso de racismo?

O caso generalizado de racismo no jogo entre Grêmio e Santos (quinta-feira, 28/8) suscita questionamentos sobre a luta contra o preconceito em tempos de ódio gratuito e publicidades oportunistas. No início deste ano, o alvo foi o lateral Daniel Alves. No fim de agosto, o goleiro Aranha. O noticiário sobre racismo nos estádios se tornou comum. Não é novidade que esse tipo de manifestação preconceituosa ocorra no ambiente esportivo. Não é restrito, no entanto, a esse meio. O racismo no Brasil existe e, pior do que antes, se camufla em desculpas.

O brasileiro, em geral, não assume sua natureza racista enraizada pelo passado escravista. Mas o fato é que pessoas de pele negra ou parda ganham quase metade do salário de pessoas de pele branca. É o que afirmou a pesquisa de emprego divulgada em 2013 pelo IBGE. Enquanto trabalhadores brancos ganham, em média, R$ 2.396,74, os negros recebem apenas R$ 1.374,79 (ver aqui).

Por que a menina na arquibancada se destacou tanto diante de um grupo extenso de torcedores que adotaram a mesma postura naquele momento do jogo? O papel da imagem no jornalismo foi crucial para as investigações da polícia e para a repercussão na internet. A torcedora tem estampado diariamente as primeiras páginas dos portais de notícia da web e ocupa minutos de diversos jornais televisivos. O público, por sua vez, detona a jovem com doses de mais preconceito. Comentários machistas, ameaças de estupro e outros descalabros foram emitidos nas redes sociais. E aí revela­se o ciclo de preconceito velado na sociedade, que começou com o racismo e despontou para o machismo e sabe­se lá o que mais.

Propaganda disfarçada de boas intenções

Diante de tamanha repercussão, muitos acreditam que através de punições o racismo possa ser combatido pouco a pouco, como afirmou o jogador Aranha em comunicado oficial após o episódio. Seria o poder coercitivo agindo para mudar determinado revés de valores. E justo nessa tentativa, o que se viu foi descaso. Ou melhor, preguiça. Mais uma prova de que pouco importa essa história de racismo no Brasil. No julgamento do STJD que decidiria o futuro do Grêmio na competição, houve um festival de desinteresse com cochiladas e críticas ao rigor da lei (que, posteriormente, exclui o clube da Copa do Brasil; ver aqui e aqui).

Falta agora, assim como aconteceu com o caso de Daniel Alves, estrelas da televisão e do futebol emplacarem mais uma campanha publicitária em detrimento da causa. E é aí que reside a via de mão dupla quando se tenta manter na boca do povo determinada pauta. Se há comoção com o assunto, em seguida surge uma propaganda disfarçada de boas intenções.

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Carolina Viana Ramos é estudante de Jornalismo