Thursday, 07 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

A sensibilização do leitor como ferramenta de transformação

Os “Desafios da cobertura jornalística em situações de conflito armado e emergências”. Este foi o tema da mesa-redonda realizada pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), com o apoio do Sindicato de Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF), no auditório do Museu Nacional da República de Brasília na quinta-feira (11/09). A importância do jornalismo como ferramenta de engajamento dos leitores foi um dos temas abordados. Com a participação de jornalistas de alguns dos maiores veículos do país, assessores e estudantes, o encontro faz parte da programação da mostra “Assistência à saúde em Perigo: Líbia e Somália no olhar de André Liohn”, exibida no Museu até o dia 12 de outubro.

Entre os debatedores estiveram presentes profissionais brasileiros com ampla experiência no tema: o fotojornalista independente André Liohn e a repórter especial do jornal O Estado de S.Paulo Adriana Carranca. Sílvio Queiroz, editor assistente da editoria de Mundo do jornal Correio Braziliense, mediou a conversa. A mesa foi apresentada por Sandra Lefcovich, coordenadora de Comunicação do CICV. O fotógrafo do jornal Folha de S.Paulo e diretor do SJPDF Alan Marques abriu o debate, afirmando que o trabalho do jornalista que atua em áreas de conflito é fundamental para que o público saiba o que está acontecendo no mundo, como aquilo pode afetá-lo e, até mesmo, conscientizá-lo de que o mesmo pode estar ocorrendo em sua região.

“O que me move é conhecer a realidade de pessoas que vivem em áreas de conflito, como o Afeganistão ou a Colômbia, e oferecer ao leitor do jornal, que também é cidadão, informações que o levem ao engajamento social”, afirmou Adriana Carranca. A jornalista ressaltou que questões políticas ou econômicas não são o foco de seu trabalho. Ela afirmou que prefere mostrar como os conflitos armados afetam a população civil, pois assim as pessoas comuns podem se espelhar no sofrimento de mulheres, homens e crianças e se mobilizar para exigir dos governos, como o do Brasil, mecanismos que possam influenciar de alguma forma nas decisões que podem conduzir ao fim de um conflito ou, pelo menos, amenizar o sofrimento da população civil.

34 mortes de repórteres

André Liohn reforçou a importância de estimular os leitores ao engajamento social para a busca de soluções políticas que detenham ou diminuam os conflitos e a consequente tragédia humanitária que carregam na esteira da violência armada. “A fotografia em si não me interessa. Quero saber como as pessoas se sentem, vendo seus filhos crescerem em lugares onde há conflitos armados, como acontece na Somália, na Síria e na Líbia”, disse o fotojornalista independente.

Há 10 anos cobrindo conflitos armados pelo mundo, Liohn esteve em países da África, Ásia e Oriente Médio. Suas fotos foram publicadas por grandes veículos de alcance mundial, como o alemão Der Spiegel, o americano The New York Times, e o inglês The Guardian, além de jornais brasileiros. Ele ressalta a importância de sensibilizar os leitores e, com isso, despertar a consciência como forma de alertar as autoridades para necessidade de tomar medidas que protejam os civis e garantam o direito à assistência à saúde e o acesso a hospitais. Fotos de Liohn fazem parte da campanha global do CICV “Assistência à Saúde em Perigo”, que visa a tomar medidas e sensibilizar Estados e partes no conflito a fim de acabar com a violência contra profissionais e estabelecimentos de saúde.

Adriana Carranca lembrou que, em conflitos armados, muitos jornalistas são vítimas da violência de grupos armados, em especial, os profissionais que seus próprios países. Segundo o Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ), uma entidade não governamental com sede em Nova York (Estados Unidos), em 2014, foram registradas 34 mortes de repórteres em áreas de emergência.

O sofrimento das vítimas

Moderador do debate, o jornalista Sílvio Queiroz lembrou a todos os presentes da responsabilidade do jornalista em se preocupar com a sua própria segurança e com a das pessoas envolvidas em sua cobertura jornalística. Editor assistente no Correio Braziliense, Queiroz ressaltou o fato de o profissional de imprensa não precisarem se expor a situações de risco desnecessárias. “O jornalista que cobre situações de conflito deve ter em mente que tudo o que ele fizer no terreno irá gerar consequências para ele e para os outros, sejam civis ou não, sejam fontes ou guias locais.” “O ato de informar pode ser uma ferramenta de ativação social, mas também pode ser uma arma”, completou.

No encerramento, Sandra Lefcovich lembrou a importância do trabalho de Liohn e Carranca, ao focarem suas coberturas no sofrimento das vítimas dos conflitos. Para o CICV, é importante comunicar sobre o custo humano dos conflitos. Segunda-feira, dia 15, e terça-feira, dia 16, o debate continua na oficina sobre Jornalismo em Conflitos Armados e Outras Situações de Violência, no auditório do Sindicato de Jornalistas Profissionais do Distrito Federal.

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Sandra Lefcovich é jornalista